Capitulo 16

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Oh, era tão doce, era tão selvagem

• The Cure - Homesick

ANGEL

   A lojinha clássica bonitinha era ponto de encontro fantástico para os fãs de música, mas por trás daquele ambiente existiam tarefas e políticas bem severas para fazer tudo funcionar. Atender clientes, carregar caixas, repor produtos... Massive Records exigia trabalho pesado, porém o cheirinho de antiguidade me deu a certeza que seria um encanto trabalhar ali.

O primeiro dia foi o suficiente para notar que aquele lugar era movimentado por um fluxo de clientes do sexo feminino. Universitárias e adolescentes constantemente entravam na loja a procura de boa música, entretanto, a maioria delas usavam isso como pretexto. Elas não queriam discos, queriam o rapaz de cabelo cacheado atrás do balcão. Algumas flertavam mesmo, não se importando de deixar o número de telefone. Outras já se mostravam mais tímidas, dando sinais silenciosos de que adorariam receber convite para sair. Dorian, por que tão charmoso?

Jane ficou encarregada de me auxiliar sobre como tudo funcionava, embora precisou estalar os dedos na frente do meu rosto três vezes para focar nas funções, não no músico. Estava muito difícil esconder a atração...

E lá estava Dorian, apoiando na fileira de discos enquanto conversava com uma cliente animadinha. Sam e Jane conversavam, mas tudo o que eu fazia era observar a maneira como a garota tocava nele toda hora. Desnecessário?

Dorian sentiu meu olhar, pois olhou na minha direção. Sorri provocativa e acabei sendo surpreendida.

Ele sorriu de volta.

Um sorriso tão malicioso quanto o meu.

— O que está rolando entre você e Dorian? — Sam sussurrou ao meu lado. — Vocês estão se encarando como se compartilhassem um segredinho sujo.

O meu silêncio e cara de paisagem denunciou tudo. Ela abriu a boca num perfeito "O".

— Oh, céus! Você ficou com ele, não ficou?

— Pode ser que ele tenha me beijado... — Aproveitei o embalo. — Quatro vezes no carro e duas vezes em cima do balcão da cozinha.

Sam arregalou os olhos e riu.

— Eu sabia! Sabia que isso ia acontecer! A faísca que rolou entre vocês no clube não foi coisa da minha imaginação. — Sorriu orgulhosa de si mesma. — Mas diz aí. Ele é bom? Como ele é?

Beijei alguns caras, e sendo sincera, nenhum deles chegou perto do efeito que Dorian teve em mim. Sempre me considerei uma garota reservada, do tipo que só poderia transar se gostasse da pessoa com quem faria isso, levava tempo. No entanto, lá estava eu em cima do balcão com o músico encaixado entre as pernas. Nunca me senti tão solta, toda livre. Se ele não tivesse corrido como o diabo foge da cruz, eu teria sido dele bem ali, mesmo com o risco de sermos pegos.

— Foi legal.

Ficamos observando Dorian do outro lado. 

— Ah, se eu estivesse no seu lugar... — Sam suspirou com um ar sonhador. ­— Eu faria coisas más com ele!

   Gargalhei pela sua escolha de palavras e notei um cara alto acenando, segurando dois discos de vinil. Eu me aproximei.

— Oi, eu posso ajudar?

O rapaz passou a mão livre no cabelo ruivo e sorriu.

— Eu acho que sim. A minha amiga me indicou uma música da banda Cocteau Twins. Eu gostei tanto que vim até aqui comprar o disco. — Ele ergueu os dois Lps. — Estou na dúvida. Na sua opinião, qual é a melhor opção de introdução?

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora