twenty three

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Eu estava sentada a dez minutos no chão, chorando e encarando o homem que agora pouco eu estava em seus braços, dormindo com uma expressão relaxada.
Eu não acredito que eu fiz isso. Não novamente. Eu novamente, pequei. Meu deus, eu vou pro inferno. Eu de novo me deixei levar pela luxúria, pelo pedaço de pecado que dormia em minha frente.

O sentimento de culpa invadia meu corpo, e o que mais me assustava era que de todos os sentimentos que eu sentia, eu não sentia o principal: arrependimento.

Eu não sentia um pingo de arrependimento sequer. E era isso que estava me perturbando. Porque diabos eu não conseguia me arrepender do que eu tinha feito, mais eu sentia culpa?
Meu coração não queria me deixar ir embora. Ele estava insistente, ele dizia que eu deveria voltar para a cama e deitar nós braços do homem que eu...

Dispensei aquela palavra que apareceu tão clara na minha mente. Eu não iria admitir pra mim mesma, eu não queria isso agora. Eu não queria ter que fazer isso agora.

Minha consciência, diferente do meu coração, me dizia para fugir dali o mais rápido possível. Ela dizia que eu sabia muito bem que aquilo não era certo. Que eu deixei o meu homem em casa dormindo e sai para trai-lo.

Nós não brigamos. Eu não estava bêbada. Eu fiz porque eu quis e era isso que estava pesando. Eu traí o meu namorado por livre e espontânea vontade. Por puro desejo. E isso era a coisa mais horrível que eu já havia feito em toda a minha vida. Como ele ficaria se descobrisse isso? Bem, ele não vai. Porque? Porque eu sou uma boa mentirosa. E isso também é a pior coisa que eu faço: mentir.

Eu minto o tempo todo. E eu me sinto horrível por isso o tempo todo, também.

Por outro lado; meu coração estava pensando em Ryan. Como ele ficaria ao acordar e não me ver ali? Ele deve achar que eu apenas o usei. Mas não foi isso, foi bem mais que isso. Eu realmente gostaria de ficar ao lado dele hoje, passar o dia juntinhos, abraçados. Mas eu não posso. Eu sou uma mulher comprometida, e não é com ele.

Eu sou covarde. Eu não quero contar a ele que eu minto desde que nos conhecemos. O melhor vai ser eu evitar para sempre isso, mesmo que seja o meu desejo. Eu tenho medo de tudo, o tempo todo eu me sinto amedrontada, eu tenho medo de perder os dois, que eu tenho medo de acabar me perdendo nessa história toda.

Eu me levantei, com meus olhos transbordando com lágrimas. Peguei uma calça moletom dele e vesti, juntamente com um moletom. Eu iria com a roupa dele direto para minha casa. Eu não poderia aparecer assim para Austin, ele me mataria.

Enquanto eu tentava controlar uma possível crise de pânico quando o peso no consciência aumentou, eu lembrei que não podia ir embora sem ao menos o deixar uma explicação. Eu não iria dizer o motivo da minha ida, apenas umas breves palavras que eu espero, de coração, que o mesmo entenda.
Lembrei que ele guardou o seu caderninho dentro da gaveta e eu fui até lá.

Tirei o pequeno caderno branco que por dentro era decorado por adesivos coloridos, dentro da mesma gaveta eu achei um lápis. Em um pedaço de papel escrevi breves palavras e então, sai dali rapidamente. Eu não li nada que tinha ali, mais pela estrutura do texto parecia uma música. Porém, um pequeno detalhe estava me incomodando.

Peter.

Eu conheço esse nome e essa letra. Eu também conheço esses adesivos. Deve ser apenas coincidência, impossível ser ele. Resolvi ignorar isso e continuar a fazer o que estava fazendo.

O olhei pela última vez e funguei, me aproximando, dando um beijinho em sua testa e acariciando sua bochecha. Respirei fundo, quase desistindo da ideia de ir embora, porém antes que isso acontecesse eu saí dali rapidamente.

Particular Taste • HIATUSWhere stories live. Discover now