Capítulo 31

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Sinto-me vazia.
Ethan é para mim um mistério,não sei praticamente nada sobre ele, procura-me quando precisa, esgota e usa o meu corpo e depois eu limito-me a deambular pela casa.
Tenho direito a alguns privilégios e sempre alimentação pois devo permanecer saudável contudo a melhor parte é que como recompensa são me dados alguns momentos de liberdade que eu aprecio como se fossem os últimos.
Não falo, a menos que ele inicie a conversa, e apesar do meu corpo corresponder aos estímulos e novidades que ele me dá, não passa disso, contudo parece ser o suficiente para ele.

Adormeço com a corrente de Andy nas mãos, tenho a comigo sempre possível, quando acordo, parte de mim tem esperança de o ver novamente e isso incomoda-me imenso, é errado depois de tudo o que passei ainda ter algum tipo sentimento por ele, mas tenho. Lavo a cara e desço:

-Bom dia meu senhor- digo ao vê-lo sentado no sofá- Deseja ir tomar o pequeno almoço?

Não obtive resposta, ele levanta-se e dirige-me um olhar penetrante ao qual eu ainda não me consegui habituar. Começamos a comer em silencio e eu decido atrever-me a quebra-lo:

-Posso fazer pedido?

-Diz.

-Será que eu poderia sair e ir até ao rio?

-Ainda ontem me pediste isso- ele suspira de impaciência- Não intendo o que tanto te fascina, tens até à hora de almoço, quero fazer um novo jogo contigo à tarde.

Escondo o meu entusiasmo e acabo de comer o mais rápido possível. Visto um casaco mais quente e saio, sinto o ar gelado na cara, parece-me inacreditável.

Minutos depois chego ao rio e os meus lábios estendem-se num sorriso, aqui não sou uma submissa, sinto-me uma pessoa normal e consigo-me ver no mesmo banco onde estou caso a minha vida não tivesse tido este caminho.

Oiço as pessoas, o rio que desce com pressa pela rua. Estou empoleirada na beira do corrimão da ponte quando uma sensação de sufoco surge e eu viro-me. Andy.

Pisco rapidamente os olhos enquanto me sinto ficar sem chão, ele atravessa rapidamente o caminho até mim, não acredito que isto é real.

Os seus braços rodeiam-me sem que eu me queria afastar, a mistura de tabaco com perfume invade-me assim como uma enorme segurança, a respiração dele  está tão acelerada como a minha. Tudo volta inclusive a lembrança da promessa que ele quebrou e eu afasto-me sem conseguir enfrentar aqueles olhos azuis:

-Pensei que não te voltava a ver

-Não era esse o teu objetivo? Não posso falar contigo ele pode descobrir

-Objetivo? Ruby, eu não sei o que Chris te disse mas eu só soube do que tinha acontecido de manhã

Olho em redor sobressaltada:

-Tens de ir, eu não posso falar contigo se ele descobre eu sou castigada

-Ele quem? Para quem foste vendida?- a sua mão pega-me pelo queixo sem me dar outra alternativa que não olha-lo nos olhos

-Ethan.. Como me achaste?

-Pedi ajuda. Vem comigo, eu levo-te de volta e protejo-te

Ser presa.Outra vez. Não iria aguentar.

-Não- volto a afastar-me dele- Não posso voltar, ia ser suicídio 

-Suicídio é ficares longe de mim Ruby, eu prometo que não deixo que nada de mal te aconteça!

-Também prometeste que eu não iria ser vendida e contudo eu fui, estou naquela casa a ser usada por um homem que não conheço sem puder protestar. É melhor eu voltar.

Levo a mão ao bolso e estendo-lhe a corrente, que ele recusa:

-Ruby olha para mim..

Obedeço. Em duas semanas continua tudo igual e contudo tudo diferente, consigo ver que ele está tão quebrado por dentro como da única vez que o havia visto assim à meses atrás:

-Volta comigo- ele pede novamente

-Não posso, e por favor não tentes falar comigo novamente é demasiado arriscado, posso não estar feliz naquela casa com Ethan mas pelo menos é me dado esta liberdade que eu jamais quero perder.

Quando saio da ponte, olho para trás, a sua figura alta e negra distingue-se no meio das pessoas, é a última vez que o vejo.

TORTURADAWhere stories live. Discover now