Capítulo 27

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Ela já estava respirando por aparelhos, a cirurgia corria bem, mas o bebê não chorava. Eles ainda não haviam tirado meu sobrinho.

Entrei em desespero e minhas preces se tornaram ainda mais suplicantes, quando o gritinho estridente ecoou naquela sala.
A médica sorria com os olhos, com uma sensação de dever cumprido e toda sua equipe esboçava a mesma reação. Limparam o bebê e colocaram ele em meus braços.

Nunca pensei que iria sentir tanto amor ao ver alguém pela primeira vez, é uma sensação inimaginável... Ele ainda chorava e eu acariciei seu nariz idêntico ao de minha mãe. Quando ele se acalmou, alguns minutos depois, fixou seus olhinhos pretos em mim e pareceu se perder. Tão frágil. As enfermeiras logo o pegaram de volta e fizeram os procedimentos comuns em recém-nascidos.

***

Zunduri já estava no quarto e parecia muito cansada. Colocaram o menino ao seu lado, no berço em forma de uma pequena caixinha de vidro retangular. Ela chorava mais que o bebê.

— Mamãe, eles me cortaram. – As lágrimas percorriam todo seu rosto.
— Zunduri, pare de coisa. Foi para o bem do seu filho, você devia era agradecer e se sentir feliz pelo nascimento dessa criança. – Minha mãe ficou vermelha e esbravejou.
— Ele é muito perfeito... Se parece com a mamãe, Zunduri. Tem o mesmo nariz, mas a boca é muito parecida com a sua, bem redondinha e volumosa. – Sorri e, com a cabeça apoiada na caixinha que ele estava, acariciei sua bochecha com a ponta do dedo indicador. Ele fez uma caretinha fofa. – Acho que já tenho um nome para ele, Zun.
— Pode ser qualquer um, Shaira, ele só não pode ficar sem nome. Fale logo. – Ela disse friamente sem olhar para ele. Minha mãe se virou para ela e pareceu triste.
— Ele tem cara de... Peter, assim como nosso avô. – Sorri e ela me encarou esboçando muito desgosto. Mamãe sorriu emocionada, eu diria.
— Diga que papai pode registrar o menino. Peter Tutu Zummach.
— Não vai colocar o sobrenome de Derek? – Perguntei.
— Ele não merece ter esse gostinho. – Ela fechou os olhos e dormiu.

Meu celular tocou.

Parabéns, aniversariante do dia. – Reconheci a voz de Joseph. – Logo que saírem do hospital, vou fazer uma visita para você e o bebê. Como estão?
— Obrigada, Joseph. Estamos bem, Zunduri teve uma pequena complicação no parto mas deu tudo certo. Ela e meu sobrinho passam muito bem. – Sorri e puxei um cacho.
— Vou preparar alguma coisa para você e para o neném também, estarei na casa da senhora Zummach assim que vocês saírem do hospital.
— Vou esperar. Até mais, Joseph. – Sorri e desliguei o celular.

***

Após dois dias no hospital, era hora de voltar para casa. Zunduri entrou no carro com dificuldade devido à cirurgia e eu me sentei no banco de trás com Peter nos braços. Minha irmã não conseguiu amamentar, e, sinceramente, acho que nem fez questão, por isso meu pai estava comprando um leite especial para o bebê. Ele era um anjo, quase não chorava e dormia a maior parte do tempo.

Assim que entramos na casa de minha avó, Peter abriu os olhinhos como se fosse analisar a casa.

— Você chegou, meu amor! Aqui vai ser sua casa durante um tempo, você vai gostar daqui. – Sussurrei para ele, que desviou o olhar para mim e pareceu entender tudo.

Joseph estava sentado no sofá da sala de estar e, assim que nos viu, abriu um sorriso largo.

— Até parece que a mamãe aqui é você, Shai. – Ele sussurrou e beijou minha bochecha. – Deixa eu ver o meninão aqui. – Afastou com o indicador o pedaço da manta que cobria o rosto de Peter. – Que garoto lindo, parece a mãe. – Sorriu para Zunduri. – Parabéns, Zun, seu bebê é uma gracinha.
— Ele se chama Peter, Joseph. – Ela se sentou no sofá. – Shaira, você pode preparar a mamadeira dele, por favor? – Ela pediu impaciente. 


Entreguei o bebê para ela e adentrei na cozinha. Minha avó estava sentada com a mamadeira pronta a sua frente.

— Ele é parecido com o seu avô, só tem os olhos e a pele escuros. – Ela sorriu e apertou as mãos. – Obrigada por deixar a memória do meu marido viva, Shaira. – Ela se levantou e me deu um abraço, gesto que me deixou desnorteada por alguns segundos, mas logo retribui. – Leve a mamadeira para ele. – Sorriu.
— Obrigada, vovó.

***

Amamentei Peter e o coloquei para dormir. Joseph subiu e ficou observando meu jeito com o bebê.

— Acho que sua irmã não está muito feliz... – Ele baixou o tom da voz e se sentou na minha cama.
— É, realmente... – Me sentei ao seu lado.
— Talvez ela não esteja se sentindo pronta para essa tarefa, Derek a deixou sozinha. – Ele encostou nossos joelhos. – Shaira, eu não sabia o que você gostaria de ganhar, então... – Ele ficou levemente vermelho, puxou o ar e eu dei um risinho de lado. – ... Acho que a gente podia sair, tomar alguma coisa... Sei lá. – Ele acariciou meu joelho com o dedo.
— Claro. – Puxei um dos meus cachos. – Eu... Eu estou disponível a qualquer dia, podemos ir quando for melhor.
— É... – Me levantei e fiquei próxima da porta. – Eu ainda preciso voltar ao trabalho hoje, não virei "mamãe". – Ele riu e se levantou também.
— Amanhã a gente se vê, não vou na faculdade hoje. Acho que vou ficar babando mais um pouco. – Apontei para o berço com o queixo e ele sorriu, se aproximando.
— Até mais, mamãe. – Quando Joseph puxou minha cintura, Zunduri passou entre nós.
— Me desculpem, garotos, mas preciso me deitar, estou com dores. – Ela sorriu e entrou.

Acompanhei Joseph até a porta da frente e me sentei para resolver algumas questões para a faculdade.

Além da Cor - CompletoDär berättelser lever. Upptäck nu