Capítulo Três: Afeto, Prova de Amizade

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Mellanie


Eu devo ser a pessoa mais sem sorte do mundo, pois 1º de agosto como todos sabem é o dia em que ocorreu o primeiro atentado e com isso pessoas começaram a ser diagnosticadas com o Siruss, também é o dia em que nasci. Foi o dia em que começou a decadência do mundo que conhecemos e amamos, mas que não valorizamos.

– Ponto final e... Terminei pai. – Digo quando termino a redação, uma das muitas atividades que tenho de fazer como compensação da minha ausência.

– Na próxima, vê se você não deixa para o último instante!

– Tá pai... Eu sei. – respondo revirando a mochila, ele a toma de minhas mãos.

– Eu faço isso! Você já está muito atrasada, vai tomar seu café.

– Tá. – eu pulo nos seus braços e beijo seu rosto, quebrando sua dureza, ele apenas sorri, mas praticamente posso o ouvir pensando: – É uma eterna criança mesmo!

Desço as escadas correndo e antes de terminar meu pai grita: – Pare de correr Mell! Você vai cair!

– Eu não estou correndo! – retruco agora andando devagar.

A cozinha está perfeitamente limpa e tudo está exatamente no lugar como meu pai sempre deixa, tudo tão organizado e limpo. A geladeira até parece mais um espelho, vejo meu reflexo e embora nunca tenha ligado para isso agora estou me sentindo estranha com esse uniforme, não tem como alguém ficar bonito vestindo algo assim, meus longos cabelos estão presos em um coque, o que eu odeio.

Calçando botas de cano longo e vestindo um uniforme horrível que mais parece uma farda militar, toda preta e cinza com detalhes brancos e uma braçadeira com uma águia surgindo das chamas. O símbolo do órgão que rege toda a Altair, a Congregação Ministerial que tem como lideres os treze membros do Conselho.

Assim como o médico descreveu por causa dos sintomas do Siruss a melanina em meu corpo está diminuindo e meus cabelos de loiros extremamente claros já estão totalmente brancos e a minha pele está cada vez mais clara.

Eu pego uma xícara de café que como sempre está bem ralo, quase transparente e sem açúcar. Abro a porta da geladeira, que por sinal está quase vazia, praticamente só tem água, comida enlatada e ampolas com o Soro de controle Sigma que agora tenho de tomar para conter os sintomas do Siruss.

– Ah! Nem sei por que ainda tenho esperança! – bato a porta com força e a geladeira balança, um quadro no armário ao lado cai no chão, eu o pego e vejo a foto de minha mãe adotiva, sinto muito sua falta, às vezes tenho a impressão que esse sentimento vai corroer meu peito. A foto foi tirada no campus da universidade Haylard, o papai estava se formando.

É a única foto dela, ela e alguns amigos que não conheço estão encostados a um muro. Os formandos estão vestidos com suas becas e ela está vestida com roupas de gala, pode ser por causa da saudade, mas ela é a mais bonita de todos. Ela tem os olhos intensamente verdes e cabelos longos e lisos iguais aos de minha irmã, todos em minha família tem cabelos loiros, assim como eu, e isso é muito bom mesmo sendo adotada nunca me sentir deslocada, tanto pela minha aparência quanto pelo modo como fui criada.

Meu pai sorri encabulado, ele está aparentemente feliz, embora através de seus olhos azuis às vezes vejo que esse sentimento não é totalmente sincero.

Sinto algo tocando em meu ombro e me assusto. Rapidamente olho para trás e vejo meu pai, ele está me observando e sorri de meu susto, o que muito é bom, é tão raro o ver tão calmo, geralmente ele é fechado, dá para ver que ele sente muita saudade de nossa antiga vida. Coloco o retrato de volta no lugar

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora