Capítulo 22

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Joseph Eliot Clark

Entrei em casa sem fazer barulho. Eu podia ouvir minha mãe dando pequenas fungadas e suspiros característicos de um choro.

— Mãe, a gente pode conversar? – Bati na porta de seu quarto.
— Agora não, Eliot. Eu estou cansada. –  E realmente estava. Sua voz parecia que tinha passado anos sem ser expressada.
— Não agora, não depois, não nunca. Mãe, eu vou entrar. – Me coloquei do lado de dentro do seu quarto e me sentei na cama ao seu lado.
— Você pode me deixar em paz, Joseph Eliot? – Ela parecia impaciente.
— Não, mãe. Não vou te deixar em paz nunca. Eu preciso falar com você e saber o motivo de ter escondido esse diagnóstico de mim. Pensei que estivéssemos nessa juntos!

Chorar sempre foi tabu para os homens, como se nós fossemos sempre monumentos fortes de pedra que nunca se abalam com nada, mas esse senso comum está mais que errado. Nós não precisamos ser fortes e indestrutíveis a todo momento, a gente é humano também, temos nossos sentimentos e somos sensíveis. Desde que descobrimos o diagnóstico de câncer na minha mãe, posso contar nos dedos quantas foram as noites em que eu não dormi chorando. É difícil você suportar uma barra dessas sozinho. É difícil ver uma vida se esvaindo pelos vãos dos seus dedos. Eu não posso fazer nada, e é por isso que minha mãe está morrendo.
Eu nunca fui religioso, sou mais que cético, por sinal, mas se acontecesse um milagre capaz de manter a vida da minha progenitora, eu passaria a acreditar totalmente em um ser superior a nós.

— Eu queria que você se desgastasse menos, filho... – Ela já estava com lágrimas nos seus olhos a essa altura, e eu também não estava diferente.
— Eu não me importaria de ter que me desdobrar em mais 20 Josephs só para te cuidar, mãe. Eu iria fazer o melhor só para que você se mantivesse bem e saudável. Por que você está entregando sua vida assim, de bandeja? Você cansou de lutar por você? – Cada palavra que saia da minha boca parecia desferir golpes dentro da minha mãe e dentro de mim.
— Joseph... Câncer não é uma escolha, você acha que se eu pudesse estaria sendo morta pelos meus próprios órgãos e sistemas? Filho, acorda! Eu continuar fazendo o tratamento ou não, jamais, eu repito, jamais iria fazer com que eu tivesse mais tempo de vida! Minha missão aqui nesse mundo está acabando; você pode não acreditar em Deus, mas se Ele me deu essa doença, é porque Ele tinha um propósito maior para a minha vida ao lado Dele! – Ela respirou fundo e continuou. – Por favor, não me aborreça mais com esse tipo de conversa. A decisão de ter parado a quimioterapia foi inteiramente minha, agi errado em não ter falado sobre a metástase com você e Katherine, mas não iria adiantar, isso não vai prolongar meu prazo. Me desculpe, Joseph. – Ela soluçava e sei choro estava alto.
— Por favor, mãe. Eu não quero te perder. Fica comigo aqui. – Eu estava chorando também, aquele choro de quando a gente é criança, bem escandaloso e doído, porque era assim que eu estava me sentindo. Doído por dentro. Machucado. Dilacerado.
— Eu não posso te prometer isso. Sinto muito, filho. – Sua voz saia quase como um sussurro de tão baixa.

Eu me deitei em seu colo e ela começou a acariciar meus cabelos loiros até que eu pegasse no sono devido ao cansaço físico e psicológico.

***

Raios de sol fracos atravessavam a cortina branca e refletiam na parede ao lado da cama. Levantei o corpo com dificuldade e busquei minha mãe por toda a extensão do quarto. Olhei no relógio, já passava das sete horas. Eu iria me atrasar para o trabalho.

Fui seduzido pelo cheiro de ovos e bacons fritos e fui até a cozinha. Minha mãe estava de costas para o fogão e mexia na frigideira.
Beijei sua careca branca e ela se virou para mim.

— Bom dia, Eliot. Como está? – Ela sorriu. Os olhos estavam inchados e com grandes olheiras.
— Bem... E você, mamãe? Parece cansada.
— Um pouco. A viagem não me fez bem e eu ainda não consegui recuperar totalmente dela.
— Você deveria dormir um pouco, não acha? – me sentei à mesa.
— Eu vou ligar para sua irmã, quero que ela passe o fim de semana junto comigo. Eu não sei quanto tempo mais eu terei por aqui. – Ela riu.
— Mãe...
— Não, não comece, Joseph Eliot. – Ela serviu meu prato e o seu, se sentando para comer logo em seguida.
— Desculpe. Eu acho que estou atrasado.
— Você se importa? Quero dizer, senhor Parker se importa? – Ela dava pequenas garfadas na sua comida.
— Eu posso falar com ele depois. – Dei de ombros.

***

Acabei entrando no Café sem dar muita importância de olhar para os lados, mas minha atenção foi chamada por um pigarro vindo de umas das mesas da parte externa. Quase não acreditei que a estava vendo.

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Vocês nem imaginam o quanto eu adoro quando manifestam o ódio por algum personagem 😂😂

Um recadinho sobre as atualizações:

Estamos na reta final da nossa história e eu pretendo terminar o livro antes da segunda quinzena do mês de março, então provavelmente os capítulos vão ser postados com uma certa frequência. Aguardem que tem muita coisa para acontecer ainda...

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Além da Cor - CompletoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora