Capítulo Trinta e Um: Adeus, Os Opostos se Encontram

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Trice

Os soldados me conduzem gentilmente por eu também ser um soldado e colocam-me numa cela separada das outras, fora da ala presidiária.

Cada minuto que se passa se aproximando a morte do Marshall parece correr como um segundo, cada vez mais me dando contínuas descargas de aflição. Passei os últimos anos com medo e tendo pesadelos do dia em que Marshall fosse capturado e executado por seus crimes.

Agora me sinto arrasada por saber que falta menos de quarenta e oito horas para isso acontecer e que as chances de Marshall conseguir fugir como das outras vezes se baseiam em algum Nacionalista se arriscar para salvá-lo, mas assim como nosso pai foi deixado de lado, duvido muito que alguém o faria.

Não durmo um minuto sequer e mesmo assim não escapo de novamente ter pesadelos com ele me deixando, agora para sempre e dessa vez sem nem eu poder tentar acreditar que ele está bem.

Choro antecipadamente sua morte.

Por muito tempo, o único barulho são apenas os meus soluços no escuro e permanece assim até pouco antes de amanhecer. Meu primeiro dia presa é extremamente lento e tedioso, mas com certeza melhor do que de qualquer outro prisioneiro, apenas é solitário na maior parte do tempo.

Logo de manhã, vejo um movimento anormal de tropas, primeiramente deduzo que seja por causa da proximidade da execução de Marshall e da eleição da Congregação Ministerial, porém tudo muda e sei que é sério quando ouço uma enorme explosão do lado leste da base.

Clark se encarregou pessoalmente de me trazer as refeições e esse é o melhor momento de todo o dia, pelo menos um pouco mais normal. Pergunto sobre o que está acontecendo, mas ele não me diz, apenas tenta agir como ele sempre é, mas mesmo ele tentando esconder, vejo que está preocupado.

Penso na Roxenne que geralmente se sente abandonada por nossa mãe, agora ela certamente está integralmente com seu pai, mas deve estar sentindo minha ausência.

O segundo dia é mais chato ainda. Mesmo com a agonia de saber que a

morte de Marshall apenas se aproximou, agora eu estou de certa forma mais tranquila do que sentia desde quando descobri que ele havia sido capturado.

No meio do dia, estranho a demora do Clark por ontem ele ter sido tão pontual a vir me visitar, mas quando ele surge no corredor de minha cela não está carregando uma bandeja como das outras vezes e nem tem um sorriso no rosto a me ver, apenas um riso murcho completamente sem graça que me parece anormalmente melancólico.

Ele se aproxima da porta e manda que a abram. Uma sirene soa e a porta de correr se move para o lado.

– Vamos, Trice!

– Já estou livre?

– Formalmente não, mas não vejo problema em uma fuga rápida e você não pode fazer mais nada por seu irmão que era o medo da comandante em você estar livre.

Assim que ele termina de falar, o resultado de suas palavras ressoam em todo meu corpo, meu coração palpita confuso e desesperado por medo de receber a confirmação do que minha mente já pode prever. Lembro-me que Marshall me prometeu que tudo ficaria bem.

– Como assim não posso fazer mais nada?

– Adiantaram a execução. – Pela primeira vez em muito tempo, Clark fala com uma melancolia anormal na voz, não o vejo demonstrar nenhum sentimento por Marshall desde que ele desertou. Por um instante, posso ver novamente o elo de amizade que os ligava na infância, ainda resistindo a tudo que eles passaram. – Acho que ele era perigoso demais para ser executado no dia programado. Vamos. – ele me estende a mão. Eu cometi um crime e tenho que pagar por ele, mas nesse momento, Clark me oferece a tentadora liberdade momentânea de que tanto desejo e preciso para ver Marshall pela última vez.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora