Capítulo 2

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Fico imóvel com aquela ordem, quando o vejo franzir a sobrancelha com impaciência, tiro com as mão a tremer a roupa interior sob o seu olhar:

-Aproxima-te eu não mordo- responde com um sorriso malicioso

Apesar do desconforto e repulsa  avanço com  dois passos firmes para junto dele, sou analisada por segundos breves de cima a baixo.

Este levanta-se e observa as minhas costas, sem pronunciar uma única palavra, e puxa-me até à casa de banho, de seguida liga a água fria:

-Entra na banheira.

Obedeço sem ter outra escolha e fico imóvel à medida que ele me lava. A água começa a ganhar uma tonalidade avermelhada à medida que ele passa a esponja pelas costas e eu sinto ainda mais vontade de sair dali. As lágrimas escorriam silenciosamente pela minha cara quando ele me perguntou:

-Doí?

Quase solto uma gargalhada, ele é louco, primeiro bate-me e depois fica preocupado com o facto de me doer, como se fosse a primeira vez que ele o fizesse.

-Ficas-te surda Ruby?- pergunta num tom baixo junto ao meu ouvido

Engulo em seco e obrigo-me a responder que sim de modo a que a voz não me falhe ou trema. A sua expressão continua serena mas ao mesmo tempo intimidante e portanto tudo indica que a minha resposta não o incomodou, provavelmente até está satisfeito.

Assim que ele acaba de aplicar pomada nas feridas, entrega-me dois comprimidos que eu tomo, já está a  a tornar-se rotina, ele bate-me por eu desobedecer, de seguida ele trata de mim e tudo volta a repetir-se.

Deito-me de barriga para baixo de maneira a que as costas não me doam tanto:

-Aproveita bem a tua última noite neste quarto- diz ao sair

- ESPERA!- Saío da cama correndo em direção à porta no entanto ele já a tinha fechado e trancado

Resmungo e volto a deitar-me na cama irritada.

Desde o dia em que me raptaram e me puseram aqui, com apenas 5 anos, que estou neste quarto, a minha vida resume-se a isto, a um quarto de tamanho médio, sem cor nas paredes e com a decoração mais básica possível. No inicio ainda tinha  uns bonecos mas à medida que eu cresci, apenas fiquei com uma secretária, um armário e uma cama de ferro. 

Passo os dias à espera de que algo mude, tenho consciência de que estou a ser privilegiada em relação a outras raparigas que são imediatamente vendidas contudo não sei até que ponto isso torna a minha vida melhor que a delas.

No meio de tudo isto lembrei-me que apenas um dia é especial: o meu aniversário. E para ele ter dito aquilo é porque devo fazer amanhã 17 anos, 12 deles aqui trancada.

Apesar de as feridas já não me doerem tanto, o meu estômago implora por comida e eu aguardo sonolenta que ele me a venha trazer como sempre.

Finjo que estou a dormir e aguardo até a porta ser trancada novamente.

Devido aos castigos, à dois dias que não como e por isso devoro-a, acabando por adormecer mais reconfortada.





TORTURADAWhere stories live. Discover now