Capítulo 15

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Aproveitei a tarde para ter mais uma "aula" no exterior contudo a minha concentração estava em todo o lado menos na "aula", de seguida voltei para o quarto onde estou aborrecida e sozinha sozinha com os meus pensamentos.

É escuro, estou envolvida nos lençóis quando acordo com o som do chuveiro ligado e vejo a luz sair por debaixo da porta da casa de banho, sinto o coração apertado e não me esforço por adormecer, breves minutos depois ele volta ao quarto em tronco nu e ainda a secar o cabelo:

-Acordei-te? - sinto-me desnorteada, este pressentimento parece que me dificulta a respiração e eu olho pormenorizadamente a tentar perceber se algo nele está errado

Vejo-o suspirar e sentar-se ao meu lado na cama enquanto cruza os braços:

-Porque estás assim a olhar-me dessa maneira?

- Nada, paranóias minhas, que horas são?

-Quase três da manhã - ele desvia o olhar o que me faz ficar desconfiada

- O teu pai disse-te mais alguma coisa?

-Não - ele suspira e faz um ar meio aborrecido que me irrita

  Decido deixar o meu corpo deslizar novamente e fico deitada ao lado dele enquanto me pergunto quantos mais dias eu irei passar neste quarto:

- O que será o meu futuro? - pergunto num murmúrio

-Como assim?- ele vira-se para mim e franze a sobrancelha

- Dizes que não vou ser vendida, então é suposto eu passar os meus dias aqui para sempre?

- Estaria a mentir ao dizer que nunca pensei nisso mas Ruby, preocupa-te apenas com o presente - sinto a sua mão mexer me no cabelo, é agradável e eu limito-me a apreciar o momento surpreendida

Aproximo-me dele inconscientemente, não quero pensar em nada, quero aproveitar este raro e exclusivo momento, é dos poucos em que eu recebo algum tipo de carinho  e mesmo que eu pudesse recusar, confesso que não o faria, todavia é impossível deixar de notar que toda esta situação é no mínimo estranha.

O toque dele , seu perfume misturado com o cheiro do sabão dão me uma sensação de segurança depois do que aconteceu hoje mas não me posso permitir esquecer que esta versão do Andy é apenas uma em muitas que não são assim tão agradáveis.

Apesar de sentir o sono de novo, tento evitar o mais que posso adormecer, quero prolongar estes minutos, pergunto-me se fora deste lugar as pessoas consideram isto normal nas suas vidas, quero acreditar que fora daqui as pessoas são melhores contudo algo me diz para não ter muitas esperanças, se o mundo lá fora fosse realmente melhor, este lugar não existia, estas mulheres não eram trazidas para aqui, não sofriam nem eram tratadas como meras escravas, e não havia dinheiro envolvido...

A mão dele envolve me e fica por cima da minha barriga enquanto a respiração torna-se regular e lenta e eu ajeito-me de modo a conseguir vê-lo.

Quase não me lembro dos primeiros tempos que aqui passei mas lembro me perfeitamente dele, o cabelo era mais comprido e o corpo tinha muito menos tatuagens.

Assim a dormir, parece que o revejo nesses tempos em que ele abria um sorriso nos lábios com muito mais facilidade

O meu coração dispara com estas lembranças e eu volto a ajeitar-me, desta vez, não tento evitar adormecer.

TORTURADAWhere stories live. Discover now