PARTE X

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Escrita por Daniel

Só quero pedir que as vagabundas não se ofendam, mas esse som eu fiz pra uma dama.

Cheguei da roda de rima cansado e fui dormir. Na manhã seguinte, de novo pão com mortadela!
Fui pro posto jogar uma sinuca, depois de muitas fichas ganhadas fiquei na larica de novo.

- Fala ai, parceiro! - apertei a mão de um amigo.

- E ai Jota, tranquilo?

Esse é Jean, um amigão.

- Roda de freestyle mais tarde?

- Ahhhh moleque, com certeza!

Esperando a noite cair, fiquei na rua dando rolê de longboard na orla de Nikit.
Parei no depósito de bebidas, a cerva geladinha 1,20! Cheguei em casa bargado, dei boa noite pra coroa que via novela na TV. Subi pro quarto já tomando banho. Enrolado com a toalha na cintura apertei um, escolhendo as roupas devagar e bem selecionadas.
Aumentei o som no Oriente, fui me vestindo e fazendo aquelas paradas todas, desodorante e perfume. Dei bença novamente a minha rainha e sai, disposto a ir pro Méier.
Já com os zoi vermelho dentro do busão, eu e Jean loucos, falando coisas nada vê. Descemos do ônibus já procurando cachaça, na fila da entrada encontramos alguns amigos antigos.

- Êh rapaziada! Tranquilidade? - falei cumprimentando todo mundo.

- E ai Jota, rimador profissa! - eu ri.

- Vai rimar hoje no palco pra nós? Vou te dar maior fé, moleque. - Jean me abraçou.

Começamos a discutir como seria a entrada, enfiei a mão no bolso e comecei a contar moeda.

- Tu é foda em, Jota. - gargalhei. - Fora a ID e o beck, só tem um conto no bolso!

Passamos minutos discutindo quem iria inteirar mais 9,50 pra mim entrar. Momento épico!
A mina da frente me puxou pelo braço do nada.

- Não precisa, deixa que eu vou pagar.

Beleza indescritível. Ela insistiu, por isso tentei não parecer machista e aceitei.
Já lá dentro paguei uma bebida pra ela, era o mínimo que eu poderia fazer! Fora que, tivemos um assunto legal, eu me aprofundei mais ainda na dela. O som do reggae enchia o lugar e eu filmava ela dançando, com um copo de RedBull na mão e toda estilosa, ela me levava molin.

- Mexeu contigo? - senti um cutucar no braço

- Com certeza, toda princesinha...

Depois de cansar do clima lá dentro, resolvi ficar do lado de fora, ia esperar ela sair. Tava rolando uma roda de rima lá fora, fiquei observando de longe. De repente, sai a princesa sozinha, abraçada em si mesma, me parecia tão sozinha. Fui atrás lentamente, não queria assustar ninguém.

- Ei! - ela se virou e sorriu.

- Oi!

- Queria tanto seu número.

- Você tem cara de que faz isso com todas... - ela riu.

- Pior que não. - aproximei junto do ouvido e ela caiu - Afinal, toda dama se amarra num vagabundo.

Ela riu e a imagem dela se desfez na noite.

- Vou guardar teu cheiro!

Juro que ouvi a risada dela. Voltei pra Nikit sozinho, perdi Jean de vista.
Cheguei em casa só pensando nela, deitado na cama, olhando pro teto, fantasiando as novelas, a censura não permite dizer o que acontecia.
Eu queria me concentrar nela. Mas que porra é essa? Marrenta, e eu nem sei o nome dela ainda. Como pode ser?

Respirei fundo e tentei dormir tranquilo.
Acordei era bem tarde, com dor de cabeça mas ainda lembrando do rosto da mina. Ela olhava dentro dos meus olhos, jogava o cabelo e ficava ainda mais charmosa.
Acorda Daniel!
Tomei um banho sagaz, sentei na minha mesinha de sempre, fiquei ligado nos meus freestyle, de cantinho e com o som na batida eu rimava de porta fechada, de frente ao espelho.

- Embalada ela dança, uma criança na madrugada, sua maquiagem, suas tatuagens são proteção, chamam a atenção que seu pai não pode dá-la. Não...... - grilei e sentei na beira da cama - Preciso ver ela de novo...

Coloquei minha bermuda jeans e peguei minha camisa da Tommy, joguei no ombro e saí de Niterói pro Méier em busca de algum sinal. Totalmente alucinado.
Terra do alcoolismo, cheguei no Méier. Atravessei a praça e duas ruas depois, meus olhos brilharam, era ela, entrando em um Studio de tatuagem. Encostei num carro vermelho, aguardei que ela saísse.
Depois de alguns minutos, um mauriçoca apareceu.

- Tira esse lombo do meu Golzinho, parceiro. - olhei pra trás e sai sem nem me importar com a ignorância dele.

- Presente! - falei sarcasticamente.

E nessas horas eu me pergunto, respeito pra que né? Deve ter deixado no porta-luvas.
Sentei na beira da calçada, fiquei ali por bastante tempo até que ela finalmente saiu. Ir atrás dela ou ir no Studio?
Nem pensei, subi pro Studio. Abri a porta e esperei na sala vermelha com alguns enfeites. Tinha duas meninas lá que ficaram me reparando, isso me incomoda.

- Todo tatuado... Vai se rabiscar mais a onde? - eu virei e sorri grandemente quando vi o Vanderlei.

- Qualé moleque, esse Studio é teu? Caralho! - olhei em volta - Parabéns cara, tu merece!

Dali trocamos varias idéias e ele reparou nas minhas tatuagens, ele insistiu pra tatuar uma coruja na minha batata da perna.

- To sem dinheiro mano, se não eu fechava contigo.

- Ta maluco? Vou fazer pela amizade mesmo. Tamo junto, irmão.

- Então já é. - lá foi eu tatuar uma coruja na batata da perna.

No final das contas até que ficou maneiro!

- Então, tá tudo bem?

- Ta mano, tudo tranquilo... - olhei em volta novamente - Mas ai, tinha uma mina que veio antes de mim...

- Ah, tô ligado. Ana e Clara.

- Não sei o nome dela. Bati de frente com ela na roda de rima ontem a noite. Só queria o telefone dela... - gargalhei, todo sem graça.

- Calma aí, vou ver no registro dela... - ele saiu da sala e depois de um tempo, voltou com o número dela em um papel.

A plenitude invade, só quem é moleque solto sabe!

linda, louca & mimada [1]  - Caroline RaiccoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora