Capítulo Trinta e dois: Ceifeira, Guerra Civil

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Marryweather

Acompanhada de outro militar a irmã do Marshall desaparece no corredor de onde eles vieram e pouco depois todas as câmeras que se movem freneticamente em busca de capturar tudo se desligam e some a imagem na tela que reproduz a execução do Marshall como se ele ainda estivesse vivo e sendo morto agora.

Tenho absoluta certeza de que ignorando aquela conversinha de não me fazer mal, pelo menos hoje, ela irá me denunciar para seus superiores, é o que qualquer cão do exército faria.

Pensei que nunca mais sentiria essa dor em meu peito, comprimindo meu coração, contanto que mante-se a Whithelly segura eu realmente nunca mais sentiria, ela se apegou muito rápido ao Marshall, mas não foi apenas com ela, aconteceu exatamente igual comigo.

Aproximo-me de seu rosto, sua expressão agora é suave e serena, lembro-me de vê-lo brincar descontraído com a Whithelly mesmo sem a minha permissão, de seu sorriso carinhoso, quebrando sua seriedade, muito diferente do sorriso triste tão comum de seu rosto, um gesto fragmentando a dureza desse mundo. Retiro os fios molhados de seu cabelo que lhe cobrem os olhos, tão cinzas, mas diferente da cor, sempre cheios de vida, mesmo a cada olhar demonstrando que não tinha um motivo forte para continuar a viver ele se mantinha sempre lutando.

Lembro-me do beijo que ele me deu quando desabafei com ele, não contenho meu desejo e como uma despedida beijo seus lábios agora gelados e sem vida buscando pelo calor da paixão e do desejo de nosso primeiro beijo, mas agora ele não retribui, apenas sinto o frio de seu corpo e a ausência de sua vida.

– Marshall se não quer viver por mim ou por sua irmã, então viva pela Mell, você não a ama? Ela continua viva. Lute contra isso.

Não quero perder mais uma pessoa que amo. Já tenho tão poucas, não é justo, mas assim é o mundo, eu devia saber que seria esse o fim. Deito em seu peito como sempre tive vontade, poder ficar tão perto de seu corpo, próxima o suficiente para sentir seu calor corporal em minha pele, para ouvir seu coração batendo, mas ele não bate mais...

Não quero vivenciar essa dor novamente, então deixo que a lógica e fria Esther tome conta de mim, esse não é o momento para sofrer, a Whithelly e a Mellanie precisam de mim.

Ouço o estalo de um rifle sendo engatilhado às minhas costas e passos discretos ao meu redor, se aproximando, levanto-me e olho ao meu redor e vejo um grupo de seis soldados me rodeando, os soldados enrijecem a cada movimento meu, esperando por uma ordem ou por uma reação minha para agirem, milhares de coisas passam por minha mente, diversas maneiras de fugir daqui ilesa, mas a maioria eu não posso executar devido ao meu ferimento.

Mesmo sabendo que aquela garota iria me denunciar eu não estava preparada para quando eles chegam, é tão rápida a aproximação deles que duvido se não estavam somente esperando uma autorização para derem as caras. A mãe do Marshall se aproxima de nós, assegurada por seus soldados.

Minha única opção é fugir e mesmo com o ferimento em meu peito e a incapacidade tendo me impedido a pouco me viro para correr, mas um número ainda maior de soldados surge da outra saída me cercando de todas as direções. Fico encurralada já que não há para onde eu ir, as paredes são lisas e planas demais para escalar até o segundo andar e a minha volta não tem nada que eu possa usar como arma.

Os soldados avançam em minha direção, com movimentos hostis e expressões odiosas por tudo que representa para eles eu ser uma Nacionalista. A cada passo diminuem o cerco a meu redor, praticamente zerando as minhas já poucas possibilidades de reação.

Até que param, a uma distância considerável de mim, maior do que a de uma típica abordagem militar, mesmo estando em uma desvantagem esmagadora poderia tentar algo para escapar, mas todas minha possibilidades se esgotam com uma única frase que sai da maldita boca da Marechal Kleyer.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora