Capítulo Vinte e Três: Fuga, De Frente para o Nêmesis

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Marshall

Uma garotinha loira me encara com olhar suplicante, me implorando ajuda. Ela se aproxima de mim confiante e estende a mão em minha direção, quero muito pegá-la, ela me faz querer salvá-la, querer salvar todos que necessitam de ajuda. Então ouço um disparo alto demais e acordo atordoado, olho rapidamente à minha volta. Eu estou em uma maca numa enfermaria, sozinho em um quarto todo branco e sem janelas, uma espécie de enfermaria dentro de uma cela, sei que é para tratar de prisioneiros, mas não permitir que eles fujam.

Não sinto mais dor, apenas meu corpo muito pesado, ainda dopado por remédios fortíssimos. Estou com a mesma roupa, a calça caqui do exército e minhas botas, mas não uso mais a munhequeira que a Marryweather colocou em meu pulso para assim como ela eu ficar temporariamente longe dos radares dos Lides.

Por uma agulha em meu braço uma bolsa libera soro em minhas veias. Reparo que meus ferimentos foram tratados e enfaixados enquanto eu estava inconsciente, dessa vez fui realmente tratado por um médico, meu braço não dói mais e está visivelmente melhor do que... Não sei quanto tempo se passou desde a última vez que estive consciente, estando sempre preso ou inconsciente perdi completamente a noção de tempo.

Por mais que eu tente não me lembro de como vim parar aqui... Isso não faz diferença, de qualquer forma tenho de fugir e até agora essa é a minha melhor chance, talvez a única que terei.

Vejo uma garrafa com água num móvel ao meu alcance, sinto minha garganta doer de sede, meus lábios estão rachados de tão secos, acho que não é para mim, mas mesmo assim a pego e tomo num único gole, minha barriga doe quando a água bate em meu estômago vazio há tanto tempo.

Surge da porta uma médica alta e loira pouco mais velha que eu com os cabelos amarrados em uma grande trança, ela para em frente à maca e avalia meu estado físico, por um instante ela fica parada e me encara com repulsa, então se aproxima para me aplicar uma injeção, provavelmente para me deixar inconsciente novamente.

Deixo que ela coloque a ponta da agulha em meu pulso, mas ajo antes de injetar o sedativo. Ignoro a possibilidade de a Scorpion Needle me matar e a puxo para mais perto de mim. Empurro-a e tiro a seringa de meu braço, então a uso para neutralizar a médica, pressionando a agulha em seu pescoço, bem acima de sua jugular, nós dois sabemos que se eu injetar o conteúdo da ampola, ela certamente morrerá.

- Solte-me! Eu não tenho as chaves. - diz ela com a voz falhada, posso ver o medo crescente em seus olhos, mas também a mentira de suas palavras.

- Prefere morrer?

Ela pega um molho de chaves do avental e tenta soltar meu braço ferido, tremendo excessivamente e por isso demorando mais do que o necessário para libertar-me.

- Eu não consigo. - diz ela com desespero

- Consiga ou te mato! - ameaçá-la faz ela se desesperar ainda mais, mas funciona e ela tira a algema que me prende a armação da maca, estou livre novamente e agora lutarei até a morte para não ser pego novamente.

A conduzo para uma extremidade da sala onde tem um enorme armário de metal cheio de remédios. Solto ela por um minuto para tombá-lo, nesse tempo ela tenta fugir de mim e grita chamando os soldados. Tento ser o mais rápido que posso, sem esquecer-me da única porta a minha frente, a imobilizo e conduzo-a até meu único refúgio bem a tempo dos soldados entrarem, ao me verem livre atiram em nossa direção.

De entre os cacos da porta do armário pego um grande pedaço de vidro que fora estilhaçado.

Minha situação não é das melhores. Avalio tudo à minha volta procurando algum meio de fugir, quando os disparos cessam, exponho minha cabeça a fim de ver a distância que eles estão de mim, o que é muito mais perto do que eu desejaria.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora