PARTE XV

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Disfarçada de "direita", uma tremenda bandida.

Uma semana se passou e quase não vi o Niel. Voltei de férias e segui pra escola todos os dias, de segunda à sexta, e aos sábados meu cursinho...
Confesso que eu via o Júlio quase todo dia, eramos da mesma escola mas ele cursava o último ano e eu o penúltimo.
As vezes, raramente, recebias umas ligações do Daniel e é claro a cobrar.
Depois de ter marcado o jantar em família pro meu pai conhecer o Daniel, passei a andar ansiosa, com medo de algo dar errado. Conheço meu pai...
Marquei em um restaurante, já que "meu pai era um homem de negócios", tentei ser culta o suficiente pra impressioná-lo. Ia ser no sábado de noite.

O Júlio me cercava, me chamando pra sair, eu não queria. Aliás, já tinha dito que sim várias vezes e eu sempre furava. Coitado. Quem sabe na próxima?
Passou segunda, terça, quarta, quinta e sexta rapidinho, nem notei. Sábado acordei cansada, mole. Peguei o celular, fiquei parada olhando pra ele por um tempo.

- Alô? Daniel?

- Oi....

- Como você tá?

- Eu to tranquilão e você? - ouvi os risos dele.

- Bem também... Ah, marquei pra hoje o jantar com "você sabe quem". - ri.

- Tá tudo bem, eu vou ir. Não vou perder você por nada, gata...

- Vou te esperar às nove, depois te passo o endereço. Beijos!

- Aliás, tô despertado! - e gargalhou bem alto no fundo do telefone.

- Nada pode dar tão errado assim...

- É! Beijos!

Levantei, coloquei os óculos escuros, o biquíni, a prancha debaixo do braço e sai simpatizando com a praia.
Corri pra perto da água onde a areia era mais fresca, cravei a prancha no chão, olhei em volta e novamente aquela sensação... Como se o mundo não me devesse mais nada, sensação de estar em paz e só consegui sorrir.

Fiquei um tempo sentada na areia.

- Show......

- Oi! - me virei e era o Júlio.

- Tu parece uma pipa voada aqui!

- Não brinca...? Hoje tô assim...

- Bom ou ruim? - ele sorriu de lado.

- Meio a meio. Depende de como tudo rolar...

- Aham, entendi. - ele olhou pra baixo e mexeu na areia.

- Vou dar um mergulho! - e levantei, tirei a roupa, peguei a prancha e entrei pro mar.

Me concentrei em abraçar a natureza, pensei logo no Daniel, mas passou. Tentei imaginar como seria daqui pra frente, será que vai dar certo?
Fiquei na água até meus dedos enrugarem, tanto tempo que o Júlio ate desistiu de me esperar e foi embora. Eu queria ficar afastada, assim, de certas pessoas. Eu podia sair com o Júlio a qualquer momento se eu tirasse o Daniel da minha mente.
Eu queria me afastar dele, aliás, da maioria dos romances! Já fui muito magoada por isso não tenho dó.

Saí do mar arrastada pelas ondas, parei na areia de pé, me virei de volta pro mar, respirei fundo e pensei "não pira". Peguei as tralhas e fui pra casa.

- Ana? - Fechei a porta com o pé, encostando a prancha no canto da parede.

- Oi? - era o papai me chamando.

- Espero que seu namorado não tenha desistido.

- Ah não, claro que não. Ele não é desses! - passei direto por ele.

Ele queria me irritar mas eu não ia deixar. Quer fazer barulho na minha mente, não vou deixar ele entrar... Nem se bater 'toc toc'.
Vesti mil roupas até sair a melhor, e a decisão foi difícil, mas preferi um vestido que eu nunca tinha usado. Era preto, meio colado, minha rateirinha preta de camurça, me senti uma ogra ali dentro, aquilo nem combinava comigo...

Mas eu queria surpreender o meu pai, o Daniel e a minha mãe, eu queria mostrar que eu estava diferente por causa dele e ele diferente por causa de mim.
Esperei a hora certa pra sair do quarto, desci faltando uns 5 minutos.

- Tudo pronto? - meu pai disse, com uma camisa social e com cara de malvado.

- Vou sozinha. - sorri, tentando parecer agradável e sai pela porta, ia de ônibus. Não era tão longe mesmo.

Queria não depender dele, queria me virar sozinha, sempre foi assim. Hoje em dia não poderia ficar diferente.
Quando eu cheguei meu pai e minha mãe já estavam na mesa reservada e eu fui em direção ao mesmo. Sentei-me na cadeira e cruzei as pernas, sem conversa alguma permanecemos, eu só bebia água e meu pai se acabando no vinho.
Passou uns 10 minutos e vi Daniel na porta, já sorri e meu pai me olhou.

- Já tá atrasado... Achei que nem fosse vir! - gargalhou e fechou a cara.

Acenei e ele veio na minha direção, com aquele sorriso lindo! Beijou minha testa, cumprimentou meus pais de pé, sentou-se do meu lado, por de baixo da mesa a mão dele alisava minha coxa, e eu tentando parecer normal.

- Então, você estuda?

- Não, senhor... Quer dizer, já terminei.

- Aham. Ótimo. - e deu um gole no copo de vinho. - Quanto tempo estão juntos?

- Conheci ela no começo das férias...

- É? Aham.

Eu não agüentava mais aquela chatisse, meu pai fazia cara feia pro Daniel, mas olha... Dani me pareceu tão tranquilo que eu nem me incomodei.

- Você trabalha onde?

- Sou MC. - meu pai olhou com ironia.

E assim se fechou a noite, meu pai não falou mais nada a noite inteira, apenas comeu e pagou o garçom.
Eu e Daniel saímos na frente, eu subi em cima da calçada e ele ficou em baixo.

- Tô com saudades de você, Ana... - ele sussurrou enquanto me abraçava pela cintura.

- Eu também, me busca sábado no curso?

- Claro... Todos os sábados? - ele riu e eu também, deu um selinho e ouvi a porta do restaurante se abrir. Soltei Daniel imediatamente.

Meu pai pegou no meu braço, sem mais nem menos me afastei rapidamente do Daniel, e meu coração doeu pra caralho! Parecia que ia ser o fim de tudo o que eu vivi com ele.

linda, louca & mimada [1]  - Caroline RaiccoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora