PARTE IV

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Adivinha quem voltou pra casa sem beijar na boca? Exatamente, não foi eu!

Entrada de emergência foi usada novamente, aquela janela apertada de sempre. Dormi como uma criança, cansada de brincar de pique esconde, mas nem deixei meu número pra ele, agora me sinto culpada. Eu não sei, mas a noite inteira senti alguém comigo, parecia que o sonho foi tão real ou as marcas da noite passada me deixou em transe.

Depois de fazer minha higiene, decidi rabiscar meu corpo mais uma vez e foi o que eu fiz. Quando meus olhos piscaram já estava no Studio, com mais tatuagens amostras, cada uma dava um infarto no meu pai.

— Ana, essa ficou o máximo! - Vanderlei era gente boa, incrivelmente incrível.

— Culpa do tatuador foda que eu tenho!

Parecia que minha mãe sentia o cheiro de tatuagem de longe! Assim que entrei pela porta de frente, ela ja estava no sofá, pronta pra falar todo aquele sermão de novo.

— Ana?! Onde você quer parar? Vai virar um gibi? Você só tem 16 anos, imagina aos 20!

— Mãe... - respirei fundo e contei até três. - Eu gosto disso, mas vou tentar segurar a ondinha...

E ela nem respondeu e nem devia, eu não queria entender. Eu nunca quero. Liguei o som alto ouvindo meus raps românticos, já que eu não conseguia ouvir outra coisa que não me fizesse pensar no D.
O celular, na cabeceira da cama, apitou e eu fui correndo imediatamente.

- Ana?

- Oi?!

- Até que enfim encontrei o seu whatsapp!

- Nossa, me procurou tanto assim? Devo ser muito importante... rs

- Pra mim vc é! Espero que eu esteja sendo pra você também.

- Depende... Você é o Daniel?

Eu juro que falei sem pensar, eu nem queria dizer aquilo.

- Eu sou! Ainda bem...rs Vai fazer o que hoje?

- Hum, vou te adicionar aqui no wpp então. Eu não vou fazer nada...pq?

- Ia te chamar pra sair, mas não sei...talvez vc já possa estar enjoada!!

- Tá de sacanagem né? Enjoar e vc na mesma frase não tem nada a vê.

- Kkkkkkkkk é, então, quer ir pra onde?

- Ah não sei Niel, me surpreenda...

- Vou fazer o possível. Até às 21 horas?

- Se minha mãe deixar... Kkkkkkkk brincadeira, até lá... Na praça?

- Boba! Com certeza. Até bjs

Eu não acredito, quem deu meu número pra ele? Amigos em comum? Ai... Lá vem bomba!
Sabe, eu não quero me apaixonar por ele, tomara que seja apenas mais um. Imagina, que horror eu me apegar?
Justamente por isso, decidi que não iria me encontrar com o Daniel!

— Ana! - ouvi meu pai rosnando. - ANA!

— Oi? Cheguei...pra que tudo isso? - fui até a cozinha em busca do grito de nervoso.

— Você esta andando com a Clara de novo?! - os olhos dele pareciam panelas de pressão, pronto pra explodir.

— Eu sempre andei com ela, o que aconteceu? -revirei os olhos, escorei na parede e fiquei de braços cruzados vendo aquele circo.

— Ela não é uma pessoa pra você, Ana! - ele gritava, parecia com bastante raiva.

— E quem é você pra julgar os outros? - minha mãe se assustou com o que disse e suas mãos foram até sua boca. Os olhos do meu pai pareciam sair fogo. Minha respiração ficou ofegante.

— Eu sou seu pai! - e o seu dedo gordo aponto diretamente pro meu rosto.

— Só que você nunca se importou com isso! - segurei o dedo dele e abaixei - Você não tem moral pra falar de ninguém, "pai". - fiz as aspas com as mãos e dei as costas pra ele.

Subi pro quarto e lá vai eu de novo me arrumando pra sair, eu ia fugir daquele lugar um dia sem dar satisfações. Tive tempo o suficiente pra me arrumar, ainda bem, dessa vez não ia sair igual uma doida por ai. Coloquei minha gargantilha da sorte e rezei pra que naquela noite desse tudo certo!
Passei a chave na porta do quarto, só pra ter certeza de quem ninguém iria entrar e não me encontrar. Deixei o som no médio e sai bem rápido pela janela, sem pensar duas vezes.
E lá vai eu pela cidade.
Cheguei um pouco antecipada do que o Daniel, então fiquei esperando dar a hora certa, sentei e comecei a ver as modas. Eu não iria vir, mas pelo andar da carruagem, foi a única saída pra dar o fora de casa!
Eram 21:23 e nada do Daniel. Comecei a achar que levei um toco. O que não era tão épico na minha vida! Pior de tudo foi o que disse "me surpreenda" e tá aí, surpreendeu mesmo. Intensamente. Já estava quase desistindo quando vi que faltava 5 pras 22 horas.

- Clara? - falei baixinho, de bico. Choramingando pelo celular.

- Alô? Quem é? - disse de volta meio perdida na ligação.

- Ana, amor. Você tava dormindo? Desculpa! - balancei a cabeça negativamente.

- Ah, não. Só tava deitada... Mas fala aí.

- Tô na praça, você tá em casa, né?

- Aham. Aconteceu alguma coisa? - disse preocupada.

- Tomei um toco, Clara. Quer sair? - eu ouvi sua risada do outro lado, não foi sarcástica.

- OK, chego ai em 20 minutos, Ana.

Dito e feito, 20 minutos e a Clara apareceu como um anjo. Ela era branquinha e de cabelos loiros então essa imagem combinava com ela.

— Quer ir pra onde, Ana? Pra me tirar da cama tem que ser um lugar bem foda!

— Adivinha? Show de rap do Oriente! - mostrei a tela do celular com o banner.

— Ah, tô dentro. - ela me abraçou e fomos andando em direção ao ponto de ônibus.

linda, louca & mimada [1]  - Caroline RaiccoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora