De Volta a Casa

5.1K 521 21
                                    

Miami, U.S.A. — 07 de Setembro de 2017 (21h10min)

Lauren

Ao abrir a porta de casa sinto o cheiro do lustra móveis que a faxineira usava, eu gostava. Sentia falta deste apartamento grande e escuro onde estava morando com Camila; de assistir TV com ela todos os dias, de ler meus livros e de dormir na minha confortável cama. Também sentia falta de dançar, e pulava de alegria pelo médico ter dito que eu poderia dançar sem me preocupar com os pontos desde que não fizesse movimentos muito bruscos.

A primeira coisa que faço é ir ao meu quarto e me deitar em minha cama. Eu estava cansada, eu dormi por sete dias, mas parece que mal havia pregado os olhos. Tudo o que queria era ficar deitada e olhar o álbum de fotos de Taylor... Eu precisava ver minha família, mesmo que isso fosse torturante.

Procuro o álbum pelo quarto e o levo para a cama, me deitando novamente e começando a folheá-lo. Era lindo ver minha família toda reunida, mesmo que por foto. Em pensar que pouco tempo depois disso tudo desandou, e nada nunca voltou a ser assim.

Deixo as lagrimas escorrerem pela minha bochecha sem tentar seca-las; eu precisava disso, sabia que sofrer por isso agora seria melhor que tentar esconder e tudo piorar depois... Como da última vez.

Ouço o som da madeira da porta sendo batida três vezes, e Camila parada do lado de fora do quarto apenas me olhando, como se esperasse que eu a deixasse entrar. Bato a mão na cama, atrás de mim, pedindo pra ela se sentar ao meu lado. Eu me sentia bem na presença dela, me sentia segura; fazia tempo que não me sentia assim com alguém.

Ela senta atrás de mim, com as pernas cruzadas e o corpo curvado, olhando o álbum a minha frente. Em seus lábios um sorriso forçado, como se quisesse demonstrar alegria para me deixar melhor, mas não se sentia realmente bem. — Viro a pagina do álbum e parece uma foto minha com Chris, brincando com castelos de areia na praia de Marseille.

— Esse dia foi engraçado... Faltava alguns dias pro aniversário de Chris e ele queria passar na praia com alguns amigos, mas os pais não deixaram, então fomos indo de parque em parque, em todas as praças e praias procurando crianças e fazendo amizade. Acabaram que aquelas crianças viraram nossos melhores amigos. — eu sorri olhando a foto que estava em baixo, como uma continuação da anterior, onde eu e ele estávamos atrás da mesa onde ele soprava as velhinhas, e as crianças ao nosso redor sorrindo. — Papai teve muita sorte pra tirar essa foto, pois as câmeras demoravam muito para baterem fotografias naquela época, então ele começou o preparo antes, mas e na hora exata ela saiu.

Camila sorriu atrás de mim e começou a acariciar meu braço, como se me desse apoio, e era tudo o que eu precisava, alguém ao meu lado mesmo que não falasse nada. Viro a página e vejo mais uma foto minha e de Chris, mas com a mamãe ao nosso lado segurando Taylor.

— Isso foi no dia que a Taylor nasceu. Papai esperou até ela dormir pra poder tirar a foto sem sair borrada, por isso não temos nenhuma foto dela bebê e com os olhos abertos. — digo sorrindo mostrando mais algumas.

Olhamos algumas fotos e eu fui contando suas histórias, dando risada e chorando ao mesmo tempo, não sabia como reagir a tantas lembranças; não sabia se ficava triste ou se ficava feliz, não tinha nenhum jeito melhor de olhar aquelas fotos sem ser com os olhos inchados de lágrimas e um sorriso triste. 

— Essa foto foi tirada no dia que conheci Luis. Tínhamos ido ver Coppélia e ele estava lá com a família, nos conhecemos quando nossos pais começaram a falar de negócios. Ele foi a primeira pessoa me deu coragem de sair de perto dos meus pais em um ano, e foi um passeio muito agradável. — passava o dedo por cima de sua foto, como se ele pudesse sentir a caricia de onde quer que ele estivesse. — Onde será que ele está agora?

Percebi que o sorriso dela se desfez, mas ela não parou de acariciar meu braço. Não havia pensado em Luis desde que cheguei aqui, mas eu sentia sua falta, só não queria ter que pensar que eu nunca mais o veria. Será que é isso que está me impedindo de me aproximar de Camila dessa forma? Talvez eu ainda me sinta ligada a ele de alguma forma e se eu soubesse que ele seguiu a vida eu conseguiria me livrar desse apego e poderia dar uma chance a ela. Por que não? Estamos no século XXI.

— Camila... — ela me olha — eu quero saber como ele está. — ela faz uma expressão confusa.

— Lauren, sem querer te chatear, a julgar pela sua idade... Ele não deve estar mais... — eu a interrompo.

— Eu sei... Só que... Eu ainda me sinto ligada a ele. Eu quero saber o que aconteceu em sua vida depois que eu sumi. Talvez isso me permita... Seguir em frente também. — digo a olhando por cima do ombro, dizendo indiretamente o que queria dizer. Ela entendeu e respondeu com um sorriso.

— A gente descobre sobre ele, Lauren. Eu prometo. — ela pega em minha mão e eu entrelaço nossos dedos. Consigo sorrir de verdade pela primeira vez em dias. 

Viro a pagina outra vez querendo ver o resto do álbum, mas a próxima foto me quebrou outra vez. Era uma foto minha e de Taylor, estávamos sentadas no sofá de casa, apenas de mãos dadas, sem olhar uma para a outra; eu tinha um sorriso desconfortável, enquanto ela um olhar de criança que não queria estar ali. — Meus olhos se enchem de lagrimas novamente, mas dessa vez foi pior. Um turbilhão de emoções se passaram na minha mente e percebo finalmente que minha vida é uma mentira. Não tinha mais meus amigos ou minha família, e a única pessoa que ainda estava comigo havia morrido na minha frente.

Camila se deitou ao meu lado e me abraçou forte, acho que com medo de eu fazer algo ruim contra mim, e bem, ela estava certa. Eu não confiava em mim mesma quanto a essa dor, e tive sorte por ela ter me abraçado tão forte que não conseguia me mexer.

— Eu nunca peguei ela no colo... — solucei. — Nunca ensinei ela a se vestir, ou ouvi seus problemas com garotos.

Camila me olha e sinto algumas lagrimas escorrendo de seus olhos, mas não sei porque ela estava chorando, não era a vida dela que tinha acabado; ela ainda tinha família, amigos, ela sabia quem era e onde estava, eu nem ao menos sabia porque tinha tanto carinho com ela. 

Não importava o quanto me mexia para sair, ela não me deixava escapar de seus braços, e no fundo, acho que era isso o que eu precisava. Não alguém que me salvasse quando eu me machucasse, mas alguém que fazia de tudo para que eu não fizesse isso.

E então eu dormi.

----------------------------------------------------------------

Oi gente.

Eu sei que quase não tem notas finais nos meus capítulos, mas é porque eu nunca sei o que dizer kkk

Então, eu sei que a fic ta tomando um rumo meio triste, mas prometo que tudo vai melhorar <3

GENTE, MAS SÉRIO, COMENTEM MAIS :( Adoro saber o que vocês pensam dos capítulos.

Aliás... 1.200 view \o/ obrigada gente, sério.

Simpler TimesWhere stories live. Discover now