Capítulo Vinte

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Os dois pareciam demasiado atordoados para responder, e tinham razão. Não sabia o quanto tinham visto do local, mas era o suficiente para deixá-los perplexos. A maneira como ela estava vestida não deveria ajudar. Os grossos cabelos estavam parcialmente presos, com longas tranças perdidas em algumas mechas cacheadas, a pintura preta sobre os olhos deveria estar borrada pelos acontecimentos das horas precedentes. As roupas escuras, o couro, os acessórios de espinho. Nada parecido com o que eles já teriam visto para a princesa nortenha.

Eles também não aparentavam como ela os vira pela última vez, no baile que teria mudado para todo sempre sua vida. Ambos com barbas a fazer, cabelos desgrenhados, peles soadas devido o calor dos sacos que lhes cobriam a cabeça e cheiravam a álcool puro. Mas, conservavam em si a beleza que ela lembrava-se de cada um.

– Você não é uma prisioneira – Lucky ligeiramente remarcou com um tom desconfiado, fitando-a de cima abaixo. A voz tanto tempo ausente lhe provocou arrepios involuntários.

Ela o fitou fixamente pela primeira vez, de perto e firmemente. Os olhos amarelados ansiosos e confusos aparentavam penetrar seu ser, o que fizera Mia velozmente desviar o olhar, ao sentir a reação do coração pulsando os batimentos, e respondeu:

– Há muita coisa para se explicar...

– Não nos resta muito tempo, Eklissi – Kaleb alardeou, ganhando um olhar transtornado dela.

Imaginara por inúmeras vezes aquele encontro, mas nos seus sonhos, se fariam numa altura melhor. Menos turbulenta, onde pudessem sentar-se e discutir sobre os divergentes caminhos que a vida de cada um tomara. No entanto, aquilo estava longe de corresponder com a realidade.

– Eu sei que vocês não foram responsáveis pelo assassinato de Jarrah. Mas, eles não. Agora vocês serão julgados por isso – ela enunciou, arfante. A pressão no peito crescia e Mia olhou Kaleb, extremamente aflita. – Vocês apareceram realmente numa hora terrível.

– Numa hora terrível? – Lucky repetiu, franzindo o cenho. – Você tem alguma ideia de quanto tempo nós estamos procurando por você e o que passamos para dizer que aparecemos numa hora ruim?!

– Vocês não tem ideia do que está acontecendo nesse momento, nesse lugar! – Ela rebateu num tom mais rude.

– Afinal, Mia, onde estamos? – Thor quis saber, mantendo o tom calmo que ele sempre conseguia ter, mas que não durou muito tempo. – E o que diabos aconteceu com você nesses meses?

– Vocês estão na verdadeira tribo dos Kadawgis. Eu não tenho tempo de explicar o que aconteceu nesses meses, vocês passarão por um julgamento!

– Nosso julgamento inclui corpos inteiros ou praticarão canibalismo antes? – Lucky quis saber, com um ar emburrado.

– Eles não são animais – Mia replicou, ofendida.

– Não foi a impressão que eu tive quando eu os encontrei horas mais cedo, com os ossos pendurados e essas pinturas ridículas – ele apontou implicantemente para o rosto dela.

– Você pode fechar a boca e me ouvir? – Ela elevou a voz, lembrando-se rapidamente como Berbatov podia ser irritante. – Estamos a beira de uma guerra!

– Ah, não me diga. Reynes está em guerra desde sua morte, princesinha.

– Eu não estou falando dessa guerra! – Amélia rebateu, irritada. – A tribo dos Kadawgis está atualmente dividia. Os filhos do sol estão num intenso conflito com os filhos da lua. E se isso não fosse o suficiente, um clã vizinho está a beira de entrar numa guerra conosco. E eu não tenho ideia do que posso fazer para salvar a vida de vocês, sem dar início a uma guerra.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora