Capítulo 28

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A contragosto, minha irmã esperou que os 40 dias de resguardo da cirurgia passassem. No 41° dia após o nascimento de Peter, ela foi até a igreja que minha avó frequenta e, juntas, as duas organizaram a apresentação do meu sobrinho no altar. Dali a uma semana, Peter seria também meu afilhado, meu e de Joseph.

— Você já ligou para o restaurante, Shaira? Preciso dos valores do buffet. – Zunduri estalou os dedos na minha frente.
— Zunduri, por favor. Eu estou cansada, trabalhei e fiquei em pé o dia inteiro, acabei de chegar da faculdade e tô cheia de coisa para fazer. Não me enche, hoje não. – Fiz uma massagem com a ponta dos dedos nas têmporas.
— Você acha que eu não estou cansada? Fiquei ouvindo o choro do bebê desde a madrugada, não preguei os olhos! Eu tenho muita coisa desse batizado para resolver e você nem sequer me ajuda! – Ela reclamou. – Esse apartamento está uma bagunça, cheio de louças para lavar, cadê a diarista?
— Ah, pelo amor de Deus, Zunduri! – Me levantei bastante impaciente. – Desde que nós nos mudamos para cá, na semana passada, você não lavou nem o garfo que utilizou para comer o jantar, quanto mais as outras coisas que estavam sujas. Não vem reclamar de arrumação de casa para mim, eu não tenho tempo para isso.
— E nem eu. Cuidar de casa não é para mim. – Ela reclamou e cruzou os braços.
— Não é? Ótimo. Em Lusaka você não fazia nada disso, sinta se a vontade para voltar para lá quando quiser. Não sei que ideia meu pai tinha quando ordenou que eu deixasse você morar aqui comigo. – Revirei os olhos. – Eu não precisava de um AP aqui na Europa.
— Então devolve! Se está tão ruim, bota para alugar. – Ela sorriu cínica.
— Vai se lascar, Zunduri. Se você não me ajudar e aprender que eu não estou sempre disponível para você, te coloco para fora desse apartamento sem pensar duas vezes!
— Vai deixar que Peter fique na rua? – Ela deu uma risada sarcástica.
— Peter é outra história, não tem culpa da sua falta de senso. – Suspirei alto. – Vou me deitar. Se quiser, o número do buffet está fixado na porta da geladeira.

Ela me olhou de soslaio e eu sai.

***

Coloquei uma roupa clara e sinalizei para Joseph que fôssemos, não podia me atrasar justamente para o batismo do meu sobrinho.
O trajeto entre meu apartamento é a igreja durou menos de dez minutos, quando chegamos lá, Zunduri estava com Peter no colo, tentando colocar de qualquer jeito uma chupeta na boca dele. Fui até ela e peguei o menino, que logo se acalmou.

A cerimônia foi breve e simples, Zunduri parecia feliz e até minha avó se emocionou um pouco. Meus pais não puderam vir, estavam resolvendo alguns assuntos na Zâmbia desde que decidiram se mudar para a Inglaterra também.

No almoço, Zunduri saiu de fininho logo depois que Peter dormiu, como se não quisesse ser notada por ninguém, mas ela demorou e nós sentimos a falta dela na comemoração restrita apenas à parte da família que estava aqui e a Joseph com os pais e a irmã. No fim da festa e depois da arrumação, fui conversar com ela.

— Zunduri, o que você está planejando? – Me sentei na cama ao seu lado.
— Deveria estar planejando alguma coisa? – Ela rebateu e levantou a sobrancelha.
— Creio que não... Você e Derek tem se falado?
— Já mandei fotos de Peter para ele e Simon. A mãe dele está muito ansiosa para conhecer o bebê. – Ela brincou com seus polegares e deixou um sorriso esboçado no rosto. – Mas eu não sei se vou voltar para a África tão cedo. Morar aqui na Europa ou na América vai ser melhor para mim, mudei de ideia sobre a faculdade e decidi que vou tentar. Peter não pode me impedir de tentar dar uma vida melhor para mim. – Ela deu uma pausa por longos segundos, mas prosseguiu. – E para ele também.
— Zun... Eu nunca peguei no seu pé, mas, você parece não gostar do seu filho... As pessoas já perceberam isso é você nem faz questão de esconder. Nos seus planos, você nunca inclui o bebê. Ele não tem culpa de sua irresponsabilidade. – Toquei suas mãos e ela recuou.
— Isso não é verdade. Claro que eu gosto do menino. – Ela sorriu de forma nervosa.
— Eu não teria tanta certeza, olha o jeito que você se refere a Peter. – Abaixei a cabeça mas senti que ela me olhava. – Ele é só uma criança, não entende nada ainda, Zunduri. Você deveria tratar melhor o seu filho.

Entrei no meu quarto e deixei que minha irmã pensasse sobre Peter e seu amor por ele.

Além da Cor - CompletoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora