Capítulo 19 - Bruxas à Solta

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Próximo ao French Quarter, Jack circulava pelas ruas de Downtown. Fazia dois dias desde seu encontro com o prefeito, e o detetive buscava espairecer sua mente dos debates internos ininterruptos que vinham lhe atormentar. Confrontava suas próprias lembranças quanto às reações que o político tivera em sua presença, repensando inúmeras vezes se o ato de expor sua teoria naquele momento fora um equívoco. Talvez ele pudesse ter aguardado um pouco mais, tê-lo mantido em seu poder por mais tempo. Mas, então, lembrava-se do modo mesquinho e prepotente que Harold utilizara em seus argumentos, e rapidamente ele entendia o porquê da conversa ter tido um rumo tão catastrófico.

Os McDonalds eram difíceis de conviver.

Ao enfiar-se por mais uma calçada, os olhos de Jack reluziram ao esbarrarem no colar ostentado no manequim de uma joalheria. Era uma pedra negra, que captara sua atenção, roubando-a para si do mesmo modo que uma certa cartomante sempre fazia quando o encontrava.  Atraído por aquilo, o detetive decidiu adentrar a loja; mais uma vez incapaz de controlar seus instintos ao encontrar algo que lhe remetesse à Cassandra Pavlova.

Poucos instantes depois, munido por uma caixa de veludo vinho, Jack Johnson acomodou-se confortavelmente no primeiro táxi que surgiu na avenida. Ele buscava se deliciar ao máximo com essa sensação de alívio, de felicidade que há tanto tempo ele não sentia dentro de si.

Chegava a lhe despertar certo estranhamento. Jack não estava acostumado a andar pelas ruas de Nova Orleans em uma manhã nublada, na qual seus pensamentos não estivessem tão cinzentos e carregados quanto as nuvens do céu sob o qual ele passeava. Mas ali estava ele, levando uma jóia preciosa à sua feiticeira, numa manhã qualquer dos últimos dias de outubro.

Logo a mansão soturna do condomínio Felicity surgiu imponente em sua janela, e o detetive desceu do carro. Pisou nas folhas secas que preenchiam os degraus e disparou à porta de entrada; seu peito inflado pela ansiedade em revê-la.

Custou alguns minutos para que ele ouvisse os passos de Cassandra surgirem do lado de dentro. Ele sentiu a análise minuciosa que ela fizera a seu respeito pelo olho mágico, sorrindo ao imaginar o impacto das íris de metal sobre si. Sorrindo por simplesmente poder ter um momento como aquele, de estar apenas a mínimos instantes de encontrá-la.

E quando Cass finalmente se revelou; com o robe negro de cetim e o cabelo em selvagens ondas castanhas, Jack não disse nada antes de tomá-la pela cintura, beijando-a com voracidade, despejando o desejo e a saudade acumulada desde a última vez que a vira.

Sentiu seu corpo estremecer ao tê-la esparramada sobre si, o alívio de ter aquele perfume único novamente invadindo suas roupas fazendo-o suspirar. Conforme a beijava, o detetive ia entrando em transe, escalando suas mãos pelas costas da mulher, envolvendo seu pescoço e matando a sede que reinara em seu corpo por todo o tempo que passaram afastados nos últimos dias.

Cassandra Pavlova cada vez mais mostrava-se mais viciante do que nicotina.

— Há quanto tempo, senhor Johnson — alfinetou ela, erguendo uma sobrancelha em desafio, assim que ele a soltou.

— Eu senti sua falta — admitiu ele, carregando-a para a cama no andar de cima, aquela em que ele sabia que os lençóis tinham rastros dele por todo lugar.

Cassandra acenou para seu corvo, Hyde, que saboreava tranquilamente um pedaço de carne crua em sua gaiola. A cartomante ria enquanto Jack a levava escada acima. O detetive não conseguia desviar seu olhar dela, parecia ter esquecido do quão deslumbrante ela era. E a mulher o contemplava do mesmo jeito, dando um mergulho refrescante nos mares caribenhos que ela tanto adorava.

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