Capitulo 11

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ANGEL

    Dizer que a volta para casa fora estranha seria um eufemismo. A pele estava trêmula por todo o trajeto, os lábios inchados e o coração aceleravam toda vez que sentia o olhar dele sobre mim. Tentei me distrair com tudo o que podia trocando mensagens com Sam, jogava jogos que Edward havia instalado no meu celular, contando quantos carros passavam no sentido contrário. Qualquer coisa para não pensar no beijo. Aquele maldito beijo...

Aquele maldito beijo...

Dorian também parecia estranho. Falava o necessário e agia como se qualquer coisa na estrada fosse mais interessante do que eu. Idiota, a ideia da provocação tinha sido dele!

— Hum... — murmurou assim que estacionou na frente da casa do Robert. — Te vejo depois...

— Não vai entrar?

— Não, eu tenho coisas para fazer.

Isso era tão esquisito. A gente estava se dando bem, mas depois do beijo, mal conseguíamos olhar um para o outro.

— Tudo bem — sussurrei.

— Tudo bem. — Ele batucou os dedos no volante.

O barulho daquilo teria me deixado irritada, porém naquela altura parecia uma boa distração. Dorian continuou o gesto bobo até que, finalmente, se virou para mim.

— Olha, eu sei que... — Falamos ao mesmo tempo e depois paramos. — Fala você primeiro — repetimos de novo.

Olhamos um para o outro e rimos. Como se as coisas já não estivessem estranhas o suficiente, ainda tínhamos que falar em conjunto?

— Eu acho que isso não deveria ter acontecido, Dorian.

— É! Foi estranho. Não deveria ter acontecido. — Deu de ombros. — Quero dizer... Foi até divertido provocar o cara, mas eu não deveria ter te beijado de verdade.

— Ah, tudo bem. Fui eu que te beijei primeiro então...

— Sim, foi...

Dorian sorriu convencido e eu olhei feio para ele.

— E você assumiu o controle logo depois!

— Não estou negando nada. — Ele ergueu os braços, achando a minha reação engraçada. — Certo, não deveria ter acontecido.

— Exatamente, foi um erro. Não precisamos desse clima todo estranho.

— Estranho... — Franziu o cenho.

— Quero dizer... Eu sei que você queria ajudar, mas foi um erro.

— Eu sei, Angel. Você já disse isso.

— Eu disse?

— Sim, mencionou "erro" duas vezes.

— Por que foi um! — insisti.

— Exatamente.

Ele olhou para fora da janela com um olhar vazio. E se eu o conhecesse bem, diria até irritado.

   — Vou entrar.

— Claro.

— Certo.

— Ótimo.

Fiquei parada, sem saber o que fazer. Eu deveria simplesmente abrir a porta e sair, mas meu corpo não parecia funcionar. Por um lado queria agradecer por ter sido tão atencioso, pelo outro não me mexi de tanta vergonha.

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora