Um Longo Banho

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Miami, U.S.A. - 01 de Agosto de 2017 (23h31min)

Dinah

Camila nos deixa em casa e vai para seu apartamento. Nossa casa era pequena, havia só dois quartos, dois andares, um banheiro e uma sala não muito grande que era onde eu estava dormindo agora, pois Normani dormia no meu quarto.

— Finalmente! Eu preciso de um banho! — diz Ally já subindo a escada.

—Não acabe com toda a água quente!—suplico a sala.

Me sento no sofá junto com Normani, que parecia um pouco inquieta brincando com a barra do vestido. Ligo a TV e deixo Friends quebrar o silêncio descomunal da sala. Normani parecia ter vergonha de mim, sozinha quase não conversávamos, e quando tínhamos assunto ela mal me olhava nos olhos. Ela sempre diz ser uma garota ousada e extrovertida, mas eu percebia que ela ainda era uma garota tímida por dentro.

— Então, se divertiu hoje? — perguntei tentando quebrar o gelo.

— Ah, sim... Você é muito boa com os dedos —sinto meu rosto corando um pouco e a olho um pouco espantada, como você sabe? pensei — no concurso de escrever naquela... Maquina estranha.

Que susto!

—Ah, o concurso de digitação... É, eu fiz curso de informática, se aprende essas coisas. — respondo tentando disfarçar, mas parece que ela finalmente entende minha cara de antes e então engole seco.

Eu não sei explicar o que é isso, só sei que há uma certa tensão sexual entre nós duas, e eu sei que ela também acha isso, mas eu, assim como Camila, não sou garota para namorar, eu sou dessas que transa com alguém na boate e no dia seguinte se quer lembra quem foi, e eu não poderia fazer algo assim com uma garota como Normani. Ela diz que entende o estilo de vida "de uma noite só", mas sei que no fundo, assim como todas as garotas de sua época foram ensinadas, ela só queria alguém para estar ao lado dela.

E eu provavelmente não seria essa pessoa.

— A quanto tempo você conhece a Ally? — ela pergunta tentando puxar um assunto. Que graça.

— Desde o início da faculdade... Faz uns... Cinco anos e meio. — respondo — A gente começou a morar juntas no início do segundo ano, e acho que vamos acabar morando juntas até o final da residência ou até uma de nós ganhar dinheiro o suficiente pra morar sozinha. — dou uma risada.

—Vocês fazem faculdade de medicina, não é? Quem diria que um dia as mulheres iriam poder fazer faculdades assim.— ela diz, mas não como se isso fosse um problema ou algo difícil de acreditar, mas como algo de se orgulhar.

— O mundo mudou bastante desde que você nasceu. Mas até que você se deu bem, nasceu no final da era Eduardiana, nesse período as mulheres estavam começando a tomar rumo de suas próprias vidas e os negros já não eram tão descriminados quanto antes. 

— Sério? Porque eu vim em um corredor só com negros dentro do navio porque não queria que nos misturássemos com brancos — ela comenta sarcástica.

— Eu não disse que o racismo tinha acabado. Ele ainda existe, só não é mais tão público. — ela sorri quase que desapontada — mas então, senhora Minoria... Tem mais alguma coisa pra acrescentar a lista?

— Como assim? — ela pergunta confusa.

— Não sei, nasceu com uma terceira perna, consegue lamber o próprio cotovelo, é gay...? - Nossa, Dinah, como você é sutil, parece um elefante andando em um cristaleiro. — ... Ou talvez saiba mexer as orelhas — Não tenta disfarçar que você só ta piorando.

Simpler TimesWhere stories live. Discover now