PARTE XXV

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Tem seu carro, tem sua casa, seu dinheiro pra pagar.

Acordei tarde, era sábado e eu só pegava no trabalho depois das duas da tarde. Levantei de pijama, cocei a cabeça, fui até o banheiro fiz a higiene, depois fui pra cozinha e fiz panquecas, sentei-me de frente a TV e comecei a comer, panqueca com Nescau foi a pior combinação da minha vida.

Depois já fui pro banho começar a me arrumar, coloquei um salto cor parda, um vestido branco com detalhes azuis, passei o pente no cabelo, prendi o Bob na corrente, verifiquei água e comida. Peguei o celular e a bolsa, tirei o carro da garagem e fui em direção ao Centro do Rio.

Parei no sinal, mexi no celular, olhei pro sinal, olhei pro lado esquerdo, tinha um ônibus enorme, eu tava mascando um Chicletinho na boa, saia muitos homens do ônibus, uns com prancha de surf, outros com equipamentos de som, de repente, me sai um magrinho cheio de tatuagem, engasguei, comecei a tossir sem parar, engoli o chiclete, posicionei as mãos no volante e dei partida rapidamente.

Meu coração acelerado voltou a lembrar do Daniel. Estacionei na garagem do restaurante, peguei a bolsa e desci do carro.

Entrei no restaurante, guardei minha bolsa no armário, permaneci com o celular, sentei-me no banco atrás do caixa

Passei a mão na testa e afundei a cabeça no caixa.

- Dondoca, tá de ressaca?

Era o Alan, ele trabalhava de garçom, fora que era um gato.

- NÃO! - ronronei, saiu um gruido monstruoso.

- Ainda bem, preciso de você inteira. - levantei a cabeça e o olhei rindo.

- Como assim?

- Quer sair pra jantar comigo hoje? - fiz careta.

- Meio clichê pra nós que trabalhamos num restaurante. - gargalhei e revirei os olhos. Enquanto ele me olhava seríssimos. - Desculpa, não foi assim que eu quis dizer...

- Não... Tá legal, eu já entendi. - ele prendeu os lábios e se virou.

- Calma ai, Alan. - ele voltou sorrindo - Que tal a gente dar uma volta na Lagoa? - sorri.

- Tá OK. Te pego que horas?

- Não... Eu te busco na sua casa...

- Tem certeza?

- Claro, deixa de ser machista. - sorri e empurrei ele, ele sorriu de volta e voltou a trabalhar.

Como eu trabalhava com o caixa do restaurante, quase não parava nem pra ir no banheiro, fiquei de duas da tarde até às nove e meia da noite trabalhando. O Alan toda hora tocava no assunto, acho que ele achou um milagre, a maioria dos cozinheiros já tinham me chamado pra sair e eu nunca vi nada de interessante neles e olha que uns eram mais gatos do que o Alan.

Fui pra casa cansadona. Entrei e acendi as luzes, fui direto pro banho, tomei um banho rapidinho, coloquei uma leggin, uma jaqueta, blusa azul bebê e uma rasteirinha branca. Entrei no carro e fui pra casa do Alan. Buzinei umas 4 vezes.

Ele veio, parecia que a mãe dele que tinha vestido ele. Uma calça jeans, um tênis da Lacoste, - odeio tênis da Lacoste - uma blusa social (?) e o cabelo arrepiadinho.

Ele entrou e eu comecei a rir do nada, liguei o som num dos meus raps pra poder abafar o silêncio.

- Ana, posso te fazer uma pergunta?

- Depois dessa ou outra?

- Outra... - ele riu.

- Pode...

- Você me acha legal? - nossa, eu não acredito, esse cara não existe.

- Acho, você é uma boa pessoal. - fiz um cara de consolo.

Pra que ele me perguntou isso eu não sei, ele era muito sem assunto e na maioria das vezes abriu a boca pra falar coisas que ninguém mais entendia.

Chegamos na lagoa e fomos direto pra umas barraquinhas, sentamos na cadeira e pedimos churrasco.

- E ai, Alan... O que você gosta de fazer?

- Prefiro ler do que pessoas.

- Gênio, eu prefiro comida. - ele riu.

E a conversa foi fluindo, ele nem era tão chato assim.

Andamos de bicicleta, rimos das pessoas, bebemos suco fruta e no final ele ainda queria beijo.

Pior de tudo, ele pediu pra me beijar, ele não teve nenhuma atitude, me senti uma adolescente.

- Alan, é a primeira vez que saímos...

- E o que isso tem? Quando os dois querem qual o problema?

- Então, acontece que eu não quero.

Ele em olhou com uma cara de depressão pura.

- Você também, Ana, não faz nada. Não vive, não quer nada com ninguém, não se apaixona, não acredita em ninguém, mora sozinha e vive se escondendo. O que você quer?

Eu me senti pequenininha, nem soube responder. Quieta estava, quieta fiquei. Era a pergunta que eu precisava ouvir... "O que você quer?"

- Melhor a gente ir andando... - me virei, passei perto do lixo e joguei o suco fora. Fui andando pro carro. Entre e liguei.

- Ana, pode ir. Vou ficar aqui mais um tempo, você precisa pensar também.

Eu nem respondi. Passei a marcha e o deixei lá.

O que você quer?
Eu?
É.
Daniel.

linda, louca & mimada [1]  - Caroline RaiccoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora