quadragésimo quarto

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31 de outubro de 2003 – Columbus, Ohio

Eu não queria que Josh fosse embora. Ele também não queria. Mas ele teve que ir.

Eu não ia conseguir deixar para escrever amanhã, então aqui estou, acordado às onze da noite, escrevendo. Hoje foi simplesmente incrível. Josh torna tudo melhor.

O Josh chegou às nove da manhã. Meus pais o interrogaram um pouco (como eles fizeram com Aimee). Perguntaram se ele ainda saía para pedir doces, e ele disse que não. Como sempre, passei a famosa vergonha causada pelos pais, no que consistiu meu pai rindo de mim e dizendo “Hahaha, o Tyler diz que é velho demais para pedir doces!”.

Consegui tirar o Josh dali com a desculpa de irmos pro quarto jogar videogame. Quando Aimee era minha amiga, meus pais desconfiavam de mim quando eu a levava pro meu quarto, então eu tinha que deixar a porta aberta ou ficar na sala. Como o Josh é um garoto, eles não desconfiam (muito).

Quer dizer, minha mãe desconfia porque ela sabe que sou bissexual. Porém, ela não me mandou deixar a porta aberta, nem ficou olhando estranho para mim e para o Josh. É por isso que amo a minha mãe.

Minha mãe fez a tradicional torta de abóbora de Halloween dos Joseph. Depois do almoço, ela nos deu um monte de doces: pirulitos, bombons, chocolates, caramelos, doces de leite... Era tipo uma diabetes melito em pacotinhos.

Deve ter se passado muito tempo até que terminamos todos aqueles bombons. Peguei o último pirulito, mas Josh ficou olhando pra ele como se o quisesse. O pirulito já estava na minha boca, mas não vi problemas em tirá-lo de lá e oferecer ao Josh.

Ele negou na hora e começou a rir. Ele corou, também. Eu ainda estava segurando o pirulito.

“Nós somos amigos,” dei de ombros. “O que tem?”

Ele pegou o pirulito da minha mão.

“Tá bom,” Josh colocou o pirulito na boca e ficou com ele lá.

Confesso que foi ‘legal’ ver o Josh colocando aquele pirulito na boca. Eu tentava não rir, porque, apesar de estranha, era meio estúpida toda a situação. Eu não queria pensar em nada do tipo, mas na minha cabeça aquilo era tipo um beijo indireto. Espero que Josh não tenha pensado o mesmo. Parece até que eu queria beijar o Josh.

“Pode rir,” Josh falou, me encarando fixamente. Eu comecei a rir até não conseguir respirar direito. “Isso é tão errado.”

“Mas não tem problema. Melhores amigos dividem doces,” eu disse a ele. Josh me entregou o pirulito e eu o coloquei na boca.

“Onde isso está escrito?”, Josh perguntou, estreitando os olhos (Deus, eu amo quando ele faz isso).

“Lugar nenhum, Josh. Acabei de inventar essa regra,” falei. Ele riu.

“Gosto dessa regra,” Josh respondeu. “Tyler Joseph para presidente!”

Eu ri da frase dele. O Josh dividiu entre nós dois o último chocolate que havia sobre a cama.

Minha mãe nos trouxe pizza para o jantar. Eu comi apenas uma fatia, já que eu estava cheio de doces.

“Eu amo pizza,” Josh falou. “É a minha comida preferida.”

“Eu amo tacos mais do que a minha própria vida,” eu respondi.

“A gente pode ir na Taco Bell qualquer dia, não é?”

Quando Josh falou isso, algo iluminou minha mente do nada. Sabe aqueles desenhos animados, onde o personagem tem uma ideia e aparece uma lâmpada acesa sobre a sua cabeça? Pois foi justamente assim que me senti.

Deixei a pizza pela metade em cima da cama e corri para o meu armário, até à gaveta onde eu guardo meu caderno de músicas. Comecei a procurar Just Like Yesterday, que eu tinha reescrito há alguns dias. Quando achei, entreguei a Josh.

“O que é isso?”, o Josh perguntou. Eu estava nervoso, quase tremendo. Fiquei imaginando se ele não gostasse.

“É uma música que eu tô trabalhando”, falei, tentando parecer mais seguro de mim enquanto eu só queria gritar “É O MEU BEBÊ, A MÚSICA DA QUAL MAIS TENHO ORGULHO DE TER ESCRITO ATÉ HOJE!!!!!”. “Você gostou?”

Josh segurou a minha mão e sorriu. Eu senti vontade de abraçar ele muito forte.

“Você é muito bom nisso”, ele falou. Meu coração se aqueceu. Eu comecei a sorrir, e aí o Josh me abraçou. Eu fechei meus olhos e me deixei levar pelo abraço dele.

Ele tinha gostado de Just Like Yesterday. Deus, ELE GOSTOU DE UMA MÚSICA MINHA!!!!!!!!!

“Tyler, canta pra mim?”, Josh falou de repente.

“Não, o arranjo ainda não tá pronto,” eu expliquei. “É difícil criar uma melodia quando não se tem um instrumento para acompanhar, não é?”

Ele ficou em silêncio, concordando.

“Mas tem partes já prontas. Quer ouvir?”, eu ofereci. O Josh pareceu ter ficado meio tristinho quando falei que eu não ia cantar.

Aí ele disse que queria ouvir, então eu cantei. Pelo jeito que ele olhava pra mim, ele devia estar gostando de me ouvir cantar.

Nunca cantei minhas músicas para ninguém, nem para minha família, nem para Aimee. Mostrar essas músicas pro Josh e cantar para ele foi como inseri-lo no meu mundo, um mundo em que eu nunca tinha deixado ninguém entrar. Mas ele tinha conseguido. Josh agora conhecia aquela parte de mim, ele estava me ouvindo cantar sobre depressão e etc., e ele estava gostando.

Depois, pra aliviar o clima da música, eu cantei TB Saga. Ele cantou junto comigo porque achou a letra bem idiota – no bom sentido, ele disse.

Ele estava chorando de rir depois de terminarmos TB Saga. Foi o que eu esperava.

“Tyler, você tem que trabalhar com música”, Josh falou. Ele estava falando sério. Meu coração começou a bater forte.

“Como assim?”, eu ainda estava meio confuso, embora tivesse entendido perfeitamente o que ele havia me dito.

“Sei lá”, ele deu de ombros. “Já pensou em formar uma banda?”

É claro que eu já havia pensado. O problema é que eu não conhecia ninguém que podia gostar das minhas músicas. Quer dizer, Josh havia gostado e ele seria minha escolha mais óbvia, mas acho que só duas pessoas não são suficientes pra uma banda.

“Já,” falei. “Mas com quem?”

“Não sei,” o Josh parecia meio chateado. “Você ainda vai conhecer muitas pessoas, talvez algumas delas também queiram montar uma banda.”

“É, mas duvido que essas pessoas gostariam de tocar algo como Taco Bell Saga,” eu disse. Josh deu risada.

A minha mãe apareceu logo depois no quarto, dizendo que a tia Laura tinha chegado para buscar o Josh.

Fui com ele até a sala e então abracei ele mais uma vez antes que ele fosse embora. Ele mal tinha saído e eu já queria que ele voltasse.

Eu estava me preparando para dormir quando minha mãe entrou no quarto e disse que o Josh estava no telefone. Aí eu pedi pra ela passar a ligação pra extensão do meu quarto.

Atendi o Josh enquanto meu caderno de músicas estava no meu colo. Conversamos por um bom tempo sobre meus planos de montar uma banda. Ele sugeriu o nome ‘Melancias Antipáticas’, mas depois ele mesmo admitiu que o nome era uma p*rcaria.

Aí eu comecei a cantar uns versos de Air Catcher pra ele. Ainda não terminei a música, mas eu acho ela tão linda que decidi cantar pra ele mesmo assim. Enquanto eu cantava, o Josh disse que a mãe dele estava mandando ele desligar.

Eu só queria saber se tinha alguma forma de abraçar alguém por telefone. Era o que eu queria fazer. Abraçar o Josh e nunca mais soltar.

Um dia eu realizo esse sonho.




O MAGNETITE SAIU ESSA MADRUGADA E ELE TA MUITO FODA, SCALENE SENDO FODA COMO SEMPRE

Goner (the one I'm not)Where stories live. Discover now