Capítulo 33

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Estou num vestido branco coberto de diamantes e cauda de estilo princesa, uma mão grande de cor pálida e coberta por algumas tatuagens rodeiam-me a cintura e eu olho para cima de encontro aos seus olhos azuis que poisam suavemente em mim, ele está adorável num terno preto e com um laço à volta do colarinho, a sua boca move-se num movimento calmo:
- Acorda - a voz profunda e quebrada faz-me olhar em redor
Estamos num altar decorado por rosas brancas, não tem padre, todavia o que mais me assusta são as convidadas, todas mulheres algemadas e feridas, volto a olhar para ele assustada:
- Acorda Ruby
Uma dor pontiaguda impede a minha respiração, as pálpebras estão demasiado pesadas para que eu as consiga abrir imediatamente, aperto a mão que segura a minha, reconheço-a como sendo dele. Ainda não devo ter acordado do sonho.

Abro de modo demorado os olhos, aos poucos a minha visão torna-se clara, estou deitada num quarto onde nunca havia estado, Andy está junto a mim sentado numa cadeira e olha-me com uma mistura de pena e carinho:

-água- peço num sussurro

Ele estende-me de imediato um copo, à medida que os segundos passam eu fico mais lúcida e as lembranças voltam:

-Como  é que me encontras-te?

-Depois de saíres da ponte fui ter com Amy para descobrir mais sobre o teu domi... Ethan afinal de contas seguir-te era demasiado arriscado, ela ajudou-me a encontrar-te, quando estava prestes a vir-me embora ela recebeu informações de que Ethan tinha um empregado a vigiar-te...eu estava disposto a fazer de tudo para te tirar te de lá mas- ele remexe-se desconfortável e o seu tom de voz diminui- não cheguei a tempo

-Amy?

-Amy Biersack, a minha mãe

-Nunca me tinhas falado dela- custa-me falar

-Evita fazer movimentos, tens uma costela partida e vários hematomas pelo corpo vais precisar de ficar em repouso alguns dias

-E depois?- ele franze a sobrancelha sem entender

-E depois desses dias? Eu não posso voltar, Andy por favor não, eu não aguento mais nada disto- digo em desespero, ele aperta mais a minha mão e eu calo-me

-Não te vou levar de volta, para efeitos oficiais foste dada como morta- a sua frase é interrompida pela senhora que entra

-Bem me parecia que vos tinha ouvido, ainda bem  que acordas-te, trouxe-te comida e um comprimido para as dores- ela esboça um sorriso maternal que me faz simpatizar de imediato- Já não comes à algum tempo, tens de o fazer para ganhar forças

-Eu dou-lhe não te preocupes- oiço Andy dizer sem desviar o olhar do meu, Amy acena-me e deixa-nos 

-Pára de fazer isso...

-Isso o que?

-Estás a olhar para mim como se fosse a última vez que me fosses ver-desta vez sou eu que sou interrompida, ele estendem-se e beija-me como senão o fizesse à uma eternidade

A minha pulsação aumenta, o que sinto por ele expande-se e eu não nego as saudades que sentia:

-Desculpa por não ter chegado mais cedo, não te devia ter deixado ir, desta vez, não te vou deixar ir

Sorriu ao mesmo tempo que algumas lágrimas me escorrem pela cara, parece que continuo num sonho:

-Estás sempre a chorar sabias?- ele brinca ao limpar a cara com o polegar

-Desta vez é de felicidade...

Como sem vontade enquanto ele canta para mim, todavia à uma coisa que me mantém curiosa e eu decido abordar isso indiretamente:
- Gostei da tua mãe...

Ele permanece igual e não comenta:

- Nunca me tinhas falado dela- repito

-É complicado.. Quando Chris se envolveu ainda mais no tráfico de mulheres e decidiu criar aquele bordel ela permaneceu ao seu lado, todavia, a dada altura ela desistiu, ela nunca me contou o que realmente lhe aconteceu mas presumo que tenha sofrido nas mãos dele- ele pára e eu oiço atenta- Era novo na altura e sem perceber as coisas, fiquei lá com Chris, fui praticamente criado por ele, à alguns anos voltei a ter notícias dela apesar de nunca termos falado muito bem

-Não consigo imaginar o que ela passou nas mãos daquele Sr.Biersack Nojento. Desculpa, eu sei que é teu pai, mas é um monstro olha o que ele fez à minha vida, e eu sou apenas uma das que passou por lá, podia ter morrido naquele caixote do lixo, ele é doente, vê-nos como meros produtos de negócios. Vais voltar?- Nasce dentro de mim a esperança de uma resposta negativa todavia ele abana a cabeça

- Não é assim tão simples...

- Porque não? Depois de tudo vais continuar igual como se nada tivesse acontecido?

Ele levanta-se e saí do quarto com o prato vazio na mão sem me dar nenhuma resposta.


TORTURADAWhere stories live. Discover now