Capítulo Dezenove

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– Deve estar se perguntando porque lhe conto tal história macabra – ela deixou escapar um riso de escárnio. – Me perguntei a mesma coisa... Por que uma mãe contaria isso a sua filha de onze anos se não fosse para dizer que a repudiava? Afinal, fui concebida através de um estupro? – Astrid não sentiu a necessidade constante de medir as palavras.

A aia não foi capaz de responder.

– Vamos, tente um pouco mais. Não quero sentir que digo isso por nada.

– Para você odiar seu pai? – Ela sussurrou.

A rainha pensou, lembrando-se das palavras da mãe e em seguida balançou a cabeça em negativa.

– Ela disse que eu terminaria por odiá-lo sozinha, com ou sem suas palavras, afinal ele é um ser odiável.

– Então por que ela lhe disse tal atrocidade? Você tinha apenas onze anos! – Ethel se alterou.

Astrid tornou a fitar o quadro, vendo o mar turbulento.

– Foram anos de abuso. Mas, ela terminou por fingir que sentia prazer, porque aquilo o fazia ejacular rapidamente e menos tempo ela teria que aguentá-lo.

Ainda hoje era como se pudesse ouvir as palavras intensas de sua mãe na sua mente, penteando seus cabelos diante um espelho.

– É isso que eu quero de você, Astrid, ela me disse, que você não se deixe ser destruída. Seu pai poderia ter me destruído. Por dentro e por fora. Mas, eu nunca lhe daria esse gosto de vitória. E você, minha filha, também nunca vai dá-lo a ninguém. Pouco importa o que a vida lhe reserva, você sempre se manterá de queixo erguido.

– Isso é algo horrível para dizer a uma garota de onze anos – Ethel lamuriou.

"Like I'm Gonna Lose You- Jasmine Thompson"

– De fato, é – ela assentiu, sorrindo tristemente. – Mas, tais palavras me protegeram durante anos. Como deveria me comportar, como deveria me preparar... Obviamente nunca dissera ao meu irmão, Thor, por mais diplomático que seja, nunca saberia lidar. Talvez isso seja algo nosso, algo de nossa natureza feminina... Homens acreditam que quando estamos unidas, estamos discutindo sobre futilidades, quando na verdade apenas estamos falando como sobreviver numa sociedade como essa.

Ethel franziu o cenho, e não mudou a expressão perturbada.

– Mas, as palavras de minha mãe não me protegeram de uma coisa – a rainha deu continuidade. – Perder minha mãe poucos anos mais tarde, ver meu irmão sendo afastado de mim e eu mantendo distância de meu pai, apenas me fizeram desejar profundamente tudo que eu não tivera: uma família estável.

Sentiu um gosto amargo no paladar, e prosseguiu:

– Sinceramente acreditei que poderia ter algo assim com Elliot. Sempre o conheci como esse príncipe sensível, doce... Essa é a razão pela qual nunca fui a sua procura, enganá-la fazendo uma proposta tentadora para você abandoná-lo – ela ajeitou-se na cadeira. – Ou ameaçá-la simplesmente a ir embora. Eu queria que Elliot desse o primeiro passo e terminasse o que vocês tinham, por amor a mim. Teria mais significado, veracidade. Eu queria algo real. E isso me trouxe aqui, vê-la carregando o meu maior sonho em seu ventre.

Os olhos da rainha quiseram encher-se de lágrimas, parecia que pela primeira vez, ela fora inteiramente sincera e o vinho ajudou. E a aia não ousou dizer uma única palavra.

– Eu não quero nenhum mal a você ou ao seu filho, Ethel. Mas, você é uma ameaça para mim nesse momento – Astrid confessou, fixando a jovem que arregalou os pequenos olhos.

Ceres - O Retorno Da Escuridão [LIVRO 3 - COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora