Capítulo Trinta - Parte II

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– Talvez o velhote queria garantir que estaria preparado quando retornasse – ele sugeriu, um tanto desconfiado.

– Isso é mais armas do que nós podemos carregar. E se ele temia tanto o que iriamos encontrar, por que não nos ofereceu esse armamento ontem?

Era um ponto pertinente que também lhe fizera pensar. Assim lembrou-se do dia anterior, poucos minutos antes da embarcação encalhar nas pedras, Reyu avisou seu capitão que os barris tinham sido trazidos a superfície por Ken-Rhin, e se deveria trazer os caixotes junto.

– Porque ele sabia que não estávamos no local certo... – o ladrão concluiu. – Reyu perguntou ao capitão se deveria trazer esses caixotes. Hisaya respondeu que eles eram para quando encontrassem os barcos do povo perdido.

Viu Mia franzir seu cenho, e ao fundo, escutou passadas. Lucky se atirou para cima dela, deitando seu corpo no chão. A princesa arregalou os olhos ariscos e enrubesceu. Tentou empurrá-lo, mas o ladrão segurou suas mãos. Logo em seguida ele avistou, pelo canto do olho, Tsu-Nade surgir com um ar desconfiado que rapidamente se desfez, sendo tomada pela surpresa.

– Oh, você está aí. Nos perdoe por isso, o fogo que ela não gasta no dia a dia, surge todas as manhãs! – ele improvisou com humor, fazendo as ambas mulheres arregalarem os olhos.

Tsu-Nade mostrou-se constrangida, abaixou o olhar e pronunciou rapidamente:

– Se apressem! O barco ainda está encalhado e deveremos seguir pela ilha se quisermos encontrar o povo perdido.

E ligeiramente, partiu.

– Se isso não é um mau agouro, eu não sei o que é – ele replicou, saindo de cima dela.

Simultaneamente, Mia lhe deu um esmurro no braço.

– O que foi isso? – ela rosnou.

– Há algo errado. Precisamos descobrir o porquê essas armas foram escondidas e qual é a verdadeira intenção desses três. Então antes que você abrisse essa boca grande, eu encontrei uma bela desculpa para nossa demora.

Ele se pôs de pé, e estendeu a mão para ela, mas Mia recusou sua ajuda.

– Me fez passar por uma meretriz sem pudor!

– Perdoe-me, apenas fiquei um tanto nostálgico essa manhã. E inevitavelmente me lembrei do dia que você subiu no palco e deu um verdadeiro show – o ladrão deixou um sorriso de lado enfeitar o rosto. – Recarregue e afie suas flechas princesinha, devemos ir bem preparados hoje. Se desejamos morrer, ao menos que seja feito em grande estilo.

Como resposta, Mia revirou os olhos e partiu com os braços cruzados, e Lucky comtemplou seu rebolado.

V

Na álgida alvorada, os cinco viajantes já faziam uma caminhada esforçada e rigorosa sobre a areia afofada da praia. Carregavam mais peso em suas mochilas, entre odres cheios de água, frutos secos, pedaços de pães, e carne seca afogada no sal. Precisavam de energia e sustento se quisessem ter um dia mais proveitoso que o anterior.

Como a incerteza rodava os pensamentos sobre a vasta e desconhecida floresta, Lucky Berbatov tinha insistido para caminharem a beira mar. Mia tinha sentindo o tom implicante que carregavam suas palavras direcionadas para Hisaya, mas quando ela o apoiou, o capitão terminou por ceder. Se procuravam uma civilização que possuía barcos, e que sentia-se duvidosa da palavra do homem, o melhor que poderiam fazer era caminhar onde tinham uma completa visão do que lhes cercava.

Com os ouvidos sendo afagados pelo cantarolar do mar, caminharam pela areia durante três horas, até encontrarem um amontoado de rochas pontiagudas como as mesmas que tinham visto ao chegarem na ilha. Constatando a impossibilidade de atravessá-las, o grupo se viu obrigado a cortar caminho pela grande floresta. Mia observou a raivosa expressão de Berbatov ao ser contrariado pela natureza. Não sabia se tivera sido pela morte brutal de Reyu, pelo descobrimento das armas, mas o arqueiro parecia diferente. Sua altivez amortecida, e sua desconfiança intensificada.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Where stories live. Discover now