Capítulo Oito: Salvadora, Vida à Mercê do Mundo

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Marshall


Sinto mãos muito delicadas tocarem meu corpo com suavidade, primeiramente meu peito e então minha testa, sinto os cobertores sobre mim, mas mesmo assim sinto muito frio como se eu estivesse numa geleira, uma linda voz calma sussurra para mim.

– Não morra, não vou passar por isso novamente. – sinto dor e amor no tom de voz que ela usa.

E então por um momento perco a lucidez completamente, porém ela logo retorna, num momento de inconsciência vejo várias passagens de minha vida, tão pouco tempo, existo há apenas vinte e cinco anos, entretanto já vivi tanta coisa, ruins e boas.

Mas como sempre apenas os fantasmas das ruins me seguem, eu me sinto tão exausto de tudo, tão cansado da vida. Sinto que cheguei a um ponto que não tenho um real motivo para continuar a viver. Não tenho amigos, a Roxenne nem me conhece e a única pessoa que realmente me ama e não está morta, minha irmã, eu não posso aproximar-me, sempre que a vejo ela se complica por minha causa. Às vezes penso se não era melhor se ela me esquecesse de uma vez por todas.

Ele está com febre. – ouço uma voz infantil dizer, uma mão fria abre meu olho direito e vejo um lindo rosto muito definido e delicado, mas, sobretudo muito decidido, então ela coloca uma luz que agride minha visão.

Está delirando, pega um antitérmico na minha mochila. – diz minha irmã preocupada, olho para ela e por um momento não tenho certeza se é realmente a minha irmã. Ao contrario da Trice seus cabelos livres caem em cachos compridos, os longos fios loiros como ouro destacam seus olhos negros e intensos, uma combinação diferente e que a faz ser muito bela.

Ela apoia minha cabeça em seu colo, sinto o calor de seu corpo tão próximo ao meu, vejo acima do meu rosto uma gargantilha com um pingente em forma de estrela brilhar, embora seja apenas uma bijuteria, ela irradia o brilho de uma verdadeira joia.

Sinto minha barriga doer, a garota coloca uma pílula em minha boca e encosta a borda de uma garrafa em meus lábios, bebo um pouco e sinto a água gelada descer rasgando minha garganta até meu estomago, dói, mas é bom, meu corpo anseia por mais. Minha boca e meus lábios estão cortados por estar muito tempo sem comer ou beber nada.

O som se torna distante e minha visão enfraquece como sempre um único instante é o suficiente para eu ser acometido por memórias e novamente volto aos piores dias de minha vida, todas as noites eu tenho pesadelos com memórias do passado e desperto agitado com gritos.

Acordo com muita dor em meu peito, onde levei o tiro, a dor é tamanha que olho ao meu redor, mas não consigo ver nada, apenas tenho certeza de não estar em um leito hospitalar ou em uma cela de prisão. A dor me faz contorcer-me involuntariamente, tento resistir já o movimento apenas a aumenta. Consigo apenas gemer e pressionar o ferimento que queima, eu também sinto muito frio ao mesmo tempo em que meu corpo soa gelado, sei que isso não é nada bom, principalmente sem os devidos cuidados.

A garota que me ajudou antes vem até mim, tenho a impressão dela com o tom de voz muito preocupada chamar meu nome, mas não a conheço, também vejo minha irmã e repentinamente minha mãe me eletrocutando, ouço as vozes dela e de meu pai, estão discutindo, mas não o vejo, então sinto uma picada em meu pescoço e lentamente a dor vai embora, quando ela passa totalmente volto a dormir, agora mais tranquilo.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora