centésimo quinto

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22 de janeiro de 2004 – Columbus, Ohio

Eu não durmo desde as quatro da manhã, então nesse tempo que fiquei acordado, escrevi uma música nova. Dei a ela o nome de “Before You Start Your Day”. Parece ótimo.

Hoje a Jenna falou comigo. Eu estava almoçando sozinho, então ela colocou sua bandeja perto de mim e se sentou ao meu lado.

“Onde o Josh está?”, ela perguntou.

“Ele não vem mais à escola,” eu respondi.

“Nossa, por quê?”

“Eu também não sei. Mas a mãe dele diz que ele tem...” eu engasguei. “Problemas de saúde.”

A Jenna levantou uma sobrancelha.

“Ele já estava faltando muito, né?”, ela disse. “Depois das férias de inverno, quase toda vez que eu o via, ele não parecia muito bem.”

“É,” eu disse. “Espero que ele melhore e volte logo.”

Jenna sorriu e segurou minha mão.

“Você não consegue ficar sem ele, né?”, ela perguntou. Seu tom não era maldoso. Olhei para ela, e aqueles olhos azuis me fizeram esquecer todos os meus bloqueios em relação a falar sobre meus sentimentos.

Jenna é uma criatura tão boa e iluminada quanto Josh. Mas ela nunca substituiria o Josh.

“É,” eu falei. “Minha mãe disse que eu ainda posso ir visitar ele nos fins de semana, mas não é a mesma coisa. Você entende, não é?”

Ela acenou com a cabeça.

Eu falei o quanto minha vida tinha melhorado desde que ele tinha chegado na escola e virado meu amigo. Jenna só me ouvia, e eu só falava. Só não falei que eu já tinha beijado ele. Isso era pessoal demais.

“Tyler,” ela falou. “Todo mundo que a gente conhece nesse mundo nos ensina uma coisa, seja pelo bem ou pelo mal”. Eu assenti com a cabeça. Eu sabia muito bem disso.

“Você me ensinou uma coisa hoje,” ela afirmou. Perguntei o que tinha sido, e então ela falou: “Não importa a idade, o que a gente sente tem que ser levado muito a sério.”

Eu pedi pra ela explicar melhor, então ela riu e falou:

“Tyler, a gente tem só quinze anos. Eu nunca conheci alguém da nossa idade com um sentimento tão forte e tão puro quanto o que você tem pelo seu amigo. Teoricamente, somos jovens e todos nossos relacionamentos são passageiros, mas você está provando que o senso comum tá errado ao...” ela parou para respirar. “Amar o Josh mesmo sem que você deixe isso claro em palavras.”

Eu fiquei calado.

“Eu noto vocês dois aqui na escola. Amor não é só dizer “eu te amo”, amor é...” Ela ficava parando para encontrar as palavras certas. “Amor é estar presente. Cuidar, sentir, entender o outro. E você faz isso. Ele também faz isso com você. Tyler, você me ensinou o que é amor de uma forma que meus pais nunca puderam me explicar.”

Minha garganta estava tão seca que eu nem conseguia falar. Ela apertou minha mão bem forte e sorriu. Eu também consegui sorrir. Eu até estava me sentindo mais leve.

Quando o almoço terminou, eu agradeci a ela por ter ficado ali comigo. ela só sorriu e respondeu: “Eu que agradeço por ser a pessoa mais preciosa do mundo, Tyler.”

Acho que ela está um pouco enganada.

A pessoa mais preciosa do mundo é Josh.

(Ok, destinatário hipotético, não revire os olhos. Eu sou só um menino apaixonado e com saudades.)

Goner (the one I'm not)Where stories live. Discover now