Monastério Saint-Michel. Primavera de 1995.
O furor no rosto do padre era notável. À sua frente, Augustos Widmore, o frei que ele vira crescer, o frei que ele considerava como um filho e por isso tinha sua total confiança, permanecia impassível com um garoto parado ao lado. Era claro que o diretor de Saint-Michel conhecia aquele rosto tímido, ele não era tolo, e se o segredo de Augustos chegara até ali, fora porque ele mesmo pensara ser melhor fingir que de nada sabia, e esperar que a velha Beauvoir tivesse a decência de enviar a filha e sua cria para longe do vilarejo.
Desde o escândalo da relação proibida entre frei e cortesã, ele mantinha os olhos sobre a família vinte e quatro horas, a fim de manter os murmúrios distantes de seus muros. Fora demais já ter que explicar a Europeus sobre o pecado de seu braço direito, e se alguém soubesse que deste pecado nascera um filho, certamente o bispo o destituiria do cargo e em seu lugar colocaria seu arquirrival, frei Lúcios, o professor mais velho de Saint-Michel, que sempre rivalizara com a liderança instituída.
Mas agora, tudo o que ocultou por quinze anos, aparando cuidadosamente aresta por aresta, desfazia em suas mãos como um tecido que descostura, e ele precisava fazer algo, mas não sabia o quê.
Apenas procurou agir da forma menos evasiva possível, e com um sorriso, desmontou a feição desafiadora do corcunda, ao dirigir-se amavelmente àquele que o acompanhava.
— Rapazinho, por que não espera um momento lá fora enquanto os adultos conversam? — disse para o garoto que viera junto a Widmore, observando-o trocar olhares com o homem. Então, sob um gesto de cabeça, o viu tomar a mochila e seguir para o corredor, recostando a porta.
— Não havia o que você esconder Augustos, nunca houve na realidade — ele fez uma pausa quando se encontraram sozinho. Na diretoria banhada pelos raios do sol, o padre respirou fundo tornando ao frei que fugira durante a madrugada, a fim de acompanhar o enterro, e retornara com o rapaz. Então prosseguiu — Eu sempre soube sobre o garoto, a existência de um fruto de seu erro nunca foi alheia a mim.
Widmore pareceu perplexo ao ouvi-lo falar daquela forma, sua expressão era de confusão, e dando uma volta para trás de sua mesa, o padre sentou-se e o convidou a se sentar. Ele o fez.
— Então, todo este tempo...
— Sim. Você achou que Madame Beauvoir o odiou apenas por desvirtuar a filha dela? — o padre o interpelou, e Widmore o fixou em confusão — Não Widmore, ela sabia da gravidez, e sabia as implicações que tudo isto tinha, então, como único responsável por você, foi a mim que ela procurou, a fim de que assumisse as consequências do ato.
— Mas Beauvoir nunca...
— E para quê a velha alcoviteira entraria em acordo com você? O que um frei vindo das periferias da Inglaterra teria para oferecê-la? Seus serviços? Orações? — o padre resmungou, franzindo o cenho — Dinheiro Widmore, ele compra tudo. O dinheiro paga todas as coisas. Compra o silêncio de avós avarentas, principalmente quando estão acostumadas a uma vida de luxos, e não desejam que a filha seja mal vista, com a reputação que elas mesmas tiveram um dia.
— Então, está me dizendo que...
— Durante quinze anos eu paguei pelo silêncio de Beauvoir. Durante quinze anos seu bordel e vida de luxo foram sustentados pelo monastério — aquilo enfurecia o diretor, e Widmore sabia disto — Você achou o quê? Que ela nunca exigiu sua presença como pai porque simplesmente é uma mulher independente? Não, não seja tolo Widmore, Beauvoir estava amargando dias ruins e viu na situação um meio de lucro. Beauvoir é uma velha interesseira e sem escrúpulos, e você, um tolo por ter pensado em suas boas intenções. A paixão cega os homens, e eu o avisei.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...