nonagésimo terceiro

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02 de janeiro de 2004 – Columbus, Ohio

Eu estou esperando por uma ligação do Josh desde ontem, mas até agora nada aconteceu.

A mãe dele até ligou para cá ontem, mas foi para nos desejar feliz ano novo. Eu perguntei pra ela onde estava o Josh, e ela disse que ele estava dormindo.

Se o Josh fosse um Pokémon, acho que ele seria um Snorlax, só que sem ser gordo.

Não está nevando muito esses dias, então na maior parte do tempo eu fico no quintal com meu ukulele, tentando criar algo novo ou então só tocando o que eu já tenho.

Hoje eu estava sentado na grama com meu ukulele, da mesma forma que eu estava com Josh no amanhecer de ontem, e aí minha mãe chegou e se sentou ao meu lado. Eu não falei nada e ela também não falou nada por um bom tempo.

“Foi legal?”, minha mãe perguntou.

“O quê?”

“O ano novo”, ela disse. “Com Josh.”

Eu até sorri.

“Foi, sim.”

Ela sorriu de volta.

“Você cantou pra ele?”

Eu corei. Ela deu risada.

“Eu vi vocês vindo pra cá ontem de manhã,” ela continuou. “Vocês são fofos.”

“Todos falam isso,” eu murmurei.

“Todos quem?” Minha mãe era pior que as meninas da minha escola em se tratando de fofoca.

“Todos, não, é... Uma menina da escola. Jenna Black. Ela nos acha fofos.”

Minha mãe deu uma risadinha.

“Filho, você... Gosta do Josh, não é?”

Eu não respondi imediatamente. Nem olhei pra ela.

“Você sabe que pode me contar, se quiser,” ela falou. “Não tem problema nenhum em gostar dele, eu já falei. Ele é um bom garoto. Gosto dele. Adoraria que ele fizesse parte da nossa família.”

Eu corei muito nessa hora.

“Mas eu nem sei se ele gosta de mim do mesmo jeito que gosto dele, mãe!” Eu parecia um bebê chorão. Minha mãe me abraçou.

“É,” disse ela. “Isso acontece.”

“Mãe,” eu falei. “Posso te contar uma coisa?”

“Claro.”

“Então, sabe o dia que eu dormi lá na casa do Josh?”, eu comecei, sem fazer ideia de como continuar. Ela esperava que eu falasse. “A gente dormiu junto, e...”

“E...?” ela fazia uma cara como se estivesse prestes a ouvir um conto erótico narrado pelo filho.

“E... Eu beijei ele. Muito rápido. Foi só isso.”

Eu não podia dizer que ele estava DORMINDO enquanto eu fiz isso.

“E o que ele disse?”, ela estava gritando. “Ele gostou?”

“Não sei,” olhei para baixo. Meu peito doía. “Ele não disse nada.”

“Ah, não, filho,” ela parecia triste por mim. “Mas vocês repetiram a dose ontem?”

“Mãe!” eu quase gritei, mas eu ri pra não chorar. “Não, a gente não se beijou.”

“Ah, que pena,” ela falou. “Mas as aulas vão voltar. Aproveite as oportunidades.”

Eu fiquei em silêncio.

“Armários de materiais de limpeza são uma boa ideia, ok?”, foi o que ela falou antes de beijar o topo da minha cabeça e voltar pra casa.

Para minha mãe parece tão fácil arrastar o menino que você gosta pra um armário escuro e beijá-lo lá...

Será que ela fez isso com meu pai? Ew.

Goner (the one I'm not)Onde histórias criam vida. Descubra agora