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13 de fevereiro de 2004 – Columbus, Ohio

Enforcamento seria uma boa opção, mas bem agonizante. Nem pensar.

Intoxicação por remédios também seria rápido e quase indolor. Mas ainda conseguiriam me salvar se a dose não fosse forte o bastante (empurrando carvão ativado goela abaixo em mim) e se agissem bem rápido.

Morrer queimado à la bruxa da Inquisição? Além de ser super doloroso (isso se eu não morresse antes devido a inalação dos gases tóxicos), eu nem poderia ter um funeral decente nem ser enterrado ao lado de Josh.

Afogamento. Talvez. Mas já me afoguei no mar quando eu era criança e a experiência não foi das melhores. Eu não conseguiria me matar assim, nunca.

Se eu me jogar da minha janela... Minha janela não é alta o suficiente para uma morte rápida e certeira. Eu precisaria de muita sorte para morrer instantaneamente. Caso contrário eu só quebraria umas costelas, os braços e os ombros, e talvez até passaria um tempo em coma.

Cortar os pulsos e sangrar até morrer... é, ok. Seria viável se eu não desmaiasse assim que fizesse o primeiro corte (mesmo que fosse bem pequeno – eu não suporto ver nem fazer coisas do tipo).

Talvez eu pudesse simplesmente me jogar na frente de um ônibus. Mas eu ainda poderia sobreviver.

Dizem que a morte é uma certeza na vida de todo ser humano, mas quando você realmente para pra pensar nela, percebe que até a morte é tão incerta quanto o futuro.

Eu pensei muito em me matar. Eu não consigo mais chorar, minha cabeça dói, eu não durmo e nem como há três dias. Meus pais estão preocupados, já que acham que eu não estou sabendo lidar com meu luto. Mas eu estou lidando com ele. Estou lidando com a perda do garoto que mais amei na vida a meu modo, e acho justo.

Acho que essa é a última nota do diário. Mas não se preocupe, destinatário hipotético. Eu não vou me matar.

Eu só preciso entender o que aconteceu com Josh. Sejam quais forem os motivos dele, sei que estão nesse diário. Eu preciso entender.

Eu vou ler todas as páginas. De uma vez. Sem interrupções. Sem pontos continuados como esse parágrafo tem.

Sei que, depois de ler, talvez eu note algumas coisas que estavam o tirando de mim aos poucos e não percebi. Ou talvez não tenha acontecido nada. Mas... Sei lá. Não acho que ele se mataria por pouca coisa. Como aquela mulher falou, Josh era um menino forte.

Estou com o diário na minha mão. E, assim que eu terminar de escrever aqui, começarei a ler o que ele não conseguiu me dizer.

Goner (the one I'm not)Where stories live. Discover now