Capítulo 21

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Eu poderia ter sofrido menos em antecipação, já que agora, sentada nessa cadeira de aeroporto, não tem mais nem uma única unha para ser roída. Me xinguei mentalmente por isso e olhei para minha avó ao meu lado.

— Pare com isso, Shaira! Vou te dar um dinheiro e você vai comprar um chá de camomila para você, vê se se acalma, garota. – Vovó apertou meu joelho.
— Ai, vó. Eu estou bem. – Ela me olhou com a cara feia. – Tá, talvez não tão bem assim. Estou com medo... – Suspirei.
— Você vai tratar todos eles com muita educação, está me ouvindo? – Ela soou bastante ameaçadora para mim.
Eu apenas concordei com a cabeça e me levantei para buscar o chá.
Tive folga do meu trabalho hoje, senhor Parker viu minha fustração e nervosismo essa semana. Troquei pedidos de clientes quase todos os dias, quebrei três xícaras e queimei um café. Eu consegui queimar o café.

Quando voltei à sala de desembarque, eu vi a família feliz indo em direção ao bando que minha avó estava. Minha mãe estava com um casaco bem grosso, já estava totalmente desacostumada com o clima da Europa. Zunduri vinha ao fundo, mas dava pra ver sua barriga proeminente na roupa. Estava muito grande. Meu pai parecia emburrado com toda a situação e eu sorri.

— Megan, que bom que você chegou, querida. Shaira deve estar voltando, foi até a lanchonete. – Minha avó ignorou a presença de Zunduri e meu pai.
— Oi, vovó. Como a senhora está? – Zun arqueou a sobrancelha.
— Zunduri. Estou muito bem, obrigada. – Ela lhe disse com desdém e virou para trás, ao me ver, um sorrisinho perverso tomou conta do seu rosto. Meus pais e minha irmã tiveram a mesma reação.
— Shai... Como você está? – meu pai me abraçou e eu não tive como me desvencilhar do gesto.
— Estou bem, papai, e vocês, como estão? – Forcei um sorriso e minha avó empurrou minhas costas na direção da minha mãe. Ela também me deu um abraço.
— Querida, você está linda. – Minha mãe sorriu. – Acho que podemos ir para casa, não acham? – Todos concordamos com um aceno de cabeça.

****

Zunduri sorria nervosamente para mim e eu me mantive impassível durante todo o trajeto aeroporto-casa. Ela resolveu quebrar o gelo quando já estávamos na casa de nossa avó, mais precisamente no meu quarto, que era onde ela ficaria.

— Soube que você está trabalhando com Joseph.
— Sim, você deu um jeito disso acontecer.
— É... Eu não vou mais estudar em Harvard. – Ela baixou os olhos para a barriga.
— Vai culpar quem? O bebê ou Derek? – Ela me olhou espantada. – Desculpe, Zunduri, é que, querendo ou não, ainda é difícil para mim. – Suspirei.
— Eu entendo, Shaira, mas por favor, vamos tentar agir como duas pessoas normais. Por favor.
— Sim, me desculpe. – Sorri e apertei sua mão.
— Você quer tocar minha barriga? – Zunduri indagou.
— Eu... Eu não sei se seria uma boa ideia. – Eu estava sem graça, não queria "tocar" no bebê.
— Vamos, por favor. – Ela colocou minha mão um pouco ao lado do seu umbigo.

Acho que depois da última gravidez da minha mãe, eu nunca mais havia tocado na barriga de ninguém. Eu não sabia como era a sensação.
Aquele bebê lá dentro se mexeu. Eu senti como se ele estivesse chutando minha mão, e gostei de sentir isso. Eu conversei com o bebê e ele parecia querer me responder. Minha irmã viu o quanto eu estava gostando, meus olhos estavam cheios d'água e eu sorria feito boba.

— Acho que o bebê gostou de você. – Ela disse enquanto me observava acariciando a barriga dela.
— Você não deu um nome a ele, Zunduri?
— Não... Shaira, eu estava pensando, você gostaria de escolher um nome para ele?
— Zunduri... Ele é seu filho, seu e de Derek, vocês que devem escolher. – Eu lhe disse seria.
— Eu quero que você seja madrinha dele. E quero que escolha o nome do bebê também, por favor aceite o pedido.

Pensei um pouco sobre isso, mas no fim, acabei cedendo:

— Tudo bem. Eu escolho. Quando o bebê nascer, eu penso em que nome mais se parece com ele e aí você registra. – Sorri.
— Derek queria que ele se chamasse Barry Zuc. Não gosto desse nome. – Ela riu.
— Nem eu. – Acompanhei na gargalhada.

Ela me olhou séria e abriu e fechou a boca pelo menos 3 vezes antes de falar.

— Shaira, algum dia você vai ser capaz de me perdoar por tudo que eu te fiz nesse ano? – Ela abaixou novamente o olhar para a barriga e em seguida para os pés.
— Eu já perdoei você, Zunduri. Eu não posso guardar rancor o resto da minha vida, não posso ficar doente por isso. – Sorri. – Estou tentando esquecer tudo que passou, daqui a um tempo eu vou poder olhar você sem me sentir magoada. É só questão de tempo.
— Obrigada, Shai. Eu errei muito, não vou poder voltar atrás e apagar todos esses erros, mas só de saber que vou ter o seu perdão já me sinto mais leve.
— Podemos mudar de assunto? – Dei um suspiro e já estava me sentindo desconfortável.
— Sim. Quando você vai me levar para conhecer Joseph? – Ela levantou as sobrancelhas.
— Outro dia, hoje ele está trabalhando e mais tarde temos que ir para a faculdade.
— Vocês estudam juntos?
— Não, ele estuda História Africana. Eu costumo pegar carona com ele, as vezes.
— Hum...

Zunduri me olhou e deixou seu último murmúrio solto no ar, bem reticente como se insinuasse coisas.

Além da Cor - CompletoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora