Capitulo 21

7.8K 665 86
                                    

Sometimes you make me feel

Like I'm living at the edge of the world

• The Cure - Plainsong

ANGEL

 Entramos em casa silenciosos, como jovens problemáticos que fogem no meio da noite, retornando na ponta dos pés para não serem pegos, encontrando refúgio no quartinho onde tudo começou.

Senti o cheiro masculino, tão familiar, que emanava no ambiente. Não tive tempo de analisar a bagunça, pois ele tirou o violão da cama, colocou no chão e seu tímido olhar encontrou o meu.

Respirei fundo. A idealização mútua da primeira vez estava prestes a se transformar em realidade e a expectativa se tornou, esmagadoramente, assustadora. Eu seria dele.

Ele seria meu?

Dorian segurou meu rosto com ambas as mãos e me beijou. O gosto, a troca de olhares a cada intervalo, a maneira como tocava a pele dos meus quadris lentamente, despertando o desejo de ser sua garota para sempre...

Eu morreria mil vezes por dentro se ele dissesse que não poderia ser meu.

O quartinho se tornou, naquele momento, o nosso paraíso particular. Os beijos abafaram ruídos de necessidade, os toques despertaram o impulso desesperado de tirar as roupas. Meu pijama foi parar no chão, assim como a calça e a camisa dele...

Ele abriu o fecho do sutiã, lábios passeando pela curvatura do meu pescoço, e depois de deixar a peça de renda cair, observou meus seios, fascinado.

Paralisamos em simultâneo, completamente ligados por sentimentos maiores do que qualquer pensamento racional. Admirei o corpo nu masculino na sua forma mais erótica e ele se deleitou com as curvas femininas, trincando a mandíbula.

— Você é linda — sussurrou.

Acariciei o maxilar e subi a mão, saboreando o deslize suave de seu cabelo por entre meus dedos. Ele me conduziu até a cama em passos desajeitados, onde nos tornarmos um emaranhado sob os lençóis.

Suas mãos subiram mais, do meu quadril para os meus seios e Dorian se curvou, chupando. Oh. Eu me perguntei o que isso era para ele: se eu era apenas uma distração no verão, se tudo era apenas um jogo.

Desenhando as linhas do meu corpo com a ponta da língua e encontrando pontos fracos, ele me olhou através das pálpebras pesadas, implorando por permissão para explorar os ângulos mais obscenos...

— Tudo bem? — sussurrou rouco, puxando a calcinha por minhas coxas. — Você está tremendo...

— Eu só... — Ergui o quadril para facilitar o trabalho dele. — Eu quero muito isso.

Dorian colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e beijou a ponta do meu nariz.

— Eu também, amor.

Eu já estive intimamente com uma pessoa antes, contudo, não podia respirar fundo o suficiente para aplacar o nervosismo, as emoções entrando em erupção... Talvez porque era Dorian. Ele havia se tornado especial demais, rápido demais, profundo demais. Diferente de qualquer relação física e superficial que já tive antes.

Parecia até engraçado nos enxergar em retrospectiva: o susto da primeira noite na cidade ao encontrá-lo adormecido na cama e como ficou bravo por eu ter interrompido seu precioso sono. A bondade dele para me levar à Londres, as cantadas não correspondidas — ele não desistiu, o cafajeste. Nunca imaginei que seria enlaçada por suas investidas, gentileza e piadas sujas. Que depois dele, nunca mais seria a mesma.

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora