nonagésimo segundo

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01 de janeiro de 2004 – Columbus, Ohio

2004 mal começou e eu já o amo.

Eu acordei LITERALMENTE às quatro da manhã e não consegui mais dormir. Então fui tocar algumas coisas no ukulele até amanhecer (ou meus pais acordarem com Zack dizendo que não suportava mais me ouvir cantando no quarto). Meus pais não brigaram comigo, só disseram para o Zack que isso não era motivo de reclamação, que eu cantava muito bem e etc.

O Zack ficou bufando e mal falou comigo o dia todo.

Almocei bem pouco. Minha mãe teve que me chantagear, dizendo que ia ligar pro Josh cancelando a vinda dele de ontem se eu não comesse nada, então acabei colocando mais ervilhas e mais frango no prato.

O Josh chegou às sete da noite. A mãe dele acenou pra mim de longe, lá do carro dela, enquanto o Josh estava na porta com uma mochila e seus cabelos azuis desbotados (esse tom de azul é único e incapaz de ser reproduzido por algum outro material criado pelo ser humano).

“Caramba, você...” Eu ia dizer “você está lindo”, mas o Josh iria achar estranho. “Você veio mesmo”,

“Eu estava mais ansioso pra isso do que você”, ele respondeu com um sorriso.

“Impossível você estar mais ansioso do que eu,” eu falei e aí nós entramos em casa.

Meus pais tiveram que fazer a famosa recepção ao Josh. Eu já estava com vergonha dos meus pais ficarem perguntando coisas como “Como vai a escola?”, “Está gostando das férias?”, “Você separa suas cuecas por cor?”, como se ele fosse uma criança em idade pré-escolar. Quando eu finalmente consegui tirar o Josh de lá, nós nos trancamos no meu quarto.

Desde que eu dormi junto com ele (e beijei ele), era a primeira vez que estávamos juntos e sozinhos. Eu não queria falar sobre o que tinha acontecido, mas ao mesmo tempo queria. Só que ele tinha acabado de chegar em casa, e a gente ia passar a noite toda juntos. Eu acabei decidindo que ia contar pra ele assim que desse meia-noite.

Eu me sentei na cama, com meu ukulele na mão, e imediatamente Josh se sentou ao meu lado. Só fechei meus olhos e senti o perfume dele.

“Sabe, nunca passei a virada de ano com ninguém”, eu falei. Deitei sobre a minha cama, e Josh fez o mesmo. Eu sorri quando olhei para ele, ali ao meu lado, tão bonito.

“Nem eu,” ele respondeu. Ele olhou para mim. Eu não esperava ser pego olhando assim pra ele, então acabei me afastando um pouco dele, enquanto tudo o que eu queria fazer era me aproximar mais ainda.

“O que você quer fazer essa noite?”, perguntei a ele.

“Ah, o que você quiser fazer eu também vou querer,” Josh falou. Ele é tão fofo. Eu sorri ouvindo isso.

“Então você aguenta me ouvir cantar a noite toda?”

“Mas isso não é pra ser uma coisa boa?”, ele perguntou, parecendo perdido.

“Talvez”, eu falei, me levantando da cama. Peguei meu ukulele e olhei pro Josh, que ainda estava deitado na minha cama. “O que você quer que eu cante?”

“Qualquer coisa”, ele abraçou meu travesseiro assim que ele se levantou. Juro, meu travesseiro ainda está com o cheiro dele. Nunca vou lavá-lo.

“Eu ainda não escrevi uma música que tenha esse nome”, respondi. “Escolhe outra.”

“Idiota.” Ele me bateu com o travesseiro com um pouco de força. Doeu um pouco, mas eu ri. “Você tem alguma música nova?”

“Bem, tenho,” eu falei. Entreguei meu caderno de músicas a ele. Eu estava com um pé atrás, ainda, imaginando o que ele ia pensar do que ele estava lendo lá. Mas o olhar dele não era do tipo reprovador, e eu adorei isso.

Goner (the one I'm not)Where stories live. Discover now