Capitulo Quatorze: Queda, Anjo da Guarda

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Pela altura caio com impacto na água, que me faz mergulhar como um projétil, o rio é fundo e escuro, eu nado até emergir e poder novamente respirar, a água está muito fria e faz meu corpo doer.

Por causa da chuva a correnteza está mais turbulenta que o normal, por essa parte do rio ser muito profunda a água normalmente é calma e quente. Já que eu saltei do meio da ponte mesmo o rio sendo largo, a margem oposta não está longe, tento nadar, em terra firma estarei mais segura, mas a chuva faz com que a correnteza esteja muito forte e me arraste rio abaixo.

Um dos helicópteros surge em meu campo de visão passando cima de mim em um voo rasante, seus holofotes estão voltados para a água, suas metralhadoras rotatórias se voltam para as pessoas e duas rajadas estrondosas de tiros rompe o som da chuva e das hélices, inicialmente ele atira contra a ponte para as pessoas pararem de pular e então ele volta-se para quem está na água. Um dos holofotes passa ao meu lado, tomo fôlego e mergulho para não ficar tão exposta, luto contra a força da água e a escuridão, quando volto à superfície estou no centro da luz, eu mergulho alguns instantes antes das metralhadoras rugirem alvejando-me, eu nado submersa, as balas passam a centímetros de mim e por um milagre não sou atingida por nenhuma delas, usando todas minhas forças afasto-me do helicóptero e de sua luz baça pela água negra, quando não posso mais prender a respiração volto a emergir e vejo o helicóptero atirar em outras pessoas, agora um pouco distante de mim, momentaneamente fora de foco nado até a margem. Assim como eu, outras pessoas conseguiram atravessar o rio, um número muito pequeno se comparado a todos que se revoltaram mais cedo, assim como todos que tiveram sucesso até agora corro pela campina, tentando alcançar a floresta para me refugiar.

Um homem a minha frente simplesmente explode, seu corpo é dilacerado e os pedaços lançados ao ar, restando apenas de seu peito para cima envolto dos retalhos de seus membros e órgãos, alguns metros a minha frente vejo uma mina terrestre armada e camuflada, por muito pouco não a piso, aconteceria comigo o mesmo que aconteceu com o homem, desvio dela, ainda correndo, mas prestando mais atenção onde piso.

Ouço um grito e uma garota próxima a mim também explode, sinto uma onda de choque passar por meu corpo, continuo correndo, sei que a próxima posso ser eu, mas não tenho escolha é correr e arriscar pisar em uma mina ou andar cautelosamente e ser alvejada pelos helicópteros. Tenho sorte e atinjo o fim da campina, atravesso a linha de árvores que inicia a floresta, corro pela mata fechada e escura até ter que parar para tomar fôlego, eu me apoio numa enorme árvore que se destaca das outras, uma faia, estou tão ofegante e meu coração está acelerado, controlo minha respiração e presto atenção aos sons a minha volta, não ouço mais os tiros ou os helicópteros, eu devo estar distante do rio.

Mantenho-me alerta mesmo sabendo que agora estou relativamente segura, meu coração dispara e minha mão está tremula.

O único som a minha volta é o temporal e as copas das árvores sacudindo com o vento forte, então prestando muita atenção eu escuto ruídos de passos desajeitados na terra ensopada, parece ser de uma única pessoa e estão ficando cada vez mais próximos de mim. Olho a minha volta e encontro um galho praticamente reto, o pego e me escondo atrás da árvore, espero apreensiva por sua aproximação, torcendo para não seja um soldado.

Sinto-me mais confiante ao ter a confirmação que não está acompanhado e isso me dá coragem para enfrenta-lo, levanto-me muito lentamente, evitando fazer o mínimo barulho possível, quando ele passa por mim e está ao meu alcance desfiro um golpe com toda minha força em sua cabeça, não espero ele cair, largo o galho e viro para correr, porém ele me segura, inicialmente debato-me para me libertar, mas para ao reconhecer sua voz.

- Pare de lutar! Não vou lhe fazer mal. - como para provar que não está mentindo ele me solta e pela primeira vez realmente vejo seu rosto, é o garoto que me ajudou, em parte é por causa dele que ainda estou viva, agora ele está sério e um filete de sangue corre de sua testa, eu o feri.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora