Capitulo Vinte: Beijo, Sentimentos Conflitantes

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Mellanie

Primeiramente tenho a compreensão de que não sinto dor, sinto-me confortável em meio a um cobertor quente em uma cama macia, aninho-me mais para voltar a dormir, repentinamente minha mente é invadida pela lembrança de ter sido baleada e de estar quase me afogando, abro meus olhos, é um alívio poder ainda estar viva e diferente do que era para ser não sinto nenhuma dor, pelo contrário, estou bem.

Estou usando roupas que não são minhas, uma calça e uma camisa, ambas muito simples e confortáveis, que se encaixam perfeitamente ao tamanho de meu corpo.

Vejo que estou em um cômodo que é igual ao de um hospital, não como um quarto de recuperação e nem uma sala de cirurgia, mas algo entre os dois.

Inicialmente penso estar novamente num complexo da Sile Mëllen, que tudo que meu pai, o Sam e eu fizemos para me manter segura e livre de Altair fora inútil, contudo logo me dou conta de que esse não é o caso, que se eu estivesse num complexo da Sile Mëllen tudo seria mais sofisticado e moderno.

Noto que não estou em uma cama como pensara e sim em uma maca, vejo um armário com remédios cobrindo toda uma parede, equipamentos médicos antigos e uma mesa com um computador um pouco obsoleto, tudo marcado com a estrela Altair e com o selo da Sile Mëllen, indicando que foram produzidos por ela.

Presto atenção em chapas de Raios-X num painel luminoso, vejo que são de minhas costas onde na imagem tem um projétil alojado entre a minha segunda e terceira costela, o tiro quase perfurou meu pulmão e agora a bala está em uma mesinha de materiais cirúrgicos ao lado da maca.

Sei que não estou segura, mas também não estou presa como quando meu pai me libertou e parece que não há ninguém me vigiando, por isso não acredito que eu seja prisioneira aqui, mesmo este sendo sem duvidas um prédio de Altair.

Levanto-me e caminho pela sala, a luz está apagada e a porta apenas encostada, saio para uma antessala com um balcão próximo a porta e um sofá no canto oposto, há duas portas, uma dupla que deve ser a entrada comercial e leva a rua, penso se não seria melhor eu sair por ela antes que alguém me visse desperta, mas decido ficar e ela está fechada, a outra apenas encontrasse encostada.

Agora vejo que não estou em um prédio e sim em uma clínica particular, algo muito raro e que continua a existir apenas na Grande Capital, é por isso que aqui tem equipamentos de Altair e ainda assim não foram modernizados com o tempo, relaxo sabendo que aqui não é tão ruim quanto parecia ser.

Além da porta há um corredor que leva ao interior de uma casa, enquanto o atravesso e me aproximo da porta seguinte ouço vozes que tornam mais nítidas, primeiramente uma mulher.

– Vocês não podem ficar aqui por mais tempo, eu estou me arriscando demais. – sua voz é de alguém jovem, mas o tom que usa é duro.

– Não vamos. Logo ela acordará e partiremos. – agora reconheço a voz de Sam, e meu coração se tranquiliza por ouvir uma voz que é tão nova para mim, mas de alguma forma tão familiar.

– Pelo menos me pague agora, e quero mais do que o combinado, você sabe, eu arrisquei minha saúde com o sangue sujo dela.

Sinto raiva pelo modo como se refere a mim, pelo tom de suas palavras, mas é como todos aprenderam, os doentes são monstros que devemos nos afastar o máximo possível.

Passo pela porta e entro em uma sala de estar, vejo o Sam em pé e a mulher com quem ele conversa, ela é alta e musculosa, parece muito durona e uma tatuagem em seu pescoço da estrela Altair me diz que ela é perigosa para mim, apenas soldados e funcionários dos órgãos de serviço à nação a usam.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora