PARTE IX

6.8K 276 3
                                    

Parei, praticamente, a minha vida por causa do Daniel. Pena que as férias estavam acabando, então eu veria ele bem menos.
Mas já dizia Racionais Mc's; a mente guarda o que o coração tenta esquecer.
Contagem regressiva pras aulas voltarem e isso me dava pouco tempo pra matar a saudade do Daniel.
Apareci em casa na manhã seguinte e contei tudo pra minha mãe.

- Mãe, tô saindo com um cara...

- Ele estuda? - perguntou meio desconfiada.

- Já terminou! - acabei dando indício de que seria um pouco mais velhos.

- Nossa, ele tem quantos anos? - disse cabulosa.

- Ele não é tão velho... Tem vinte anos.

- Você só tem dezessete, tem que namorar alguém da sua idade!

- Tipo quem? Júlio, Miguel ou Alan? São todos meninos mãe, eu namoro um homem. Entende?

- Hum, só tenha responsabilidade. Devia apresentar ele pra nós.

- Nós?

- É, eu e seu pai. - travei.

- Vou pedir pra ele ser gentil com meu pai. Ninguém suporta ele. - respirei fundo e atravessei a sala, onde ele estava sentando vendo TV e bebendo cerveja. Odeio esse jeito dele!

Deitada na cama, sem medir as horas, fiquei pensando no que fazer. Aproveitei que ainda estava de dia e decidi usar minha antiga prancha.
Desci até o porão de casa, apertadinho e bagunçado. Passei a mão na velha prancha da Roxy, tirei a poeira com a mão e levei ela pra cima, lá na varanda dei uma limpeda nela. Um pano úmido me ajudou bastante, estava em boas condições, não precisaria passar parafina e nem polir.
Peguei os fones, aumentei um Jazz no som, com a prancha de baixo dos braços fui em direção da praia, com aquele troço gigantesco dentro do ônibus.
Fazia um tempo que não pegava nela, estava até meio sem jeito.

Cravei a prancha na areia, tirei a roupa e fiquei de biquíni, deixei as havaianas num canto onde eu olharia de longe, enrolei o celular nas roupas, peguei a prancha e parti pra água gelada da Barra.
Como disse, adorava sair por ai sozinha, então nem me importava.
Coloquei a prancha na frente e fui remando de peito. Tinha bastante gente na água, então eu não pude ficar sozinha pensando. Merda!
Penei pra chegar no fundo, onde as ondas não quebravam, sentei na ponta da prancha e observei a água. Senti um abraço da natureza e controlei as emoções.
Provavelmente ele soltaria uma daquelas: "vou entrar com minha prancha na sua praia"
É, exatamente, duplo sentido mas engraçadinho.

- E aí, moça! - era uma melodia saindo em forma de voz.

- E aí. - olhei pro lado assustada até cair em sí ao ver o moreno.

- Nunca vi uma mina surfista tão bonita assim! - me analisou mas não de forma sadica.

- Cantada barata... - sorri sem graça e disse entre os dentes.

- Mas você riu, sinal que alguma coisa te abalou... - ele riu de volta.

- É, você me fez lembrar um amigo. - Daniel me vinha na cabeça toda hora.

- Temos que nos conhecer mais, então.

- Ah, amiguinho. Discordo. - ri de novo.

- Tudo bem... Mas o que tá fazendo aqui sozinha?

- Pensando. É bom pensar.

- É, depende no que...

- A gente acha que depende de muito até achar um real motivo.

- Eu nem sei mais do que estamos falando! - gargalhamos juntos

- Desculpa... Qual seu nome?

- Júlio e o seu?

linda, louca & mimada [1]  - Caroline RaiccoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora