TORTURADA

Capítulo 39

~Andy a narrar~

Perdi a noção do tempo do mesmo modo que perdi noção dos meus atos, nada me interessa. Sento-me na beira do colchão imundo, estou afundado na minha própria raiva, acendo um dos cigarros que arranjei por favores, eu vou sair daqui eu breve todavia, pela primeira vez em muito tempo encontro-me perdido, ainda não me parece real nada do que aconteceu.

Chris Biersack.. fecho o punho sobre o uniforme laranja que visto, devia sentir-me mal, contudo não sinto, ou talvez esteja apenas a mentir para mim mesmo numa tentativa de tornar tudo mais fácil,  à muito que a nossa relação não significava nada para mim, e não é o seu nome que tem prioridade neste momento:

-Levanta-te tens uma visita- oiço o guarda dizer

O mesmo que à momentos anteriores me meteu aqui depois da luta que provoquei no pátio, sorrio apesar do medo que estas palavras despertam em mim, ela veio, ela tinha de vir. 

Sou levado até uma nova sala, permaneço de algemas, estar nervoso é muito pouco comparado com o misto de emoções que me atravessam a cada paço que dou, sento-me na cadeira e permaneço cabisbaixo enquanto observo o tampo da mesa como se subitamente a resposta para os meus problemas estivesse lá escrita, no entanto, assim que a porta da sala arrasta eu pressinto. Ruby. É visível no seu rosto o receio e as dúvidas mas mesmo assim a sua presença é-me semelhante a uma lufada de ar fresco que diminui a sensação de sufoco presente em mim:

-Eu sabia que vinhas- afirmo

-O que te aconteceu?- demoro breves segundos a dar-me conta de que a sua visão sobre mim foca-se nos ferimentos que tenho no rosto

-Nada demais..- observo-a, novamente uma expressão que eu reconheço com facilidade- O que é que me queres perguntar?

-Depois de tudo.. continuas a agir como se nada te tivesse acontecido- franzo a sobrancelha

- Estás à espera do quê? Que eu comece a chorar? A queixar-me por aqui estar? Chatear-me contigo por me teres mentido?- pergunto sucessivamente com mais frieza do que queria

-Não sei, eu nunca sei que a tua reação... e agora..?

-Tens de sair do país, eu consigo providenciar isso

-Eu não quero sair- interrompo-a

-Não era um pedido, olha para mim Ruby, não estás segura aqui, apesar de estar preso eu consigo ajudar-te,tenho contactos na Rússia que te podem esconder

-Isto nunca vai acabar..tenho escolha?- a sua voz é tão baixa e frágil que de certo me modo afeta

-Sabes que não, eu vou sair daqui em breve, confia em mim.

-Porque que nada disto me parece real? Ainda sinto que vou voltar para aquele sitio a qualquer momento..

-Acabou- murmuro com um nó na garganta

-Odeias-me?- a pergunta que tenho feito a mim mesmo

-Não.

A sua postura muda por completo:

-Eu não vou ficar contigo quando fugires daqui, este tempo serviu para eu refletir sobre tudo, agora já não sou só eu, Andy eu quero recomeçar.

-Podes fazer isso ao meu lado. Começamos a vida noutro país- digo num leve desespero e confusão

-Noutro país, com contactos que de certeza tem algo haver com o tráfico de mulheres, tu não vais mudar e sabes disso, e eu não te julgo mas é impossível para mim ficar ao teu lado

-Não podes estar a falar a sério- afirmo incrédulo

-Irei seguir tanto o teu concelho como o de Amy, vais saber notícias minhas e da gravidez..- interrompo-a novamente, as suas palavras rasgam-me

-Ruby, olha para mim, eu amo-te tu sabes disso

-Também sei que o melhor para mim agora é ficar longe de tudo isto

Ela levanta-se e eu não posso impedir:

-Eu nunca te vou esquecer, prometo-te que se mudares a minha decisão também muda- ela chora enquanto deambula com passos hesitantes para trás

A minha pulsação acelera, fui apanhado desprevenido:

-Ruby.. fica

-É Juliet, Juliet Simms. Eu passei um inferno naquele bordel, perdi anos da minha vida naquele sítio, não me podes pedir isso.

O seu corpo treme dos pés à cabeça num choro que se torna compulsivo e também parte de mim. Vejo-a ir embora. É-me impossível mover  e por mais que chame o seu nome morre na minha garganta e torna-se inútil, é demasiado tarde.

É demasiado tarde para ambos.