A resposta não veio como ele desejava, porém Jeremy sussurrou algo sofregamente que Marlon tivera a estranha impressão de compreender.
"Cuidado com ele" — o garoto dissera anestesiado, como se estivesse conversando com alguém em seus delírios — "Ele está aqui, você precisa acreditar em mim". — Afinal, sobre o que murmurava? — "Ele vai nos matar, a todos nós... por favor, acredite". — Marlon aproximou o ouvido ainda mais, quase que tocando os lábios do garoto. Aquelas coisas estranhas que ele sussurrava de alguma forma faziam-no sentir arrepios, e então ficou quietinho, tentando compreender. — "Ele está aqui, por favor, acredite em mim, acredite em mim".
O delírio de Jeremy foi ficando mais intenso conforme ele insistia naquela ideia sôfrega de que estavam sendo vigiados por alguém. Inevitavelmente Marlon recordou-se de si mesmo, na tarde em que desmaiara na horta e ficara acamado por dois dias. Ele também tivera pesadelos bastante reais, e pelo visto, não era o único a ter a mente afetada pelo monastério.
— Ei, Jeremy. Se acalme. Não há nada aqui, você vai ficar bem.
Respirava fundo quando afagou seu ombro, olhando ao redor. Agora, o coração ficava um pouco mais acelerado porque os gemidos tornavam-se mais intensos, assustados, agitados. Jeremy movia a cabeça lentamente para um lado e outro do travesseiro como se estivesse a lutar contra algo, e Marlon aproximou-se a acariciar sua testa, tentando acalmá-lo, apertando seu ombro por cima dos cobertores e sussurrando para que relaxasse, pois eram apenas delírios, nada mais. Porém, de repente, o garoto começou a ter uma forte crise, respirando com maior dificuldade, reverberando os sons roucos pelos pulmões, e a voz deixando os lábios cada vez mais assustada:
"Ele vai nos matar, a todos nós... a todos nós... cuidado... cuidado com ele".
Não adiantava. Marlon não podia fazer nada, os cabelos caíam por sobre o rosto, e Jeremy ainda a gemer, remexendo-se na cama. Enquanto tentava acalmá-lo, sussurrando ansioso, estremeceu ao ouvir o soar ríspido da voz conhecida vindo da outra lateral.
— Ei?! O que você está fazendo aqui?
Os olhos de Mason se encontraram com os dele. O rapaz havia despertado, e deixando a cadeira num impulso, agora, afastava as mãos de Marlon para longe do corpo do irmão, passando a massagear o peito vagarosamente, sussurrando, tentando acalmar o enfermo. Jeremy ainda persistia com seus murmúrios confusos e insistentes, mas aos poucos, ao toque familiar, a agitação foi passando, a segurança retornando, e os gemidos diminuindo, até restarem apenas sussurros. Marlon mantinha-se recostado à parede, atônito, observando tudo bastante preocupado. Soltou a respiração apenas quando Dan respirou fundo.
— Ele está bem? — questionou por fim, engolindo em seco. Ver Jeremy tendo aquela crise o levara de volta à manhã na sala de aula, quando por pouco o garoto não morrera sem ar.
— São apenas as crises por causa da febre, estão cada vez mais comuns. — Mason retrucou coçando os olhos que ardiam por haver acabado de acordar. E então, erguendo a cabeça, o fitou outra vez — E o que você veio fazer aqui? Não deveria estar dormindo? — resmungou caminhando em direção à cômoda onde os remédios de Jeremy se encontravam — Não tem medo de se esbarrar com Alex Cotton andando por aí? Desta vez eu não poderia salvá-lo Gayler.
Marlon engoliu em seco, surpreso com a calma do colega naquele momento. Sua arrogância passara, e isso significava apenas uma coisa: Dan ainda estava bastante cansado.
— Eu... bem — Gayler gaguejou observando-o voltar com um comprimido em mãos, na outra, um copo com água — Eu queria ver como vocês estavam, e...
— E esperou o quê? — Mason resmungou — Que iria chegar aqui e encontrar um milagre? — Marlon engoliu em seco, constrangido — Milagres não existem Marlon Gayler. Medicações, sim — o rapaz murmurou mostrando o comprimido.
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O Exorcismo de Marlon Gayler [Romance Gay]
Romance"Internado contra a vontade em um colégio religioso liderado por freis, Marlon Gayler precisará unir-se a Dan Mason se quiser fugir. Dan é um rapaz igualmente problemático, arrogante e envolto por mistérios. É no curso do plano de fuga que um sentim...
Capítulo 20 - Sombras do Passado
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