Capítulo 29 - Correnteza

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Diante de uma mesa abarrotada de documentos e fotografias, Thelma e Oz contemplavam o final da longa jornada que dividiram nos últimos meses. Lado a lado, o breve contato aquecia-os por inteiro.

Para Oz, o único alívio desde a partida de Jack, eram os encontros com a jornalista.

A "investigação independente" havia sido lenta. Não podiam ser notados, e Oz continuava agindo como o policial responsável, em sua rotina na delegacia. A paranóia atacando sua consciência metódica, fazia-o acreditar que o novo parceiro, Elijah Burns, podia ser um espião de Randall pronto para delatá-lo caso apresentasse um comportamento suspeito.

Oz, portanto, conservava seu jeito severo e distante. Com Randall, ele se empenhava em permanecer educado. Temia que o nojo que sentia fosse notável, e calculava seus movimentos na presença dele.

Mas haviam conseguido. Em meses de trabalho, conquistaram um dossiê contra Harold McDonald. A munição necessária para destruí-lo. Jack estava certo.

— É... a sua coerção jornalística realmente surtiu efeito sobre a senhora Burton. — Ele disse.

Thelma conteve um sorriso, concentrando sua atenção na imagem sob seus dedos. Oz se esforçava para observá-la sem que ela percebesse. Admirava o sol primaveril contornando seus traços, realçando o âmbar de seus olhos.

— Nós formamos uma boa equipe — afirmou Thelma. Oz suspeitava que ela sentia os olhos dele ávidos por seu rosto, e por isso continuava a fingir prestar atenção no que havia sobre a mesa. — Espero que o Jack não fique com ciúmes.

Oz não pôde controlar a risada.

— Ah, ele vai. Com toda a certeza — constatou, pensativo. — Isso significa que ele vai voltar. Se provocarmos a queda do prefeito, é claro.

Thelma conseguiu olhá-lo diretamente. Tinha uma postura decidida e assertiva. O coração de Oz disparou.

— Nós vamos destruí-lo. Essa é a verdade. — argumentou, incisiva.

Eles estavam muito próximos um do outro. E a confortável atmosfera intelectual desmoronou no instante em seus olhos se encontraram. O aperto no peito de Oz se intensificou, no entanto,  continuava entretido pelos leves tons de dourado tremeluzindo sobre ela.

— Não iremos mais trabalhar juntos... —  ressaltou, por impulso.

Sua  atenção foi ao pescoço de Thelma. Ela engolia a seco. Oz contorceu os próprios dedos para acalmar o desejo ardente de tocá-la.

— Hum, acho que não — Thelma murmurou, ainda fitando-o profundamente.

Oz levou a mão ao rosto dela; os dedos aflitos recebendo espasmos de eletricidade ao encostar na pele calorosa, muito mais macia do que ele imaginava. A acariciou com cautela, como se examinasse uma obra de arte valiosa em segredo: incrédulo pelo que fazia, mas incapaz de parar.

Tombou a cabeça para o lado, fascinado. Sua mente lógica não administrava aquela beleza; a perfeição renascentista à sua frente. O formato amendoado dos olhos, o tom naturalmente rosado da boca.

— Você é tão linda.

Thelma James tinha o olhar tilintando em expectativa. Absorvia a carícia, consciente de seu toque preciso, da leveza de seus movimentos.

Ela fechou os olhos, rapidamente. Suas feições mudaram, e  os receios que Oz conhecia bem manifestaram-se. A jornalista, então, se esforçou para ter controle, situando seus sentimentos.

Quando Thelma voltou a encará-lo,  ele adivinhou o que ela estava prestes a dizer.

— Obrigada. Foi um prazer trabalhar com você. Mas acho que eu preciso ir. — A respiração dela, por mais que tentasse disfarçar, seguia frenética. — Quero terminar o texto antes do Jack voltar. Ele chega no final da semana, certo? Preciso correr!

Entre Tangos & TragédiasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora