Capítulo Quatro

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Eu esperava por quase todo o tipo de pergunta, menos essa. Minha boca se abre para responder mas as respostas não saem. Eu não sei se posso falar com ele, eu não sei se quero falar com ele. Na realidade, eu sei que não devo.

— Você é legal, mas ainda um estranho para mim... por que eu abriria a minha vida para você?

Novamente Joseph me olha surpreso e sei que ele não esperava essa sinceridade tão dura com ele. Mas ele simplesmente sorri, pega um lençol da cama, cobre suas partes íntimas e se senta em uma poltrona.

— As vezes, é bom falar com um desconhecido. Afinal, como você me disse, nós não nos veremos uma outra vez.

Por que não? É a pergunta que me vem na mente. De alguma maneira, ele tem razão. Se eu contar para minhas amigas, eu terei que lidar com todos os tipos de avaliações positivas e negativas. Se eu contar para meus irmãos, eles simplesmente vão pirar e querer matar Mason e a mim por me submeter aquilo sem ter contado antes. Minha mãe choraria demais e se culparia por tudo. Talvez Olívia me ouvisse e me desse algum conselho sensato, mas ela contaria para Estevão e voltaríamos ao problema "irmãos". Isso não é justo. Mas Joseph em contra partida, não é envolvido comigo de nenhuma maneira, isso pode ajudar.

— Acho que você tem razão. — concluo — A realidade é que estava chorando por causa do meu ex.

Sinto o olhar de Joseph sobre mim e ele incita sua cabeça a me provocar a continuar... Então eu continuo.

Assim, eu conto tudo. Por mais absurdo que seja, eu conto simplesmente tudo que me aconteceu, todos os meus pesadelos. Desde o primeiro dia em que Mason me proibiu de sair com minhas amigas, desde as restrições de vestimenta, comportamento e conduta, até as agressões psicológicas me chamando de nomes horríveis, dizendo que eu era burra e não servia para dirigir a Russell, que meus irmãos logo perceberiam que eu era incapaz, além de que "mulheres não nasceram para serem executivas". Contei sobre como eu me sentia mal por isso, como minha alto estima quase morreu, como eu me sentia despreparada para outro relacionamento, e principalmente, sobre como eu queria voltar para mim. Algumas lágrimas escaparam de meus olhos e eu as limpava rapidamente. Joseph escutava tudo com muita atenção sem me interromper jamais. Ao final eu me senti mais leve, e suspirei por jogar tudo isso para fora de mim, conforme eu verbalizava os acontecimentos eu percebia a gravidade de cada um.

— Enfim, desculpa por jogar isso em cima de você. Alias você deve ter se arrependido de ter me encontrado no elevador...

Joseph sorri perante meu sorriso torto e finalmente fala depois de tantos minutos só me ouvindo.

— Na verdade Katherine, cada momento mais eu não me arrependo de ter te encontrado. Agora, se me permite dizer... ele é um filha da puta, desgraçado, juro que se encontrasse com ele, eu daria um belo soco na cara. E outra coisa, faça o que você tem vontade. Seja você. E tudo ficará bem...

Eu avalio as palavras carinhosas de Joseph e tomo quase um tapa na cara de mim mesma. Ele pode ser algum tipo de galinha ou não, não sei, mas não é insensível  como eu imaginei que fosse.

— Eu sei, e isso é tudo que eu quero. Mas confesso não ter forças para caminhar sozinha, e não quero preocupar minha família.

— Eu entendo seu lado, mas não concordo. Você deveria sim pedir ajuda, mas falar comigo, por mais que não seja muito coisa, já ajuda. Na verdade, tive uma ideia — diz Joseph — Já que segundo você, nunca mais vamos não ver... então podemos fazer isso...

Observo Joseph levantar e o acompanho visualmente com curiosidade. Ele vai para o quarto e pega papel e caneta. Mil coisas se passam pela cabeça, mas nada parece fazer sentido para mim. Ele se joga no sofá de novo e estende um bloco de folhas e a caneta para mim. Com uma cara de interrogação eu aceito os itens e pergunto:

KATHERINE - Livro Dois - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora