TORTURADA

Capítulo 21

      Estar mais nervosa que isto é impossível, respiro fundo e avanço para o varão enquanto uma das raparigas me faz um gesto de encorajamento. Dá para ver a sala toda dali,todos os olhares e para minha infelicidade, os do Andy também. Avanço assim que a música me indica, tento por de parte as inseguranças, estou maquilhada, com uma peruca totalmente diferente do meu cabelo ao natural e com  conjunto dourado vestido *ver multimédia*.
Deixo o meu corpo ser livre, brinco com o cabelo, roço-me no varão e deixo-me girar em torno dele parece ser só meu aquele momento, apenas eu no palco a aproveitar a música.

    Quando desço, alguns dos olhares seguem-me quando atravesso a sala, estou a começar a ficar importante aqui, algumas das raparigas idolatram-me por eu ter coragem e direito a atenção por parte dos Biersack, outras invejam-me e por outro lado, alguns dos clientes começam a ter várias perguntas em relação a mim.

Passo o resto da noite a servir junto às mesas, é cansativo ter que estar constantemente a evitar convites, indiretas nojentas ou perguntas desagradáveis. Contudo, a sala já está quase vazia e o mesmo homem que para além de bêbado insiste em me tentar comprar, não vai embora. Tem o cabelo loiro, completamente desarrumado e veste um fato azul escuro com o tecido gasto, parece ser no minimo uma década mais velho que eu. Antes mesmo de eu voltar a olhar para Andy, sinto um nó no estômago e não preciso olhar para saber que ele vem ter comigo:

- O que é que ele quer?- olho para cima, o facto dele estar tão perto de mim parece aumentar ainda mais a diferença de alturas

-Quem?- ele franze a sobrancelha impaciente e eu remexo as minhas mãos

-Vais te fazer de desentendida? 

Antes de eu ter tempo de responder que apenas não queria problemas, ele avança para o homem que continuava sentado no sofá agora com um sorriso de divertimento desenhado nos lábios:

- Quanto vai ser?- a voz é grave e áspera e eu aproximo-me embora não seja boa ideia, o seu olhar continua fixo em mim e deixa-me desconfortável

- Como já lhe foi dito, ela não está disponível - o tom de Andy é calmo mas a mão está fechada e contraída

- E eu perguntei: quanto vai ser?

Ao invés de esperar que ele perca a cabeça decido intervir:

- Não vale apena perderes tempo com ele, está bêbado e amanhã não se vai lembrar de nada..

Os seus olhos pousam em mim e depois no homem, após segundos de indecisão, respira fundo e manda chamar dois "guardas" que o tiram dali:

- Vou fechar as contas e de seguida ter contigo.

Não consigo evitar um pequeno sorriso enquanto volto à cozinha com os últimos pratos que faltavam, tinha conseguido evitar o que podia ser perfeitamente uma catástrofe:

- Estás caidinha pelo Biersack não estás?- viro-me surpresa ao ver uma das raparigas com a qual eu nunca tinha falado

- Desculpa?

- Como é que consegues estar com ele depois de tudo o que ele fez?

Saem-me apenas  semi-palavras atropeladas e sem sentido, as dela têm odeio, e é recente:

- Estás a falar do quê?

- Não sabes?- ela aproxima-se de mim e a voz treme - Pergunta-lhe o que aconteceu à Diane! Ou o que ele faz às raparigas recém chegadas. Ou sequer se ele se importa com o que acontece às que são vendidas aos Vip. Depois de saberes duvido que ainda sorrias a seguir a ter falado com ele.

Nem tento insistir para que ela me conte pois esta saí da cozinha num choro compulsivo, encosto-me à bancada e fecho os olhos enquanto tento que a minha respiração se mantenha num ritmo normal.
"Caidinha"? Não.. Eu sei que o Andy não presta, mas a dor que vi nos olhos dela, o ódio e a repulsa.. tem que ser algo realmente grave e eu preciso descobrir o que é.