Capitulo 59

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Ah, Dorian, continua
Você virá até o fim?
Você vai nos deixar continuar?
Dorian, você vai nos seguir?

- Agnes Obel - Dorian

*

  ANGEL

 As folhas caíam das árvores, criando um magnífico tapete no solo da cidade, colorindo de vermelho, laranja e marrom.

A banda montou estúdio na cabana de Cookie para gravar o álbum. Tudo o que eu tinha de Dorian Leduc eram ligações, às vezes mensagens engraçadas que me fariam rir feito doida no meio da rua.

"Você precisa ver o tamanho do nariz do engenheiro de som. Um tobogã de mosquito."

"Apertei um tubo de pasta de dentes no nariz do Will. Ele ficou tão passado, a sério. Agora não durmo direito com medo de ele fazer o mesmo comigo."

"O Cokie acabou de sair do banheiro com um pedaço de papel higiênico grudado no sapato e saiu para comprar lanche. Não contei a ele."

Quando me ligou outro dia no intervalo do teste do teatro da Academia de Artes, pediu para falar com Dylan, o rapaz com quem fiz amizade, e disse: "Olá, Dylan! Estou feliz que vocês se tornaram amigos. Ansioso para conhecer você. A toque com segundas intenções e eu mostrarei como se enfia a própria cabeça na bunda". O pobrezinho ficou pálido.

Foi uma semana intensa trabalhando com personagens e improvisação. Dylan era soberbo. Sua atuação era hipnotizante, selvagem, drástica, intensa. Todo mundo falava sobre ele.

O diretor do departamento de interpretação, Edgar, possuía postura severa. Pessoas eram cortadas e meu coração saía pela boca todas as vezes que ele olhava para mim, como se fosse me dispensar. Era assustador, nauseante.

E agora estávamos ali, perdidos no meio de estranhos à espera da resposta final. As minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam e a garota mastigando um chiclete do meu lado estava me irritando. Se eu não conseguisse a vaga, teria que fazer faculdade de outra coisa, como Robert queria...

— Céus, Angel! Acalme esses nervos. — Dylan segurou o meu joelho para impedir de mexer.

Respirei fundo, transferindo o tique-nervoso para os meus dedos batucando os joelhos.

— Como pode estar tão calmo? — Olhei para ele, perplexa. — Eu quero muito isso...

— Não adianta se torturar desse jeito, Angie.

— Quando você vai parar de me chamar assim?

Ele riu, divertido com a minha irritação. Dylan passou dias me chamando de Angie, jurando que combinava mais comigo. Era irritante porque todo mundo naquela sala começou a me chamar assim também, como se esse realmente fosse, de fato, o meu nome.

— Você vai conseguir. — Ele tirou uma mecha loira da frente dos olhos. — Você é boa, eles seriam tolos se não verem isso.

— Pecinhas de teatro na escolinha juvenil não conta.

— Você pode não ter feito uma peça de nome, um filme ou qualquer outra coisa que alguns deles aqui já fizeram. Mas eu sei o que eu vi nesses testes. — Abri a boca para argumentar, mas ele continuou. — Acredite em mim, seu nome vai estar naquela lista.

— Se você diz...

— Quer apostar?

Eu ri.

— Aposta?

— Se você passar como eu acho que vai, terá que tomar um café comigo.

Ele corou, então eu entendi. Dylan sempre se mostrou muito tímido, exceto no palco. Mas isso não o impedia de tentar a sorte. Dorian e eu não estávamos namorando, porque eu ainda precisava de tempo, porém seria estranho?

— Como amigos, certo?

— Como amigos, Angie. Não quero saber como é ter a cabeça enfiada na bunda.

Gargalhei.

A porta abriu. Edgar saiu, segurando um pedaço de papel. As conversas e alvoroços acabaram e todos saltaram de seus lugares. Meu coração acelerou de novo... Acho que vou vomitar, pensei.

— Todos trabalharam duro, e isso realmente é gratificante. Mas só os que tiverem nesta lista entraram para Academia Albert Art. Então, parabéns aos que ficaram e boa sorte para os que vão para casa, vocês podem tentar ano que vem.

Ele acenou e colocou o papel na porta, desaparecendo por trás dela em seguida. Dylan e eu trocamos um ligeiro olhar antes de avançarmos no meio do tumulto.

— Ai Deus do céu, é meu nome ali? — Arfei.

— Eu disse que você ia passar!

Nunca fui de demonstrações de afetos, mas beijei a bochecha dele. Um beijo forte e estalado, deixando o coitado atordoado.

— Bem... — Enfiou as mãos dentro dos bolsos, vermelho. — Eu disse que você foi ótima.

— Vamos estudar juntos.

Ele sorriu de lado.

— Acho que você me deve um café, Angie.

                      ** ♥ **

1994 - A canção Memória oculta LIVRO 1 (Privilegiados)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora