Epílogo - O doce perfume da primavera

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Jeremy ficava uma graça naquele shortinho estampado com pardais. Ele estava sem camiseta, e o peitoral branquelo refletia a claridade do sol, enquanto com os pés atolados dentro da água, lançava adiante o anzol, aguardando a boa ação do rio em fornecê-lo um pescado.

Tudo ao redor era natureza. Flores desabrochavam por toda a mata, e grilos pulavam no gramado, ocultando-se entre os arbustos e arvoredos.

— Você precisa ter paciência Jer, se quiser pegar um grande — Deitado na grama, sob uma árvore de galhos baixos, Dan retrucou meneando a cabeça, percebendo o baixinho respirar fundo e lançar o anzol novamente, esperançoso. Então, virou o rosto e fixou a face do rapaz deitado ao seu lado, que com os pensamentos distantes, observava Jeremy nas margens afastadas.

Marlon ajeitou-se, sentando-se junto a ele.

— Você acha que no fim, eles conseguiram se acertar?

Dan umedeceu os lábios. Assim como Marlon, estava sem camiseta, já que por algum motivo não tinha vergonha de mostrar as marcas do acidente para ele.

Eles?

— Daniel e Charles — o garoto retrucou, ajeitando as pernas — Pense bem, o que eles viveram foi em uma época tão complicada, eu... não sei o que faria nesta situação.

Dan olhou para o distante um momento, fazia muito tempo desde que Saint-Michel ficara para trás, e agora moravam ali, às margens daquele rio, em uma casinha em meio ao mato que compraram com a herança deixada pelo tio falecido.

— No fundo eu acho que Charles compreendia Daniel, mas o medo os cegara por anos. Eu, acredito que terão a eternidade para se acertar.

Houve silêncio e Marlon observou algumas borboletas rodeando uma flor. A presença de Dan era confortante, e mesmo que nunca mais fossem os mesmos, sabia que com ele havia segurança. Marlon gostava de ficar ao seu lado, ouvi-lo falar, fazer piadas com alguma situação. Ele respirou fundo.

— Beterrabas mandou um cartão postal — disse, ajeitando-se melhor — Está na África, como sempre sonhou. Palência enviou-o em uma missão.

— Os leões certamente vão adorar aquelas bochechas vermelhas.

— Isso eu tenho certeza — brincou, fixando seu olhar. Ainda não sabiam como reagir àquela atração, então apenas deixavam rolar naturalmente.

Eles deslizaram os dedos pelo gramado, e como na noite em que passaram nas masmorras, deixaram-nos se enlaçar, voltando a observar Jeremy no distante. Quando a pele de Marlon tocava a pele de Dan, era como se nada mais existisse, e apenas os dois navegassem tranquilamente por um barquinho nas águas calmas de um rio.

Ele se virou, os olhos passeando pelas marcas deixadas pelo fogo.

— Você o culpa? — questionou, umedecendo os lábios — Digo, pelo acidente?

— Eu, não sei o que pensar — Dan ofegou, a brisa soprando sobre eles, trazendo o doce perfume das flores — Mas também procuro não refletir muito, isto é algo que foge nossa compreensão, então... por que viver o passado, quando podemos aproveitar o presente?

Marlon olhou para frente, para o lago. Olhou para um Jeremy sorridente a encarar a água, e agora, puxando o anzol com toda força, exclamar com alegria:

— Dan, corre... veja isto, é um dos grandes.

Dan Mason outra vez trocou olhares com Marlon Gayler, e curvando-se rapidamente, deu-lhe um selinho na testa e se levantou.

Ainda com a sensação do toque cálido, Marlon ficou um instante apreciando a brisa, e quando abriu os olhos, o viu descendo o gramado em direção ao lago. Lá embaixo eles sorriam, puxando a vara de pescar, e quando o peixe projetou-se ante o rio, balançando intensamente, Marlon se ajeitou, deitando a observar a folhagem.

A árvore sobre a cabeça estava cheia de flores amarelas, e embora soubesse que nunca esqueceria todo o trauma que passou, ali ao menos havia paz.

Sim — ele murmurou baixinho, fechando os olhos — Isso é o que importava. Que finalmente, distante de tudo aquilo que os prendia, juntos podiam construir um ambiente de paz.

O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora