septuagésimo primeiro

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05 de dezembro de 2003 – Columbus, Ohio

Passei uma parte da madrugada escrevendo uma música chamada Time To Say Goodbye e ainda consegui uma melodia para ela no ukulele (errando todas as notas, mas consegui. Ainda bem que fiz aulas de violino e sei mais ou menos como tocar alguns acordes). Fiquei tão orgulhoso do resultado que acabei levando o ukulele junto comigo pra mostrar pro Josh como a música ficou.

Enquanto eu cantava, o Josh fechou os olhos e ficou ouvindo eu cantar. Eu gosto do jeito que ele ouve música: não com os ouvidos, apenas, e sim com a alma. Ele internaliza as palavras que eu canto e as torna suas. É por isso que ele se identifica tanto com as letras das minhas músicas, por mais depressivas e assustadoras que sejam.

“Agora você pode me dar o beijo que você tá me devendo”, eu falei, não achando que ele fosse levar a sério. Aí ele corou na hora.

“Que beijo?”, Josh falou. Eu quis apertar as bochechas dele porque era fofo o jeito que ele tinha ficado envergonhado. Eu só revirei os olhos e ele riu.

“Você disse que ia me dar um beijo na bochecha se eu cantasse pra você. Eu cantei. Agora pague a sua dívida, Joshie.”

“Por que você tá insistindo tanto que eu te beije, Tyler?”, ele perguntou. Era bem óbvio que ele não queria me dar aquele beijo, por mais rápido que fosse. Eu não sabia que explicação dar a Josh. Que dr*ga, eu sou um desastre nesse tipo de coisa.

“Eu gosto... Sei lá,” falei. Eu queria o meu beijo, mas não queria forçar Josh a fazer algo que ele não quisesse fazer. Ele olhava em meus olhos o tempo todo e eu só desviava o olhar, sem saber por onde olhar ou nem onde pôr as mãos. “Não precisa se você não quiser.”

Eu mal acabei de falar e o Josh beijou minha bochecha, prolongando o beijo mais do que eu esperava. Eu sorri (inevitavelmente. Meu próprio corpo me trai).

A gente não teve aulas juntos até a tarde (aula de Química). Mas o Josh não esteve comigo na aula de Química.

Eu estava em Cálculo Avançado (antes do almoço) quando fui ao banheiro e achei o Josh lá, chorando, parecendo desesperado. Meu coração pareceu desprender-se de todas as veias e artérias e cair ali mesmo no chão. Eu corri até ele e o abracei, sem ao menos entender o que tinha acontecido.

“Josh, o que aconteceu?”, eu perguntei. Eu não fazia ideia do que tinha acontecido e nem sei se eu queria saber a resposta. Ele só negou com a cabeça e disse que só tinha ido ao banheiro.

“Mas, Jishwa, você está chorando,” eu falei. Ele olhou pra mim. Não estava mais chorando, mas ainda parecia muito assustado. Ele estava pálido. Eu sabia que ele não ia conseguir me explicar nada, então eu o abracei e disse que ia estar ali com ele o tempo todo.

“Desculpa, Tyler,” o Josh disse.

“Shhhh, não se desculpe,” respondi. Perguntei se eu podia ajudar em algo, e ele falou que eu já estava ajudando só por estar ali.

Senti meu corpo se encher de alívio.

“Tá se sentindo bem? Quer ir pra casa?”, falei. A gente estava saindo do banheiro, e ele disse que queria ir pra casa. A gente foi até à sala do diretor pra ligar pra tia Laura.

Enquanto a tia Laura não chegava lá, eu fiquei com o Josh, abraçado a ele. Eu queria deixar ele o mais calmo possível e, mesmo que minha cabeça estivesse fervendo com dúvidas, não perguntei nada a Josh. Eu não queria fazer ele se lembrar do que tinha acontecido.

Quando o Josh voltou pra casa, meu coração ficou pesado, mas também mais leve. Eu sei que, com a mãe dele, ele está em boas mãos.

Goner (the one I'm not)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin