Capitulo 52

2.5K 268 42
                                    


ANGEL

   Abri a porta do quarto do Ed e coloquei a cabeça lá dentro, encontrando o garoto deitado na cama enquanto roncava baixinho.

— Ed? — Como não respondeu, apertei seu ombro. — Você não tem aula de poesia? Vai se atrasar!

Ele grunhiu e puxou o cobertor de volta.

— Me deixe em paz!

Puxei o cobertor de novo e bati o travesseiro na cabeça dele. Edward se sentou, a cara amassada e o cabelo como um ninho de passarinho.

— Que saco! Resolveu pegar no meu pé?

— É muito irritante a maneira rude que tem falado com os outros, sabia?

— Então agora você entende como as pessoas se sentem quando elas falam você.

Eu me virei para encará-lo e coloquei a mão no quadril, verdadeiramente intrigada.

— Acha que essa postura revoltada me assusta? Você tem cinco minutos para ficar pronto.

— Não quero ir para aula hoje.

— Por quê?

Ed deu ombros e ficou me encarando com aquela cara de paisagem.

— Você ainda está chateado? É sobre Dorian?

— Não! — Bufou, ignorando o gosto inverossímil da própria voz. — Não me importo com ele.

— Claro.

— Por que eu tenho que me importar com quem não se importa comigo?

— Dorian se importa. Ele só precisa de tempo.

— Todo mundo só fica repetindo isso, mas ninguém diz o motivo. Tenho a sensação de que todos nessa casa estão me escondendo alguma coisa. — Não respondi. — Está vendo?

Sentei na beirada da cama, tentando achar as palavras certas. No fundo, eu me enxergava nele: a garotinha de dez anos vendo mudanças agrupadas, a ausência e o respetivo questionamento se a culpa de tudo tinha sido minha.

— Eu sei que dói quando uma pessoa que a gente gosta muito vai embora... — Descasquei o esmalte escuro da minha unha. — Mas sabe de uma coisa? Agir como você tem agido é um erro. Eu estive por muito tempo presa na raiva e isso só me fez mal.

— Só não entendo. A casa ficou sombria depois que Dorian sumiu. Ele é como um fantasma assombrando tudo, presente até mesmo na ausência... E não é só isso. A mamãe anda esquisita. Esquisita de verdade, Angel! Eu a vi chorando no banheiro até perder o ar e sei que alguma coisa está acontecendo. Parece até que ela se esqueceu como ser... a minha mãe.

— Não diga isso. Ela daria a vida por você. Você vai saber tudo na hora certa. Denise está passando por um período muito difícil e precisa de toda a compreensão. Principalmente da sua.

— Eu sei.

— Então eu espero que você mude de postura. Sei que o clima está pesado, porém você sempre pode me chamar se quiser conversar. — Ed ficou me encarando por um tempo, meio chocado. — O que foi?

— Você está falando sério?

— É claro que sim.

Quando eu estava prestes a sair pela porta, ele me chamou:

— Posso te perguntar uma coisa?

— Força.

— Você vai encontrar Dorian hoje?

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora