Capítulo Oito: Salvadora, Vida à Mercê do Mundo

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A imagem da bomba viral detonando no ar do céu de Dylan, a poucos quilômetros de distância de mim me desperta com um sobressalto. Pesadelos se tornaram cotidianos para mim, sempre acabo acordando exaltado por eu ser assombrado em sonhos com o dia do atentado a Dylan ou com dias ainda piores.

Abro meus olhos e lentamente observo tudo ao redor, o cômodo muito fechado está quase completamente escuro, as luzes estão apagadas, o dia está no auge lá fora e agora faz muito calor, sei que estou nos arredores de Salty e reconheço esse clima tão abrasador, sinto o característico ar de Kessler, sempre muito quente e quase rarefeito, como o setor foi praticamente abandonado completamente Altair reduziu muito o tratamento do ar, hoje é apenas quarenta porcento do necessário e mesmo os portões do domo ficando abertos constantemente não é o suficiente para termos um ar puro e suficiente.

Estou deitado numa cama, agora estou descalço e meu peito está despido, apenas faixas em meus ferimentos o cobre, mas está quente e meu corpo soa por isso. Vejo o paletó do exército que eu vestia agora está sobre uma cadeira do outro lado do cômodo que é um quarto infantil muito familiar.

As paredes são azuis e tem incontáveis estrelas no teto, nas paredes tem vários desenhos pueris sobre desbotados papeis de parede com um programa televisivo para crianças, a Trice adorava esse desenho. Levo mais de um minuto para reconhecê-lo, meu raciocínio ainda está lento, estou em um bairro rico de Kessler, mais especificamente o apartamento da mamãe, ao pensar nisso lembro-me do meu pai sendo baleado.

Percebo algo apertando meu pulso esquerdo, o levanto e o sinto como se estivesse com peso. No lugar disso vejo uma munhequeira preta sobre o meu chip de identificação, ela foi modificada, uma lateral tem as marcas de uma costura caseira e noto um pedaço de metal prateado dentro do pano entre o tecido superior e inferior que toca minha pele.

A porta se abre e uma garota loira entra carregando uma vela que dá um ar sombrio a seus olhos intensos e negros.

– Trice... – balbucio, quando falo meu peito dói, reparo que ao respirar também.

A garota se aproxima, não é a Trice, mas inexplicavelmente não me decepciono. Deixo minha cabeça cair novamente no colchão sem travesseiro e lençol. Vejo seus olhos negros cintilarem, refletindo a chama da vela, seu rosto delicado e angelical, mas sua expressão é rígida. Ela me encara constantemente, poderia dizer que sente raiva de mim, que me odeia até o mais profundo de sua alma.

Ela é a garota que está cuidando de mim, reconheço seus cabelos loiros e o inconfundível pingente de sua gargantilha, ela tem zelado por mim e deve ser apenas por ela que ainda estou vivo, mas estranho o fato dela ter me ajudado e já que estou fardado de não ter chamado outros soldados para me resgatarem como todo mundo faria, contudo se ela tivesse feito isso agora eu estaria preso. Agradeço muito a ela por ter me resgatado, mas me sinto culpado por ela estar se arriscando ao ajudar um foragido e sem nem sabe disso.

– É para não te localizarem. – diz ela ao ver que observo a munhequeira, reparo no pulso dela, mas ela não o usa. – O Chumbo desativa o chip.

Ela fica calada por um tempo observando cada movimento meu. Pergunto-me por que ela teria de se esconder dos radares de Altair, a única explicação seria se ela fosse uma Nacionalista, no entanto se fosse esse o caso ela não teria me socorrido como fez, ela teria me deixado morrer pela hemorragia naquele carro acidentado ou até mesmo me matado, seria um soldado de Altair a menos.

Walking For Silence - InsurreiçãoWhere stories live. Discover now