Capítulo Trinta e Cinco: Inimaginável, Uma Nova Vida

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Desperto alerta, com um susto e sento-me bruscamente, já analisando tudo ao meu redor, então sinto a dor da queimadura em meu peito devido aos meus movimentos repentinos. Noto um ferimento com curativo em meu braço, bem em cima de onde a centìmetros abaixo da pele estivera meu chip de identificação, vejo que ele foi removido, nunca imaginei que fossem capazes de fazer isso, agora Altair não tem mais nenhum poder sobre mim.

Presto atenção em meus outros ferimentos, eles foram novamente tratados e agora tenho curativos em várias partes do corpo, que exceto as queimaduras feitas por Austin e o meu braço que há pouco foi baleado, todos estão em avançado processo de cura, mais algumas semanas e serão apenas mais cicatrizes.

Vejo que estou em uma sala, um leito hospitalar sofisticado igual ao que apenas a Sile Mëllen tem, mas também improvisado, o teto é baixo e de rocha pura, estou exatamente embaixo de uma lâmpada muito clara que me faz lembrar os prédios militares.

Logo percebo que devia estar morto, lembro que de alguma forma Marryweather me resgatou, lembro que ela matou a Comandante Kleyer. Por muitas vezes desejei sua morte para pagar por tudo de ruim que fez em sua vida, por tudo que fez comigo e com meu pai, desejei muito mais vezes que qualquer filho deveria desejar a morte da própria mãe.

Eu achava que seria melhor se ela morresse, mas não é isso que sinto, agora que ela está morta, sinto um alìvio em saber que nunca mais a verei, sinto-me livre dela para sempre, mas a criancinha de quatro, cinco anos que amava a mãe e acreditava que ela retribuìa ainda vive dentro de mim e ela lamenta mesmo a própria Comandante Kleyer por tantas vezes ter tentado matá-la.

Penso se a Trice sabe que eu estou vivo, lamento por ela ter perdido a mãe, sei que mesmo não sendo recìproco, ela a amava e queria apenas ter sua atenção, sei que ela está sofrendo, ela também perdeu quase todo mundo que ama e eu sei o quanto isso dói e nos faz se sentir sozinhos. Penso também na

Roxenne que agora é órfã de mãe, ela deve estar tão grande que provavelmente eu nem a reconheceria e ela não deve se lembrar de mim.

Mas o mais importante de tudo, eu lembro que Mellanie ainda está viva, e, para minha surpresa, a vejo em pé organizando um armário de remédios. Não sei como, mas ela está viva, está bem, quando ela vê que estou acordado vem até mim, ela é mais velha e mais magra que a Mell de minhas memórias, e ela não é mais uma garota, já é uma mulher, mas a principal mudança é que agora o sofrimento desse mundo marcou seu rosto angelical, seu sorriso ainda doce não é mais tão inocente.

Inicialmente parece acanhada, mas visivelmente feliz pelo reencontro após tantos anos, mais feliz que até eu mesmo. Ela tem uma recente cicatriz de um enorme corte no pescoço que pelo tamanho deve ter quase a matado, isso me faz pensar em tudo que ela viveu desde a última vez que nos vimos. Ela também está com o pulso enfaixado, a ARN aos poucos está conseguindo diminuir o poder de Altair sobre as pessoas, já não podem mais saber e controlar cada passo que damos.

– Faz tanto tempo que não nos vemos. – Minhas palavras soam vagas, vê-la me traz memórias de nossa infância relativamente feliz, porém de todas as memórias, a que mais se destaca são lembranças de seu enterro, mas estranhamente não é a Mellanie que permanece em minha mente, lembro-me da garota naquele vestido negro em seu funeral e percebo que era Marryweather, então me recordo que ela disse que já me conhecia, pela primeira vez junto a história da vida das duas.

– Para mim é como se fosse ontem, ainda me sinto como se tivesse treze anos. – É estranho vê-la viva, poder falar com ela depois de ter estado em seu velório e funeral, chega a ser entorpecedor, sinto como se fosse um sonho e ao tocá-la tudo racharia e se fragmentaria como o reflexo num espelho.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora