O Passado

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Miami, U.S.A. — 15 de Setembro de 2017 (21h02min)

Lauren

Aquele verão em Marcielle foi o pior da minha vida. Eu estava sempre confusa e sozinha, tinha medo de sair na rua e sair do meu quarto. Não entrava mais no quarto de Chris e pedi para meus pais tirarem Taylor do meu; ela passou a dormir com eles porque eu não conseguia olhar para a cara da minha irmã, ali tão frágil, tão pequena.

Eu não estava bem. Eu estava acabada; quase não comia, não abria a janela, não saia da cama. Primeiro acharam que era depressão, mas ai eu comecei a surtar, e então, acharam que era esquizofrênica.

A verdade é que eu surtava todas as noites, assim que acordava eu já começava a gritar, ouvir vozes, as luzes embaçavam minha cabeça, então eu quebrei a lampada do meu quarto e só ficava no escuro. Eu me machucava e não deixava ninguém me ajudar.

Eu sonhava todas as noites com o dia do acidente. Eu via Chris morrendo noite após noite, sempre de jeitos diferentes, mas no mesmo lugar, pelo mesmo motivo; e eu nunca sabia qual era a versão certa...

Na maioria ele tentava me tirar da frente do carro, e em outros, eu usava de escudo sem querer. Quase sempre o vvia sendo esmagado pela rosa do enorme carro preto desgovernado e via a manivela do automóvel batendo forte em sua cabeça o fazendo desmaiar.

Em seguida eu acordava.

Eu não lembro do acidente. Só tenho lapsos de memória de alguns momentos antes e alguns momentos depois; só sei que acordei no hospital vários dias depois, sem lembrar nem de que tinha perdido meu irmão, com as costas machucadas, costelas, braço e perna quebrados e um corte na cabeça que estava bem feio.

Meses se passaram e parecia que nada nunca era real... Tudo era apenas uma consequência do que eu causei ao meu irmão. Eu tinha certeza que a culpa era minha. Aliás: ainda tenho.

Eu quem nos perdeu, eu quem não soube voltar pra casa, e eu quem era a responsável por ele longe dos nossos país, então a perda da vida dele é culpa minha.

Me mandaram para um instituto de psiquiatria com suspeita de esquizofrenia. Era especializado em crianças em adolescentes com problemas psiquiátricos. Mas foi constatado que eu não tenho esquizofrenia, mas uma versão mais grave da síndrome do pânico. — Consideraram a ideia de me lobotomizar depois de quase dois meses sem resultados; acharam que meu choque seria permanente.

Meus pais não deixaram, claro.

Um ano se passou e os remédios começaram a fazer efeito... Anti-depressivos, calmantes, remédios que induziam minha fome e soníferos. Acabei melhorando, com muito esforço e dor, mas melhorei; percebi que tantas pessoas eram lobotomizadas por dia, e se não melhorasse em breve eu poderia ser uma delas. Elas não tinham consciência do que faziam, mas eu sim... Então tomei as rédias e acabei melhorando, por Chris e pela minha família.

As crises eram menores, os pesadelos diminuíram, e a menos que me deixassem perto de algo relacionado a Chris, eu ficava bem.

Meus pais guardaram tudo o que era dele para eu não ver, e arrumaram o quarto dele para Taylor, assim, quando eu voltasse, eu não precisava ficar perto dela até me acostumar com a ideia de que eu poderia sim ser capaz de cuidar da minha irmã sem feri-la.

Eu saí na primavera, e de lá, fomos para Paris. Eu sempre quis ir lá, ver as flores nascendo e a torre Eiffel; ver o Ballet Francês. — Fomos ver  Copéllia. E lá eu conheci Chris. Foi amor a primeira vista. Ele era tão lindo e cavalheiro; era um príncipe.

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