nonagésimo quinto

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06 de janeiro de 2004 – Columbus, Ohio

Cheguei bem cedo à escola pra ver Josh chegando. Deu certo. Estava frio do lado de fora, mas eu fiquei lá pra ver ele chegar.

Incrível como isso se tornou meu passatempo favorito. É como se, quando ele chegasse, as portas do Céu se abrissem para me receber.

Eu fiquei muito satisfeito em vê-lo novamente depois de alguns dias, mas logo que a gente conversou um pouco eu notei o quanto ele parecia... Sei lá. Cansado? Abatido? Triste?

Eu já falei aqui do quanto os olhos dele são lindos, mas quando eles perdem o brilho, eu não consigo encará-los por muito tempo. Eu não sei por que, mas se Josh está triste, isso me causa certo tipo de dor que me imobiliza.

Eu nem consegui fazer nada pra ele se sentir melhor.

Ele não comeu nada no almoço. Fiquei oferecendo batatas fritas para ele, mas ele sempre recusava, dizendo que não estava com fome. Eu segurava a mão dele, preocupado, e ele só dizia “Ah, tá tudo bem comigo, Ty”.

A gente nem teve aulas juntos à tarde, e quando eu o procurei na hora da saída pra conversarmos um pouco sozinhos, eu não o achei em lugar nenhum.

Minha mãe notou que eu tinha chegado um pouco pra baixo em casa e, para minha infelicidade, ela foi logo me seguindo para dentro do meu quarto.

“E aí, você levou um fora?”, ela perguntou imediatamente.

“Quê?”

“Você chegou aí todo tristinho, o que foi? Você se declarou pro Josh e ele recusou seu amor?”, ela falou, mas seu tom não era de deboche. Ela sempre falava das coisas desse jeito, e até seria engraçado se eu não estivesse tão preocupado.

“Não, o Josh não parece que tá muito bem,” eu respondi. Eu estava sentado ao lado dela, então ela botou um braço em cima do meu ombro, agindo como se fosse meu pai.

“Filho,” disse ela. “Calma. Tudo bem não estar bem por um dia. Acho que amanhã ele vai estar bem, ok? Faz ele sorrir, faz ele sentir que é especial pra você, e ele vai se sentir bem.”

Eu dei um sorriso para minha mãe.

“Aí depois é só dar o bote,” ela falou.

“Mãe!” eu até dei risada. Ela deu o eventual beijo no topo da minha cabeça e, ao sair do quarto, quando ainda estava na porta, fez um movimento com o braço como se este fosse uma cobra. Eu ri disso também.

Pensei em ligar para o Josh agora à noite, mas minha intuição (eu nem sabia que eu tinha uma intuição) diz que não devo fazer isso. É melhor esperar pelos próximos dias. A minha mãe até que está certa, todo mundo tem direito de não estar bem todo dia. 



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Goner (the one I'm not)Where stories live. Discover now