Lenços de Papel

9K 972 338
                                    

Miami, U.S.A   30 de Julho de 2017 (13h45min)

Lauren

— Lauren, por favor, tente ser mais rápida, meus pés já estão doendo. — suplicou Normani já tremendo nas pontas que estava parada a quase uma horas.

— Tudo bem, pode descer, eu já terminei. — disse dando os últimos toques no desenho.

— Deixe-me ver. — ela vem saltitando até mim, com expressão de dor a cada passo. — Está lindo, Lauren.

—Obrigada... — agradeci com um sorriso. — Olhe, eu desenhei a cidade também. As vezes me perco e nem percebo que desenho coisas a mais.

Nós duas fomos para a grade de proteção e olhamos a cidade, enorme, com a praia cheia. Podíamos ver os pontinhos perambulando pela areia branca de Miami, e pássaros bem estranhos sobrevoando os céus.

— Que prédios esquisitos, não é? E são maiores do que imaginei — comenta Normani, olhando prédios feitos inteiramente de vidro.

— Deve ser coisa de americano. — comento apenas deslumbrada com a paisagem.

Não demorou muito tempo e logo atracamos no porto. Podíamos ver várias pessoas se aglomerando em torno do navio, provavelmente para auxiliar os passageiros que poderiam estar um tanto enjoados ou descarregar os bagageiros do navio.

Eu e Normani saímos correndo para nossos quartos pegar as malas, e quando voltamos, todos os passageiros e tripulantes estavam reunidos no deck do navio. Alguns homens conversavam com o capitão a frente do círculo de pessoas que amontoavam-se ao redor deles, tentando entender o que acontecia. Eu e Normani não ficaríamos para trás.

Nos esprememos entre os passageiros até chegar a uma distância razoável para ouvir a conversa entre o capitão e o homem da Marinha.

— Capitão, eu estou te falando, você não pode desembarcar nesse porto, ele já está reservado. — disse o homem.

— Sim, para mim e meu navio. Viajei 5 dias nessa banheira para atracar aqui. — retrucou o capitão.

— Qual seu nome, senhor?

— Capitão O'Connor, meu navio é Santa Mônica, vindo de Marseille. Basta ver. O porto está reservado para meu navio desembarcar no dia 30 de Julho. — ele diz batendo forte o dedo na prancheta do marujo a sua frente.

— ... De 1923... — ele diz pasmo, com a voz mais baixa e passando a mão no cabelo.

O homem, desentendido, olhava todos a sua volta, parecia estar com medo, como se estivesse tendo uma alucinação.

— Ora, obvio que é de 1923, que outro ano seria? — alguns membros da tripulação riem.

O marinheiro que conversava com o capitão começa a ficar vermelho, suas mãos tremem como se tivesse visto um fantasma. Ele vai até a grade de segurança e grita "Subam aqui. Agora!". Ele faz um alvoroço, todos os trabalhadores do porto sobem correndo para o navio, e o capitão, já furioso, coloca as mãos cruzadas no peito com cara de poucos amigos. O Marinheiro chega no homem que provavelmente seria seu superior e começam a conversar ao pé do ouvido, nada que possamos escutar.

— Capitão, por favor — o oficial se aproxima — O senhor tem certeza que este é o RMS Santa Mônica? Com rota de Marseille a Miami de 05 a 30 de Julho de 1923?

O capitão afirma. O oficial também pareceu pasmo, tão embasbacado quanto o último que recebeu a notícia. Ele saiu perguntando a todos os outros passageiros haviam ao redor, coisas que só ouvi de relance, mas não parecia ser algo que eu soubesse responder; e então, ele chegou a mim.

Simpler TimesWhere stories live. Discover now